segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Alimenta a alma e queima calorias


Josh Rouse levou seu pop-folk para o público molhado do MADA




Com calotas danificadas e um déficit na conta bancária, o retorno a Belém me devolveu, mais uma vez, a alma tranqüila que se apodera do corpo após uma estrada, praias, shows de rock, caipirinhas com limão do Pará e risadas embriagadas – não sou dos mais bucólicos, mas no Nordeste me jogo de cabeça. Pelo terceiro ano consecutivo me mando para Natal para acompanhar de perto o festival que se tornou uma das maiores vitrines para a nova música brasileira e que, pessoalmente, é um caso de estudo para quem organiza um festival também. O MADA (Música Alimento da Alma) comemorou 10 anos de existência e se tornou, em todo o nordeste, o evento que consegue reunir a massa para esperar seus ídolos de FM e conhecer o melhor da nova MPB, do novo rock e do futuro da música pop. Jomardo, organizador do festival, é um cara que sabe das coisas.


Curumin e o rock brazuca pra gringa pagar o pau

Sábado passado, terceiro dia do Mada, estava ao lado do palco assistindo ao show do Josh Rouse, a atração americana do festival e o artista que mais queria ver. Antes, porém, no show da Mallu Magalhães, fiquei impressionado com a qualidade do show da guria e sua banda e, para não perder o encanto do momento, fui com minha bróder de trabalho e de viagem, Luly Mendonça, para o backstage tomar mais caipirinhas com limão do Pará e bater papo com a moçada. No outro palco rolava o show dos pernambucanos do Cordel do Fogo Encantado, atração que fizemos questão de perder.


Mallu Magalhães fez o show mais emocionante da noite de sábado


O guitarrista da Mallu me parecia familiar, mas nem busquei saber de onde era porque conheço guitarristas de várias bandas e ele poderia ser mais um. Voltando lá pra cima do primeiro parágrafo, estava no show do Josh Rouse achando a apresentação acima das minhas (já elevadas) expectativas, quando o guitarrista da Mallu chega e fala: “Meu, nós não estudamos juntos em Santos?”. Pois é, era o Kadu Abecassis, o cara que, assim como eu, alimentava a fama de esquisitão na faculdade e me cumprimentava com acenos de cabeça por saber que éramos água do mesmo balde. Ele namorava uma jovem da minha turma e ele era “meu bicho”. Kadu era conhecido na faculdade por ser um grande músico e tomou a sábia decisão de largar o jornalismo e se dedicar à música. Tocando com Mallu desde que ela começou a aparecer, ele disse que se um dia isso tudo acabar, jamais voltará à faculdade de jornalismo e se dedicará à carreira de engenheiro de som. Deus dá asas a quem sabe voar sim, e dá o jornalismo a quem não sabe mais fazer porra nenhuma na vida.

Mallu me encantou mais uma vez. Meu primeiro contato com a mocinha foi aqui, no Bananada 2008, e tinha achado a apresentação bem razoável por conta do esquema voz-violão-gaita. Mas no último sábado, no Mada, a guria já demonstrou uma intimidade maior com o palco, segurança nas suas músicas e ousou um número incrível de duelo entre sua gaita e a guitarra de Kadu. A inocência de suas palavras e gestos mais uma vez tomou de assalto os distraídos e apunhalou certeiro o coração dos fãs. Foi, sem dúvida, o show mais belo da noite ao lado de Josh Rouse. E estou falando de uma noite que ainda teve, entre outros, Seu Jorge, Montage e Cordel do Fogo Encantado.

Mesmo com o bolso furado, deu para dar umas bandas, tomar uns tragos, dirigir no ar-condicionado e comer peixe frito na praia pagando de prêi. Fui com pouca grana e voltei devendo, a bem da verdade. Mas não há crise que uma estrada não solucione. E nos três dias de Mada, durante a maratona de quase 30 shows, vi que o brilho do festival não estava nas bandas independentes, mas as headliners e as semi-headliners.


Lunares, de Natal, foi, para mim, a maior surpresa do festival




Atrasado e sem tempo, não pude postar antes devido a total falta de tempo com a proximidade do III Festival Se Rasgum. Estou cada vez mais com menos tempo de atualizar isso aqui, mas vou tentar manter o rítmo.




Publico abaixo a matéria que mandei para o jornal Liberal, mas que não foi publicada - acredito que por poroblema de espaço:




Diversidade musical nos palcos do Mada


Festival Mada, em Natal, completa 10 anos com celebração à música pop e de olho no promissor mercado independente.


Se a música é o alimento da alma, a diversidade de estilos é o prato mais requisitado do cardápio. Na última semana, de 14 a 16 de agosto, em Natal, o Festival Mada (Música Alimento Da Alma) colocou em seus dois palcos bandas de várias regiões do País apostando na música acima dos rótulos. O festival reforçou a contemporaneidade da nova música brasileira, que vai desde o indie rock em inglês ao samba-funk, passando pelo folk e se esbaldando no pop.

Com visitas dos hermanos uruguaios da banda Motosierra e do folk pop norte-americano de Josh Rouse, o festival recebeu atrações de públicos tão díspares que poderia se dizer que a curadoria atirou para todos os lados, mas o evento é apenas um reflexo do que música brasileira respira. Com o profissionalismo cada vez mais evidente, a recifense Sweet Fanny Adams dividiu um dos dois palcos da Arena Imirá com grupos absolutamente diferentes, como o reggae do Rastafeelings, o hardcore do Brand New Hate, o hard rock crossover do Motosierra e o panfletarismo sonoro de classe média de O Rappa. A atração principal, que tem como porta voz Marcelo Falcão, foi o responsável por cerca de seis mil pessoas que chegou cedo ao local e, de lambuja, assistiu às apostas do festival.

Na platéia imperava a fusão de tribos. Durante a apresentação explosiva do Motosierra, cenas como a da menina com calça jeans e top apertados, salto alto e estilo patricinha (que evidentemente esperava Falcão e sua turma) forjava passos roqueiros para fazer o namorado rir. Pode ser que após a seqüência de hits do Rappa, ela volte para casa e jamais lembre dos uruguaios do Motosierra que, por sua vez, se esforçou para fazer seu melhor show e saber que atingiu a alguns desavisados ali.

A máxima de que toda banda consagrada já passou pelo underground e de que toda banda underground sempre quis ser consagrada é a regra do Mada. Infelizmente, na décima edição, quando todos esperavam uma escalação realmente matadora, a música independente brasileira não foi bem representada na mão dos gaúchos, baianos, mineiros e cariocas, mas apareceu como uma bela surpresa nas locais Lunares e Rosa de Pedra. E o produto do underground se confirmou nas outras atrações principais do sábado, como os Autoramas assumindo pela primeira vez o papel de quase um head line, Curumin driblando problemas com o som e revertendo a vibe negativa, além de Pato Fu e Lobão que estamparam a independência musical bem sucedida.

No sábado, entre os dinossauros – que foram a carta na manga do Mada – estava mais uma vez o fenômeno Mallu Magalhães, que entrou no palco só, apresentou a banda e fez um dos melhores shows do festival com seu banjo, gaita e violão. Ela fez o festival esquecer que, no mesmo dia, ainda tocariam nomes como Seu Jorge e Cordel do Fogo Encantado, mas com certeza abriu os olhos (e ouvidos) do público para a atração americana que ainda estava por vir: Josh Rouse, que fez o público dançar na chuva. Com um sorriso no rosto a banda imperou em cima do público que comprou Mallu Magalhães, que o abraçou ao final da apresentação dando ao visitante gringo uma fã importante.

Por mais que músicos e fãs do mesmo estilo tenham se encontrado nos 10 anos de Mada, a impressão que ficou foi de que o festival consegue agregar um valor inestimável ao novo cenário da música brasileira, fugindo dos princípios de excluir bandas consagradas e colocando no mesmo cenário a velha e a nova música brasileira.

Um comentário:

Raphael disse...

Teu Palio encarou a trip? Mas quando que tenho coragem de me meter nessas estradas... só fico na inveja.