domingo, 29 de junho de 2008

Maldito Verano de Dyos


Dia 5 de julho a Dançum Se Rasgum Produciones volta com a festa Maldito Verano de Dyos, com a banda Os Velocípedes, DJs Se Rasgum e Pneumáticas, com muito rock ‘n’ roll




Enquanto o fluxo nos provadores das lojas de departamento continua intenso, no entra e sai de clientes experimentando sungas e biquínis para o verão, a Dançum Se Rasgum Produciones traz o já experimentado e aprovado rock ‘n’ roll para suas vidas verânicas. O sol vai queimar a pele na praia, mas na pista do Café com Arte vai ferver na festa Maldito Verano de Dyos, que traz pela primeira vez o show da banda Os Velocípedes; powerpop de primeira, que reúne ex-integrantes das bandas Eletrola e Hebe e Os Amargos. No dia 5 de julho, primeiro sábado do mês, prepare-se para uma noite de molecagem de verão.

Se a moçada de casa estiver viajando e você ficar de saco cheio daquela comida congelada e de ver a cara do entregador de pizza, chama o cara e segue direto para o Café com Arte para cair na pista ao som de muito indie rock, clássicos 60 e 70, hits dos anos 80, além de garage, ska e muita baixaria.


PROMOÇÃO
Essa é para a casa cair: até meia-noite, o ingresso de 10 dinheiros dá direito a uma cerveja e uma caipirinha. Entendeu? Vou repetir em caixa alta: *ATÉ MEIA-NOITE UM INGRESSO DÁ DIREITO A UMA CAIPIRINHA E UMA CERVEJA.

*Desculpe o exagero.


SERVIÇO
Dia 5 de julho (sábado), a festa Maldito Verano de Dyos, no Café com Arte (travessa Rui Barbosa, 1432) com show da banda Os Velocípedes. Pista principal com os DJs Se Rasgum; Porão com Pneumática. Ingressos a 10 dinheiros (até meia-noit
e dando direito a uma cerveja e uma caipirinha). Depois de meia-noite o ingresso passa a ser 15 dinheiros (e sem brinde. Não seja besta de chegar depois de meia-noite).

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Rê, um cara legal

Ontem bateu a liga de procurar um texto do Reinaldo Moraes na internet e me deparei com o blog dele. Pra mim foi uma novidade, já que fazia tanto tempo que havia lido uma matéria na Folha de S. Paulo sobre o projeto Amores Expressos, que até esqueci quem fazia parte dele.

Para quem tem preguiça de clicar no link do site, eu resumo do que se trata. É simplesmente uma iniciativa genial entre a Companhia das Letras, RT/Features e Academia de Filmes de enviar escritores brasileiros para várias capitais espalhadas pelo mundo com a doce missão de escrever um romance sobre uma história de amor. Vários nomes bacanas de diversas gerações estão por lá, como Daniel Galera e João Paulo Cuenca - representando a moçada mais nova, e o Sergio Sant’Anna e Reinaldo Moraes, que são os das antigas.




Foto roubada do blog do cara. Vai lá reclamar.


O Reinaldo Moraes, aliás, é um dos autores mais divertidos de toda essa moçada. Tem uma narrativa tão solta, que alguma vezes dá vontade de abrir uma latinha de Skol e acender um Marlboro, dando a impressão de estar em um bar ouvindo um cara legal contar um “causo” interessante. O estilo dele é tão engraçado quanto o percurso que ele fez pela literatura. No final dos anos 70, Reinaldo foi a Paris patrocinado por uma bolsa de estudos para escrever uma tese sócio-econômica, mas lá resolveu mandar tudo pro inferno e mergulhar na boêmia parisiense. O detalhe é que ele escancara a aventura no seu primeiro romance, chamado Tanto Faz. Depois mantém a saga estradeira na volta para o Brasil, onde desviou para Nova York e pariu outro livro: Abacaxi. O primeiro foi publicado em 1980 e o segundo em 1984. Daí o maluco virou roteirista de novela e, com toda certeza, constatou ter feito uma bela escolha ao abandonar a bolsa de economia para se dedicar à escrita.

O título do texto é referente ao conto Pepê, um cara legal, do livro O Herói Devolvido, de Marcelo Mirisola, que foi quem me falou do Reinaldo Moraes pela primeira vez, quando o entrevistei em Santos, em 2001.

O link do blog que ele mantinha está relacionado ao lado. Chega lá para sacar a aventura que ele passou na Cidade do México.

domingo, 22 de junho de 2008

A musa do espelho ao lado

As pessoas tentam nos colocar pra baixo
Só porque estamos por todos lados
As coisas que eles fazem parecem terrivelmente frias
Espero morrer antes de ficar velho

Falo da minha geração, essa é a minha geração, baby.

(My GenerationThe Who)



Ela decidiu que a beleza não seria sua carta de apresentação, então se debruçou sobre best-sellers, discos do Chico, decorou rótulos de vinhos e decidiu que por trás daquele rosto, peitos e abdômen perfeito, existia uma mulher de conteúdo. Boa parte desse gosto veio da herança de um namorado antigo, mais velho e disposto a moldá-la. Depois, mais experiente e vivida, criou o perfil ideal para abalar a moçada de sua geração – por mais que alguns livros ela tenha abandonado na metade e tenha relido umas duas vezes “aquela metáfora” do Chico.

No Orkut era das mais acessadas. Na faculdade, entrava no grupo de trabalho dos nerds. Nas festas, ficava de olho nos garotos de cabelos arrepiados. A musa reinou em outros meios, que jamais ficariam indiferentes à sua beleza. Ela, no entanto, nunca deixou de ir à academia ao cair da tarde, onde mirava a futilidade e o culto estético das loirinhas de piercing no umbigo (que faziam nossa musa se envergonhar do seu).

Ela costuma namorar cara de banda. Geralmente são bonitões, de estilo cuidadosamente despojado, com corpo sarado e uma banda horrorosa por trás para sustentar o sonho de empunhar uma guitarra. O talento falta onde a beleza impera, mas o estilo “alternativo” não vem acompanhado de más intenções. De tanto forçar a barra, teve uma vez que um Orson Welles realmente caiu bem ao casal, e eles se surpreenderam de ter gostado tanto do filme.

A grande merda para ela foi ter que acabar o namoro com o cara que tinha um perfil muito semelhante. Quem vou achar agora numa cidade como essa? Daí teve uma hora que resolveu deixar esse estilo “alternativo” de lado, deu um trato de luzes nos cabelos, meteu o vermelho nas unhas e encarou uma fila enorme na frente daquela boate badalada. Lá, até dançou umas músicas que já tinha esquecido de odiar. Bebeu, se pegou, deu, se arrependeu, ligou, ele não atendeu e ela se fudeu.

A um passo de encontrar Jesus, ela resolveu ir com calma e pensar melhor sobre aquilo, foi quando decidiu mudar de cidade e encarar uma pós lá fora. Agora é só esperar o raio cair no mesmo lugar, e mandar um “alternativo” rico cruzar o seu caminho.

Não se oprima de achar que estou escrevendo para você, minha querida. Parafraseando o Pete Townshend lá de cima: “Eu não estou tentando causar uma grande sensação. Só estou falando sobre a minha geração”.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Novas cartas marajoaras


Não lembro exatamente quem, mas nesses últimos dias de epopéia em busca de porra nenhuma, alguém me falou algo sobre a “depressão pós-viagem”. Concordei na hora para não criar a antipatia de uma discussão fajuta, mas tentei lembrar quando foi que senti isso ao chegar em casa.

Viagens de um mês – acompanhado de outra pessoa - sempre me fazem querer voltar para contar novidades, dar um tempo do parceiro(a) e se debruçar em copos com os amigos para despejar novidades. Mas agora, depois de dois meses e meio só, a impressão que me deu foi de não ter mais casa. Vontade de me transportar de dentro do carro na Doca de Souza Franco para a Rambla de La República Argentina, trocando o gelo do ar-condicionado pelo gelo do vidro aberto.

Legal é ver a família, os amigos e o sobrinho doidão que já fala tudo. Tem novos cinemas na cidade, isso anima também. Mas agora voltei desempregado e sem namorada. O baque é outro, mas amortecido pelo conforto de um lar que não parece mais meu e no desabafo que saiu de tudo isso chamado Iracundo (depois eu falo mais disso). De qualquer forma, já descobri minha válvula de escape para a realidade sufocante: a estrada.

De qualquer forma, curti esse lance de ter blog. Vou manter o Cartas Uruguaias e pedir pro Doda (autor do layout) mudar o texto que apresenta o site. O nome, criado para dar notícias dos meus dias uruguaios, também é uma homenagem ao conto Novas cartas paraguaias, de Marçal Aquino, do livro O amor e outros objetos pontiagudos.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Mama i’m coming home



Pernas cansadas. Memória carregada a ponto de um back up. Lembranças boas e poucas lágrimas derramadas. Me dei a moral de virar adulto. Espanhol exercitado em função do “se vira nos 30”. Agora volto para casa para encarar a quarta década de uma vida marcada pelo impulso calculado. Esse sou: o mochileiro amamãezado. Chutei para cima o que não poderia ficar como estava, e os arrependimentos desceram na mesma leva, com a descarga de emoções antigas, amores vencidos, estresse tira-barba e sonhos que me deixavam para trás.

Comemorei os 30 anos longe de casa, vivendo a realidade de uma estrada cheia de amigos e experiências que desceram a goela na velocidade de uma talagada de tequila; arrematando 10 anos em três meses, ao som das rápidas palhetadas do Brasileirinho, mixando com o tico-tico cá e o tchá-tchá-tchá de lá.

Apesar de estar esquecendo a sensação de ter uma casa, cada parada dos últimos meses foi uma injeção para encarar a nova vida. Sentindo na pele a confusão cultural brasileira, comparando as regras com o exterior e relativizando a realidade através da vida dos outros, reposicionei meu olhar sobre a vida. Somos produto do meio, é verdade, e isso não se muda com revolução. Ixi, já estou me fazendo de difícil. Peraí, vou retomar a linha no próximo parágrafo.

Mamãe, não espere o mesmo cara de sempre. No taxi que me conduzia para o nono e último embarque dos últimos meses, o gaúcho do volante soltou: “É preciso se permitir algumas coisas assim na vida, depois a gente fica com filhos, casado e, quando percebe, viu que a vida se tornou uma mera passagem.”. Tô floreando o discurso do cara para enriquecer a história, mas ele foi apenas mais um dos que vi reclamando por nunca ter dando chance aos impulsos e a vontade de viver a vida sem os pudores impostos pelas obrigações diárias. Temos contas a pagar, mas temos um mundo pra viver, e se nada for feito, a vida vai passar por você feito um guardanapo que cai na cozinha sem estrondo.

Não seja rico, seja vivo.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Placa na Cueca

Tem blog novo na parada. Eu, Doda, Tylon e Rafael Guedes vamos falar sobre o amor, o sexo frágil e a arte de ser homem-cabra-macho-muito-foda no Placa Na Cueca. Meu primeiro post é sobre minha musa de inspiração solitária Vivi Fernandez.

Meninas, não é um site machista. Pelo o amor de Deus, longe da gente fazer uma coisa dessas. Mas eum blog de homenagem e amor ao sexo frágil.

A dor de perder dois cowboys do Tennesee

Não choro, meu segredo é que sou um rapaz esforçado.
Fico parado, calado, quieto. Não corro, não choro, não converso.
Massacro meu medo, mascaro minha dor, já sei sofrer.
Não preciso de gente que me oriente.

(Jards MacaléMal secreto)



“Aqui estou mais um dia, sob o olhar cuidadoso das guria, você não sabe como é Macapá, mas fica deslumbrado quando vem pra cá...” pra Montevidéu. Sacou a referência aos “mano” do Racionais? Pois cá estou novamente, após um ímpeto meteórico em que decidi aproveitar a passagem que já tinha e ficar uns quatro dias aqui. O plano A era ficar em Porto Alegre aproveitando a conexão e apenas a bagagem de mão, mas não consegui despachar o resto da bagulhada, e sairia mais barato usar essa grana aqui.

Incrível a sensação de voltar pra casa. Parece que o cagaço que senti da primeira vez virou pura euforia de rever uma terra querida. Hotel velhaco no centro, novas pernadas pelos mesmos lugares de sempre e a inspiração injetada na veia para concluir o inacabado. O melhor de tudo foi o taxi pegar a orla desde Punta Gorda até Pocitos.

Saí de Sampa às 20h de terça. Parei em Porto Alegre e me meti num taxi para encontrar o amigo Bernadelli na Cidade Baixa, junto à sua namorada Ana e mais a tropinha de paraenses que arriscam suas vidas nos pampas: Thiago He-Man, João, Laércio e Hélio. O tempo foi só o de dar umas risadas, quebrar um copo, tomar uns dois litros de Polar, quase queimar o casaco de uma loira e pegar o taxi de volta para o Salgado Filho. Refleti sobre a brincadeira e vi que o cinqüentão dos taxis não estavam no orçamento. Animado pelo Free Shop do vôo internacional, meti dois litrões de Jack Daniels e um Toblerone na sacola, dando exatos 60 dólares.

O dia que antecedeu este momento foi de puro cansaço. Ônibus, taxi e avião, onde eu encostava dormia. No avião não foi diferente. Meti a bolsa que me acompanhava junto com a sacola do Free Shop no compartimento superior e relaxei no banco daquele vôo vazio. Preguei legal. Daí teve o desembarque e toda aquela agonia com o frio fudido que fazia na capital uruguaia. E foi bem na hora de passar pela alfândega que me lembrei: “Caralho, deixei a sacola com os whiskies no avião!”. Deu o mesmo desespero de esquecer um filho. Alarmei a moçada e uma funcionária da Gol, do Aeroporto de Carrasco, disse que não me preocupasse e que fosse pegar minhas malas que ela “passaria um rádio” (manja essa expressão?) e eles recuperariam minha sacola. Porra nenhuma. A galera uruguaia ficou sem jeito de me explicar que eu havia dançado nas compras e que, possivelmente, a sacola devia ter sido levada por um dos passageiros. Mas é claro que minha maior suspeita recai sobre os comissários brasileiros do avião. Se fosse uma sacola pessoal, com coisas minhas, é claro que ela apareceria. Enfim, só me resta torcer para que um deles tenha um coma alcoólico com meus whiskies.

Não tenho tempo a perder, acho que o próximo post será de Porto Alegre.

Hasta luego, carajo!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Lançamento do Festival Se Rasgum 2008





À brasileira, a Dançum Se Rasgum Produciones faz o lançamento oficial do festival com a banda Eddie (PE) e os projetos Charque Side Of The Moon (PA) e Farra na Casa Alheia (CE)


Na contagem regressiva para um dos grandes festivais de música independente do Brasil, a Dançum Se Rasgum Produciones realiza, no sábado 14, o lançamento oficial do Festival Se Rasgum 2008, que acontece em setembro na capital paraense. A festa, que inaugura um calendário de eventos e seletivas com as bandas paraenses, traz direto de Olinda (PE) a banda Eddie, cria do movimento mangue beat sintetizada nos versos de "Quando a maré encher". Uma noite que apresenta ao público, pela primeira vez.



"Charque Side Of The Moon", projeto de Félix e Fabrício, do La Pupuña, para o clássico "The Dark Side Of The Moon". Na essência, Pink Floyd em ritmos paraenses. Os DJs do projeto Farra na Casa Alheia, de Fortaleza, completam e embaralham ainda mais o caldeirão cultural da festa, que acontece no Açaí Biruta.



A partir do lançamento, a Dançum Se Rasgum dá início aos eventos relacionados ao festival, que em seu terceiro ano trabalha com dois diferenciais. De cara, deixa de ser Se Rasgum "no Rock", ampliando o espaço para bandas da cena independente em geral, cujas referências passem também por outros gêneros. Gênero libertário e permeável por excelência, o rock, é claro, se mantém vivo na essência do festival.



E, numa proposta inovadora no cenário dos festivais independentes brasileiros, traz à tona o tema da Pirataria, contextualizando-o através de mesas de debates e palestras. Um espaço para geração de novos pensamentos em direito autoral, com vozes locais e nacionais, na busca de uma reflexão sobre as implicações culturais, econômicas e sociais das diferentes formas de pirataria, sem levantar bandeira.



MANGUE



Formada por Fábio Trummer (guitarra e voz), Urêa (percussão e voz), Andret (trompetes, teclados e samplers), Kiko (bateria), Rob (baixo) e a presença especial de Erasto Vasconcelos, a banda Eddie toca pela primeira vez em Belém, trazendo músicas de seus três CDs autorais - "Sonic Mambo" (Roadrunner, 1998), "Original Olinda Style" (independente, 2002) e "Metropolitano" (independente, 2006). Com turnês pela Europa em 2005, 2006 e 2007, a banda encerra em Belém uma tour de dois meses no Brasil. "Em julho começamos outra tour. Vai para Pernambuco e depois se estende até outubro, passando por várias regiões aqui no Brasil", explica o vocalista Fábio Trummer. O músico chega dia 11 em Belém, com o intuito de conhecer a cidade e sua diversidade cultural.



CHARQUE



Um dos maiores discos da história do rock, "The Dark Side Of the Moon", do Pink Floyd, recebe uma nova interpretação à base da guitarrada paraense, com o carinhoso título de Charque Side of the Moon. Luiz Félix, guitarrista e vocalista da banda La Pupuña, resolveu dar à obra o seu olhar particular sobre o disco de 1973. Para chegar ao formato final, o músico trabalhou durante 45 dias trancafiado no estúdio do parceiro Fabrício Jomar, co-autor da obra.



O disco contou com participações de nomes como Sammliz (Madame Saatan) em "Money"; Pio Lobato e Guilherme (Cravo Carbono) em "On The Run" e Gaby Amarantos (Tecnoshow) em "The Great Gig In The Sky". O trabalho reúne também músicos de outros segmentos como Mestre Vieira (Mestres da Guitarrada) e o grupo de carimbó Os Baioaras, que coloca uma percussão pesada em Time.



FARRA



Projeto dos DJs Marquinhos & Guga de Castro, Farra na Casa Alheia difunde os diversos gêneros musicais produzidos no Brasil, incluindo a mais recente safra de artistas brasileiros, como DJ Dolores, Marcelo D2, entre outros. Faz ainda incursões em estilos musicais como o jazz, a black music (soul, disco, funk), o afro-beat e a música cubana, completando o rico repertório do projeto.



Serviço:


Lançamento do Festival Se Rasgum 2008. Dia 14 de junho, sábado, a partir das 22 horas, no Açaí Biruta. Ingressos antecipados: Ná Figueredo e Sandpiper (Iguatemi) a R$ 10. Shows de Eddie (PE), Charque Side Of The Moon (PA) e DJs do projeto Farra na Casa Alheia (CE). Realização: Dançum Se Rasgum Produciones. Apoio: Ná Figueredo, Di Casa, Sandpiper, Libra Design, Hatobá Restaurante, Digital Produções, Eti Mariqueti.

domingo, 8 de junho de 2008

A grosseria nossa de cada dia

Álcool transpirando pelos poros, mau humor reinando na alma e o cenário irritante da nação indie mineira concentrada numa bela tarde de sábado para o festival Outro Rock, que reuniu seis bandas mineiras por dia. Se a ressaca e a visão da afetação fashion já atrapalhavam, o técnico de som da housemix do evento também não contribuiu para uma guinada nos acontecimentos. O equipamento era bom, mas a falta de tato prejudicou a apresentação das cinco bandas que consegui assistir. Tênis, a primeira banda da tarde, já estava pré-destinada a ser detestável pelo nome horroroso. Me fez imaginar o que se passa pela cabeça de um ser humano que dá o nome da sua banda de Tênis. Indie até o caroço, a banda mete um inglês medonho e a falta de presença de palco me fez ter a impressão de estar diante de uma das piores apresentações que já vi. Depois entrou o Islama, banda de uma moçada mais velha ainda na década de 80. Devo admitir que o baixo tinha um pesão que me agradava e o cover de Lips like sugar, do Echo & The Bunnymen, caiu muito bem. A próxima foi uma das maiores recomendações de todos, o Dead Lovers Twisted Heart, mas que também se deu mal pelo som falho. Gostaria de ouvir de novo, apesar da música não trazer novidade alguma.

A quarta banda já era uma das minhas favoritas de Belo Horizonte, o Ímpar. Uma das verdadeiras bandas de powerpop brasileiras. Mesmo que o som estivesse precário, a banda mostrou um entrosamento fantástico e foi, de longe, a melhor apresentação daquela noite. Daí veio a Carolina Diz, que a primeira música não permitiu que prolongasse minhas boas intenções. Tocava ainda a Monno, banda que já galgou alguns degraus de privilégios no mundo dos independentes. Enfim, fica pra próxima.

Na volta para o hotel, Laís, minha anfitriã mineira que havia agüentado a companhia ranzinza durante a tarde toda, tendeu não continuar na balada pela jornada noite adentro. As opções eram o show de Wander Wildner, na casa Velvet Club, e a discotecagem do Gabriel Thomaz, do Autoramas, na Obra. Isso até ver um cartaz anunciando para aquela noite a apresentação da Banda das Velhas Virgens, o que de imediato se tornou a melhor opção (após uma merecida descansada) e uma das experiências mais bizarras de toda essa minha jornada estradeira.


Do indie ao grotesco

No elevador do hotel, dois integrantes da equipe das Velhas Virgens entraram confirmando o presságio de que havíamos feito a escolha certa. Trocamos umas idéias sobre horário de shows e rumamos para o tal do Bar Brasil. O local era um galpão enorme que parecia abrigar noitadas de pagode e shows extravagantes. Apesar do som bom e da capacidade de abrigar mais de 3 mil pessoas, o local tinha uma estrutura terrível. Por azar, ainda chegamos a tempo de ver a segunda banda das três que se apresentariam naquela noite. Na porta, vagabundos bangers de cheiro ruim e visual cafona, calibrados com buchudinhas. O cenário já era bem melhor do que a afetação indie da tarde de sábado na praça Floriano Peixoto. Na entrada a fila para comprar cerveja já assustava, mas não teria jeito. Entramos na fila e de lá deu para escutar o show da banda que se apresentou antes das Velhas Virgens. Não tava ruim, mas a fila e o local já tinham levado o bom humor embora.

Após 40 minutos de fila, já se aproximando do caixa que conflitava a passagem entre os banheiros e a entrada do público, previ uma golfada incrível. Ao lado de Laís, um cara com camisa do Linkin Park (bem no estilo Jeremias), se curvou e colocou a mão na boca, mas não pôde evitar o vômito que inundaria os sapatos de minha amiga. A puxei para o outro lado a tempo de evitar a tragédia. De resto foi só andar em cima do vômito com risco de tomar um tombo e se desesperar com os quase-conflitos do gargarejo da fila. Duas latonas de Skol para agüentar o show das Velhas Virgens. Uma hora de 20 minutos na fila, que ainda me deu de presente o flagra de um casal que não se preocupava com a fila os assistindo e deram um dos maiores malhos que meus olhos já puderam ver. Mão na bunda sem pudor, assim como a ajeitada no pau duro depois do “quebra”. Só assim para agüentar o martírio da fila e se preparar para o show mais cruel que já assisti, onde entrou até Baudeleire entrou na onda com ode à bebedeira.

Paulão entra no palco após sua banda meter um número instrumental que prepara sua entrada triunfal de pirata que, logo na segunda música , se dá um banho de cerveja e solta pérolas do slogan de sexo, rock e cerveja. Uma pequena confusão com o guitarrista da banda quase coloca o show por água abaixo. “Em 22 anos de Velhas Virgens, nunca houve uma confusão. Será que BH quer entrar nessa estatística? Quer brigar vai pro pagode, caralho!”, proferiu o showman Paulão, um dos band-leaders mais geniais que já conheci. Sacana, beberrão e teatral, o show das Velhas Virgens se mantém na estrada ganhando honestamente seu dinheiro sem precisar de majors e MTV. E foi dessa forma que Paulão brandou no palco: “A melhor coisa de ser independente é conseguir estar na estrada tocando e poder mandar a MTV tomar no cu. Ei, MTV, vai tomar no cu!”. Um novo ídolo nascia ali, sob meus olhos e ouvidos vidrados no humor e clima roqueiro que a banda propunha. “A gente freqüenta o bar da moda, atura axé e pagode, mas é só para comer alguém”. A verdade sob todas as circunstâncias. Daí mandaram o clássico como “Siririca baby”, onde Paulão convocou a mulherada a pegar na rôla ao lado. O legal era a ausência de constrangimento do público, em que posso apostar que algumas rôlas realmente foram agarradas. A japinha Lili, que faz parte do grupo, é um presente para o público masculino, que venerava a oriental de roupas curtas que fazia seus números no maior desembaraço. Paulão, no entanto, tem entre suas maiores virtudes deixar o público inteiro na palma de sua mão – tudo o que Beto Bruno sonha em ser.

No banheiro, a cena grotesca de mijo e vômito transbordando o mictório e privadas e a galera cheirando na maior naturalidade completou o cenário devastador de um show das Velhas Virgens. Pensei ainda em seguir para A Obra e conferir a discotecagem de Gabriel, mas meu estômago já não era mais o mesmo.

Se Rasgum invade A Obra

Minha simpatia pelo estado de Minas Gerais vem desde criança e as aulas de história do Brasil, que era uma das poucas matérias do colégio que poupava o nascimento de novos cabelos brancos na cabeça de minha mãe. Terra de escritores como Luiz Ruffato, Mário Prata, Fernando Sabino e Luiz Vilela, que figuram na minha lista de favoritos, assim como das bandas Pato Fu, Skank, Virnalise e o fenômeno mundial Sepultura enlaçam meu afeto pelos(as) mineiros(as).

A melhor lembrança que tive foi da noite de sexta-feira, na festa Se Rasgum invade A Obra, no bar do bróder Claudão, no bairro de Savassi.

A Obra – O melhor exemplo de uma festa com público bacana e sem preconceitos. Conheci o “bar dançante” logo na quinta-feira, a convite da anfitriã Camila, onde as atrações da noite eram as bandas de powerpop (estilo que adoro e que meus amigos dizem que inventei) Radiotape (de BH) e Grandprix (do Rio), que fizeram suas apresentações bem intencionadas. Grandprix eu já conhecia de MP3, mas o show acabou ficando marcado mais pelos covers do que as composições próprias. A versão puxa-saquista de Janela Lateral¸de Beto Guedes, foi uma das mais criativas que já ouvi, mas a obviedade tomou conta do show com Portishead e Smiths. Mas enfim, foda-se, não vou ficar fazendo resenha de zine. A Obra é um lugar inacreditável, desde o atendimento à diversidade de cervejas. Um porão com capacidade para pouco mais de 200 pessoas bem estruturado de iluminação e um som de primeira.

Na minha noite, sexta-feira, dividi as picapes com o DJ local Seu Muniz, o Marcão, cabra gente boníssima que manda bem e sabe fazer o público entrar na dele. A descrição de meu set apontava guitarradas, ska, latinos e baixarias, mas achei que aquilo poderia mais afastar do que chamar público, então fiz meu primeiro set com rockão, de Happy Mondays a Tom Bloch, revezando entre novidades e velharias pops do New Order, The Cure, Cake e outros hits infalíveis que costumam chamar a moçada pra pista. Deu certo, a galera animou. Na segunda parte, mais destemido devido ao whisky e as cervejas especiais, ousei mais um pouco metendo o que o cardápio prometia, como guitarrada, ska, mash ups de technobrega do DJ Konsiderado, música latina e funk. Moçada não estranhou tanto quanto eu pensei, mas quase que rola o efeito DJ Moisés (piada interna e foda-se). Intercalado com o set de Seu Muniz, que mandava muito bem em versões feitas sob medida pra pista de dança, terminei a discotecagem colocando música brasileira que continuou deixando a mulherada animada na pista. Enfim, deu certo. Tive a impressão do público ter sido menor do que nas outras sextas, mas a casa estava com gente o suficiente para uma festa com ótimo clima.

Com mais de 10 anos de existência e já dando bons frutos (como o anexo O Bar), A Obra me reacendeu a vontade de ter uma casa própria em Belém.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Amores e cafés expressos

Um expresso duplo, um baguete francês de rosbife e mostarda e todo o tempo do mundo. Me dei as horas da tarde agradável daquele almoço tardio em Belo Horizonte para me entregar à leitura de Garcia Marques e suas putas tristes.

Ele, de cabelos cacheados, olhos claros e estilo modernoso e jovial entrou acompanhado dela, de olhos azuis, cabelão comprido e uma estatura de chamar a atenção e típica da mulher mineira.

No livro, a cada sentença mais terna que a anterior, Garcia Marques narrava em primeira pessoa a história de um velho jornalista de 90 anos que resolve se dar de presente de aniversário uma ninfeta de 15 anos. O Nobel de Literatura na minha mão ficou dividido entre suas linhas, que causam envergonha a quem pretende ser escritor, e a conversa do casal ao lado que, diferente de mim, havia pedido apenas um suco de abacaxi como pedágio para ocupar aquela mesa do suntuoso estabelecimento.

“Ele disse que eu era a mulher da vida dele, mas eu não sei se isso é verdade. A gente se separou, mas eu fiquei confusa”, explicava a jovem. Ele ouvia tudo resplandecido de uma paciência de alguém que ainda cozinharia aquela carne até níveis avassaladores de uma paixão. O leitura corria magnífica, mas a conversa ao lado era real, então levantei bem a antena e pude perceber que o rapaz havia viajado para o exterior e, antes de ir, a moça não pôde ter o que parecia estar pré-determinado a acontecer por ainda estar namorando. Não sei se foi bem isso, mas preferi confiar na nobreza dela que, num momento em que virei para ver a cena, flagrei seus olhos brilhando e mirando de perto os olhos dele. Aquilo eram olhos apaixonados que eu, você e ele sabemos muito como são. Os olhos imploravam por um beijo, que ficou no ar e foi trocado por um abraço – que ela pediu. Ou ele era viado ou muito disputado ou não entendi direito a história do namoro. Mas posso apostar que a essa hora ela está com o coração ensebado de paixão.

Garcia Marques, no entanto, ainda está rumando para o final onde, a cada página, descubro que a maturidade e a estrada na literatura é um progresso inesgotável e que só um bom observador pode chegar a esse nível. Meu papel de espião está sendo cumprindo à risca. Tome cuidado para não demonstrar muitas emoções ao meu lado.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Pelo amor meia-boca

Quantas oportunidades as pessoas perdem esperando o amor perfeito? Quantos fluídos deixam de trocar? Quantas conversas leves pós-coito deixam de existir? E quantos cigarros apaziguadores deixam de ser apagados (e acesos)? Tudo na eterna, ilusória e irrequieta busca pelo amor perfeito. O segredo para a felicidade é se apegar a um amor meia-boca.

Mandar flores, levar café na cama e ligar só pra dizer “eu te amo” viraram artifícios demodês e que, convenhamos, já não tem mais tanta graça em fazer e receber – igual boquete de camisinha. Casar cedo é suicídio, mas deixar pra mais tarde significa um acumulo de regras que fazem o “amor perfeito” parecer algo ainda mais inalcançável. “Ele é alto demais”, “ela mora longe”, “ele não abre a porta”, “é incapaz de pagar uma conta inteira”, “tem um pau muito grande”, “ela tem estria”, “ele não me liga sempre”. Cada vez mais os pequenos detalhes se tornam um caminho para a solidão.

Tenho escutado constantemente lamúrias que cantam ausências e caprichos que tornam a felicidade a dois uma estrada longa e tortuosa. É claro que a referência de um primeiro amor, perdido no passado, impede que as coisas aconteçam naturalmente, mas a magia não se repete. Aí é que as coisas tombam para o lado errado e, quando você perceber, está só, cuidando de quatro cachorros, três gatos e derramando lágrimas quando vê uma criança brincando com os pais em uma praça.

Se o beijo na boca não desencadear um coração acelerado como aquela lá de trás, se a calcinha não molhar de primeira, se a cueca voltar com poucas placas pra casa, se o hálito precisava de um hortelã, se o filme foi uma merda ou se a espinha na testa quebrou o encanto, relaxe e dê uma segunda chance ao amor meia-boca. Se apegue a quem lhe faça gozar e converse sobre um filme interessante. Isso já está de bom tamanho. De repente, você um belo dia ganha uma cerveja ou um sonho de valsa e isso, sim, pode ser um gesto de amor.

terça-feira, 3 de junho de 2008

O último vagão do trem bão

Estou em Congonhas esperando o vôo para Belo Horizonte. Fui duas vezes por lá, mas nunca consegui aproveitar direito o que a cidade tem a oferecer: noite boa, comida, cachaça e mulherada de primeira.

Minha missão é animar a moçadinha serelepo da boate A Obra como DJ. Toco na sexta-feira no que será minha primeira experiência em uma pista fora de casa. No case de CDs tô levando mais de 300 discos, entre rock 'n' roll clássico, ska, latinos, guitarrada, música paraense, nacionais, MBP, surf music, black music e mais aquelas paradas indies, shoegazers, Madchesters etc.

Bão, se alguém de BH lê essa joça aqui, apareça sexta-feira lá na Obra.


A estrada é longa e cansativa, mas o percurso é fenomenal. Dá vontade de voltar para casa, mas não sei, é melhor não me esperar pra jantar.

*The ambition is low



Mais de 25 anos para esclarecer a morte de um dos maiores mitos do rock moderno. Control, do diretor Anton Corbijn entrega ao público um filme bonito e honesto, não só para fãs do Joy Division como para quem gosta de uma boa história de cinema. O filme não tem o papel de justificar o suicídio de Ian, mas contar a história do ponto de vista de uma das maiores vítimas da tragédia, a viúva Deborah Curtis, que escreveu o livro Touching from a distance. A morte de Ian Curtis, na véspera da turnê de sua banda partir para uma turnê nos Estados Unidos, imortalizou suas músicas e tornou sua morte prematura um acontecimento único, criando fãs devotos que ainda carregam a tristeza e as letras altamente pessoais e desabafadoras como um amuleto cult para a incompreensão (será que eu fui claro?).

A película em preto e branco traz uma fotografia bela (especialidade de Corbijn) e ajuda a tornar a adaptação do livro de Deborah ainda mais veemente. Desde que Ian Curtis resolveu se enforcar na sala de sua casa, várias versões foram contadas, mas sem resultar em qualquer conclusão, afinal, como compreender a decisão de um suicida?

Diferente de A festa nunca termina (24 Hours Party People), que narra o nascimento da cena de Manchester sob a ótica do dono da Factory Records e da boate Hacienda, o jornalista Tomy Wilson, Control mostra Ian Curtis como um jovem comum, fã de David Bowie e Lou Reed, apaixonado pela sua primeira namorada – com quem casou muito cedo e teve uma filha, peidando de nervosismo antes do primeiro show, se divertindo com seus parceiros de banda e dividido entre o amor por sua esposa e pela fã belga Annik Honoré. Seu despreparo para cantar seus desabafos mais íntimos e atender aos anseios dos fãs foi o que levou o músico embora (veja bem, isso também não é uma conclusão generalizada). Seus parceiros de banda ficaram em apuros, mas superaram logo em seguida a morte de seu líder com o sucesso do New Order.

Lembro de ter escutado Joy Division aos 16 anos e achar o som algo extremamente tosco mas ao mesmo tempo inovador e atormentado. Me perguntava como um cara de 23 anos poderia se matar e jogar fora uma vida inteira pela frente. Após 14 anos como fã, as respostas parecem ter chegado com o iluminado Control.

Curtis tinha um talento inegável para letras boas, verdadeiras poesias que casavam com o som reto e inaugurador de uma categoria que seus amigos de banda produziram – o baixo de Peter Hook é um dos mais peculiares da história do rock. Control traz como sua carta na manga a contextualização de suas composições com os momentos complicados que Ian Curtis passava. Está tudo lá: a descoberta de sua epilepsia com She’s lost control; a vontade de ficar em paz sem o amor de Debbie e Annik em Isolation; a chamada para a morte em Dead Souls; a revelação de que não amava mais sua esposa com Love Will tear us apart. Cansei de dançar essa música em festas, agora não sei mais se conseguirei. Agora, que venha a explicação sobre Kurt Cobain.



* O texto foi escrito originalmente para minha coluna no site do Ná Figueredo: checa aqui.