domingo, 7 de setembro de 2008

Com o motor ligado

Fui dormir pensando em Cláudia. Lembrei do dia em que completei 30 anos e paguei pelo acesso definitivo para a vida adulta. “Você não precisa saber quantos anos eu tenho. Isso não vai fazer nenhuma diferença”, ela disse vestindo o jeans por cima da calcinha fio-dental e deixando a bunda à mostra por alguns segundos generosos. Ficou de costas para mim e disse “pode beijar se quiser. É uma despedida”. Cláudia me fez ver que o amor comprado pode sair barato e se transformar num bilhete premiado.

O motor estava ligado e eu não sabia para onde ir. A maior merda da liberdade é não saber o que fazer com ela. Então recorri ao passado depois que vi uma loira com um vestido horroroso no supermercado. Ela sentou na mesa em frente e me olhou fixo, me fazendo crer que era Cláudia quem me assistia ali. Devia ter pegado o telefone, mas não, resolvi me apegar a uma foto da bunda sedosa e bem desenhada, dessas que faria o criador do Photoshop meter uma bala no coco de raiva por ver que sua criação não reproduz poesia.

Perdido e sem saber para onde ir, mas certo de onde não posso voltar. Essa merda de tom confessional de blog é o que estraga a literatura. É nessas horas tenho que pagar de Deus e traçar um enredo de um conto que, momentaneamente, me transportaria para a vida que gostaria de ter. Ser escritor deve ser maior do que ser pai. Tudo bem, egoísmo tem limite, eu sei, mas qual?

O fato é que agora durmo pouco, sonho muito e realizo médio. E essa tensão me causou uma puta no pescoço. Fiz uma escolha: todo ano vou esperar o mês de setembro passar rápido. No próximo ano, se tudo der certo, vou deixar tudo para cima da hora mais uma vez.

E numa outra próxima vez, sem erro, vou anotar a caixa-postal de Cláudia.

5 comentários:

Iuri Fernandes disse...

Cara, tens como me mandar o flyer do festival?
=]

lorenagoretti disse...

gostei do texto.
engraçado como depois de um causo triste é o blog que tem que pagar o pato de postar nosso texto.
já desisti de lutar contra isso.
o meu virou blog de menina já. de vez em quanto ele retoma as forças e volta a ser gente. mas isso até o próximo causo deprimente.

abs.

Circo Golondrina disse...

Ja tava no fim do texto, na parte do "anotar a caixa postal" e podia jurar que lia "anotar a placa" como quem fala de um carro, caminhao. Acho q ia fazer sentido do mesmo jeito nao e?

Alexandre Avelar disse...

Puxa cara, gostei mto do texto! parabéns, e até logo. Alexandre (Mini Box Lunar - www.miniboxlunar.blogspot.com)

Tereza Maciel disse...

Marcelo, tenho tido teu blog como quem tem um jornal jogado na porta às 7 da matina. Engraçado como textos nos entregam muito mais que conversas no msn.

Essa semana criei um novo blog e espero ter visitas tuas, cara.

www.terezatacomfome.blogspot.com

beijo