terça-feira, 9 de março de 2010

O que aconteceu?


Quanto mais eu penso que ninguém lê o Cartas Uruguaias, mais recebo janelinhas piscando no MSN ou Gtalk perguntando "o que foi que aconteceu com o teu blog?". E aí eu resumo em tópicos:

  • Passei oito dias no Recife, cobrindo o execelente Festival Rec Beat 2010. Acho que já falei disso aqui, né? Nem parei pra ler os posts antigos. Mas o fato é que passei quatro dias assistindo a uma programação de shows incríveis de uma curadoria impecável e certeira. Gutie está de parabéns, ainda mais porque chamou as competentes molotovianas Aninha e Tathi para a produção e assessoria de imprensa. O texto sai na edição da revista Billboard deste mês. Mas vou colar aqui meu texto na íntegra:
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    Rec Beat e seus 15 anos de folia

    “O carnaval é uma festa repleta de sensações e o Rec Beat contribui para passar mais sensações como a emoção e a surpresa. Sempre faço minha programação pensando no estado de espírito das pessoas durante o carnaval”. Partindo dessa constatação é que Antônio Gutierrez, o Gutie, traça a programação de um dos festivais mais importantes do Brasil, apostando na diversidade musical, novas tendências e shows que atraem para o Cais da Alfândega todo tipo de folião, do mais atento aos que querem pular e se divertir. Nas noites de 13 a 16 de fevereiro, em pleno carnaval de Recife, o festival Rec Beat comemorou 15 anos de pluralidade, colocando no mesmo palco ritmos como cumbia, hip hop, tecnobrega, blues, MPB, dub, rock, coco, surf music e muito experimentalismo.

    Só em um festival que prega tanto a diversidade – o termo mais utilizado e bem aceito dos últimos tempos – é que se pode ver cerca de 30 mil pessoas se divertindo com Gabi Amarantos e a banda Tecnoshow ensinando passos de dança e fazendo o público cantar junto, mesmo que o teclado com a programação do show tenha queimado na passagem de som. Gabi levou o show numa espécie de improviso, ganhando o público cada vez mais, fazendo com que se escutasse o sotaque pernambucano saudando-a com um coro de “diva, diva, diva!”. Mesclou brega e carimbó, cantou música do grupo pernambucano Zé Cafofinho, fez piada, falou do Pará, levantou bandeira e vestiu a personagem recentemente que lhe empregaram de “Beyoncé paraense”. O público olhava com um sorriso no rosto, onde o que mais se estampava era a alegria. E isso é carnaval.

    Basta um passeio pelas ruas do Recife Antigo para respirar o clima carnavalesco de uma das cidades mais disputadas nessa época do ano. Com 16 palcos espalhados por Recife – isso sem contar os do interior e da vizinha Olinda – é impossível acompanhar tudo e se programar para ver todos os shows. O público que escolhe o Rec Beat é heterogêneo, mas acima de tudo sabe que é ali que aparecem shows desconhecidos e interessantes, fusão de estilos e novidade. Foi assim que tudo começou, há 15 anos, em Olinda. “A idéia inicial era fazer um palco para mostrar a nova musica pernambucana, mas nunca quis ser excludente, nunca foi um festival para os que não gostavam do carnaval, era mais uma alternativa”, explica Gutie.

    E a aposta nas bandas pernambucanas foi sob medida. Radiestae, que apesar de ter enfrentado problemas com o gerador, mostrou uma surf music tradicional e bem ensaiada. Zé Manoel passeou com desenvoltura pela MPB em uma voz suave e afinadíssima. A banda de Joseph Tourton é o reflexo da juventude antenada de Recife, com cinco integrantes muito jovens (o mais velho tem 20 anos) e fazendo um post-rock maduro e envolvente. Volver teve o fã clube mais impressionante do festival, que em um raio de 200 metros do palco 80% das pessoas cantavam suas músicas com devoção. A Diversitrônica trouxe um som moderno, com um baixo puxado por influências de Peter Hook, do New Order, e punch eletrônico feito por uma espécie de dream team recifense. E claro que em um festival que começou levantando a bandeira da música pernambucana não poderia faltar o coco de Adiel Luna e Coco Camará, que abriu para o Mestre Galo Preto, uma das maiores entidades do coco pernambucano. Na saída do backstage, Mestre Galo Preto era saudado pelo público como ídolo, destaque que lhe é de direito.

    O espírito carnavalesco que impera no Rec Beat está tanto no público quanto no backstage, com a equipe de produção que incrementa o visual com adereços carnavalescos, como em vários artistas que não perdem a oportunidade de se apresentar com fantasias. Foi assim com o encerramento do combinado Original Olinda Style, na última noite do festival, em que as bandas pernambucanas Eddie e Orquestra Contemporânea de Olinda tocaram músicas dos dois grupos com seus integrantes devidamente fantasiados.

    Os finais apoteóticos não ficaram apenas na última noite. Logo no primeiro dia, a banda colombiana Puerto Candelária, que trazia uma mistura de cumbia e jazz com baixo, teclado, sax, trompete e set híbrido de percussão e bateria, fez o segundo melhor encerramento dos quatro dias – o primeiro foi da “diva” paraense. Dos shows de encerramento, Céu foi quem resolveu fazer um show mais calmo e voltado para seus (suas?) fãs. Em uma mistura de dub com MPB, a cantora acabou desacelerando após o show da banda espanhola Ojos de Brujos, que fez o show mais frenético do festival em uma misturada bem equilibrada de rumba, flamenco, ragga, pop e hip hop. E no universo das rimas rápidas e soltas, o mineiro Renegado foi o primeiro a colocar o público para pular, na primeira noite, com um rap que foge dos clichês do rap tradicional. Acompanhado de uma banda bem ensaiada, o rapper teve uma bela camada de groove para destilar apelos sociais, entendidos a cada sílaba proferida. Renegado é um rapper que fez o público do Rec Beat abraçar o amigo ao lado e celebrar a amizade, mostrando que nem todo “mano” precisa ser raivoso.

    O Rec Beat 2010 também trouxe ao palco as novas apostas do “novo indie brasileiro”, como Lucas Santana, Stella Campos e Cidadão Instigado. Era quando se aproximava o público de óculos grandes, franjas pelos olhos e camisetas coloridas, que cantavam todas as músicas dos novos artistas brasileiros. Mas dentro do caldeirão de apostas e de bandas novas que fixam sua marca, Fernando Catatau provou que é o artista mais importante de sua geração. Nenhuma outra banda independente com o tempo de estrada do Cidadão Instigado teria a ousadia de fazer o público cantar as músicas de seu mais recente disco, “Uhuuu”, que predominou em 90% do repertório. “Acho que o Cidadão Instigado é a banda que mais representa o Rec Beat”, pondera Gutie, e completa: “O Catatau traz uma depuração de linguagem sonora que remonta o brega, mas traz um show autêntico e original.”. E se é para ser original, misturar linguagens e ser ousado no carnaval, o lugar é Rec Beat.


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              Na Obra
    • Cheguei em Belém e meu sobrinho de quatro anos, o Gustavo, me recebeu com um abração e a declaração "eu estava com saudades de ti, Tio Marcelo". Tem coisa mais legal? O pior foi que uma semana depois embarquei para Belo Horizonte. Eu, Marcel e Rafael - junto com o Doda que aproveitou a proximidade e conheceu Belo Horizonte - fomos antes de nossa reunião com a Conexão Vivo e fizemos uma bela festinha no bar A Obra, do amigo (não-saudoso) Claudão. Festa genial! Foi minha segunda vez n'a Obra. Mas foi legal fazer uma festa da Se Rasgum mesmo, tocando tudo o que a gente toca em nossos eventos. Eu e Marcel tocamos de 23h30 às 7h de sábado para domingo. Divertidaço ver a mineirada estranhando a batida tecnobrega, mesclada com rock 'n' roll, samba rock, versões de músicas cafonas e pérolas indie.

    A Obra: o melhor porão do Brasil
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    • E ontem fiquei meio chocado com a morte de Mark Linkous, do Sparklehorse. Era uma banda que eu realmente curtia muito. Minha banda, a Presidente Elvis, tocava uma música dele em 2000, a chapadaça Happy man. Essa manhã, coloquei a mp3 nos fones e vim andando trabalhar inspirado. Escrevi uma matéria para o site da revista Billboard. Dá uma lida.


    4 comentários:

    Anônimo disse...

    Eita caramba! E olha que foram só 26 dias do ultimo post até aqui. Mantenha esse negocio atualizado, mermão!

    A mistura que a Gabi fez do Tecno brega com o carimbó no Se rasgum, foi sensacional. Espero que tenha causado o mesmo efeito no povo do rec beat.

    Lamentavel a morte do ark Linkous.

    Stefano Danin disse...

    Caraleo, Damaso!
    Assim como Rainmaker, Happy Man é minha música preferida do Sparklehorse, só que nunca havia escutado a versão do EP (sem aquela confusão da versão Good Morning Spider).
    Muito foda.

    e porra, já que teve SR em BH, que tal fazer uma aqui em São Paulo também.

    Abraço

    Marcelo Damaso disse...

    Stefano, vai ter uma Se Rasgum em Sampa sim. Acho que no segundo semestre.

    Vinicius Carlos Vieira disse...

    Sampa... vejo se faço um esforço e vou, auahuahuahuahuahauhauahu