segunda-feira, 31 de maio de 2010

A pirueta do amor



Meu irmão tem um amigo chamado João. Os dois tem 15 anos e tocam guitarra, escutam as boas bandas dos anos 70, jogam GTA e gostam de jogar bola. Meu irmão tem suas tardes da semana tomadas por atividades como futebol, aulas de guitarra e, vez ou outra, uma aulinha de reforço. João leva a vida adolescente no mesmo ritmo, mas com uma diferença: ele faz ballet.

E como um garoto cabeludo, alto para sua idade e que impõe respeito entre os demais por saber empunhar uma guitarra pode se posicionar diante de outros garotos quando se sabe que suas tarde são tomadas por pas de baque, petit jeté, plié e piruetas? A única coisa que explica essa mudança de hábitos juvenis é o amor. João se apaixonou por uma bailarina.

O Billy Elliot paraense me fez olhar pra trás, observar o quanto a timidez e a falta de coragem para certas coisas me tornaram um adolescente que só fazia olhar para o relógio e esperar completar a maioridade. Eu sempre achei que a CNH me daria a liberdade que esperei a vida toda por estar diante de um volante que me levaria para qualquer lugar. Faltou coragem para assumir amores, lutar por ideais e formar uma personalidade que moldaria todo o meu trajeto até aqui. Mas acho que o faltou mesmo tenha sido um amor de verdade no meu pré-18.

Chegar aos 32 anos assumindo algumas culpas e rindo do passado, para mim, é sinal de vitória. É claro que gostaria muito mais de ter falado que me apaixonei aos 14 por uma menina, liguei o amplificador de guitarra embaixo da janela dela e toquei Blackbird dos Beatles. Mas isso fica pra ficção. E me derrete ver histórias como a de João. Outro dia, da varanda do meu apartamento, vi João passando com sua bailarina ao lado. E sorri ao observar que eles estavam de mãos dadas.
 

terça-feira, 18 de maio de 2010

Neil homem velho

Qualquer dia desses vou sentar e escrever uma carta longa,
para todos os bons amigos que conheci.
E vou tentar agradecer a eles pelos bons momentos que passamos juntos.
Qualquer dia desses,
que não está muito longe.

E vou agradecer aquele velho violinista caipira
e a todos aqueles garotos rudes que tocavam rock 'n' roll.
Eu nunca tentei queimar nenhuma ponte,
embora saiba que tenha deixado algumas coisas boas passarem.


Neil Young - One of these days



sexta-feira, 7 de maio de 2010

Se Rasgum apresenta Autoramas (RJ)


Sábado, 15, a banda Autoramas (RJ) se apresenta ao lado da local Eletrola no Espaço Cultural Cidade Velha junto a DJs Pogobol e Durango’95.

Não é toda banda do novo rock brasileiro que, com cinco álbuns nas costas, consegue fazer um show de uma hora tocando só hits e ainda deixar uma penca de música boas de fora. Também não é todo mundo que consegue circular tanto pelo Brasil, ter público cativo por onde passa e voltar inúmeras vezes. E também não é fácil conseguir fazer turnê pela America Latina, Europa e Japão. Não é fácil ser o Autoramas. O trio carioca chega mais uma vez a Belém trazendo na bagagem o show inédito “Desplugado”, que será dia 15 de maio, no Espaço Cultural Cidade Velha. O show da banda faz parte da programação da festa “Se Rasgum Apresenta”, que a produtora faz todo mês sempre com uma banda de fora e uma local – a desse sábado será Eletrola.

“Estávamos fazendo os shows 100% desplugados ou 100% plugados. Mas aí pensamos em misturar os dois, não poderíamos ter tido ideia melhor. Agora só fazemos o show 100% um ou outro se as condições técnicas forem desfavoráveis. Sempre rola uma pilha de a gente decidir na hora, é legal a coisa da surpresa, não cria uma rotina.”, revela Gabriel Thomaz, vocalista e guitarrista dos Autoramas. E junto a Flávia Curi (baixo e voz) e Bacalhau (bateria), o Autoramas traz a Belém novas versões de músicas como O rei da implicância, A 300 km/h, Eu mereço, Música de amor e A história da vida de cada um, além de I saw you saying (parceira de Gabriel com os Raimundos que ficou famosa pelo quarteto de Brasília).

E a noite traz também o show da Eletrola, velha parceira do Autoramas, que se reúne mais uma vez para a alegria dos fãs. O Eletrola foi responsável por ótimos suspiros de novidade em meados dos anos 2000 com shows sempre calorosos e empolgantes. Canções como Revel, Não pode chover e Não olhe pra mim chegam com a formação original de volta ao palco, trazendo Camilo, Andréia e os irmãos Eliezer e Natanael.

Na discotecagem, os DJs Se Rasgum recebem DJs dos coletivos Pogobol e Durango’95 para uma noitadaao som de post-punk, garageira, indie rock, clássicos dos anos 60 e 70 etc.

SERVIÇO
Se Rasgum apresenta Autoramas (RJ)
Abertura: Eletrola
DJs: Se Rasgum (Damaso, Marcel e Gustavo), Durango’95 (Daniel Leite) e Coletivo Pogobol (Thiago e Gabriel).
Sábado, 15 de maio, a partir das 22h30.
No Espaço Cultural Cidade Velha
Ingressos: 10 dinheiros (antecipados) e 15 na hora.


Olha que pôster lindo do pessoal da Gotaz:

terça-feira, 4 de maio de 2010

Sabe aquela coragem? *




A irritação já escorria da testa naquela manhã com o ar-condicionado do carro vacilando e o calor começando a dar as caras às 9h. Na Doca de Souza Franco, avenida conhecida de Belém, o trânsito parecia de uma megalópole. Ao me aproximar mais da travessa Boaventura da Silva reparei em sirenes, bombeiros, viaturas policiais e o apito nervoso de alguém tentando colocar ordem ali. Houve um suicídio.

A paciência tem que ser redobrada nessas horas em que a gente se depara com o caso de alguém que utilizou todas as possibilidades e optou por dar cabo à sua vida, como uma forma urgente de remediar a dor. A polícia tinha que fazer o seu trabalho. Os bombeiros idem. A companhia de manutenção da rede elétrica do bairro (meu bairro) também – o corpo caiu do sétimo andar e arrebentou alguns cabos de eletricidade. E os vizinhos, que junto a curiosos se amontoavam próximo ao corpo, foram para a rua buscar o que fazer e acompanhar o caso. E a paciência naquela manhã era a única forma de respeito.

Toda vez que me deparo com um suicídio penso na vida. Não existe julgamento que marque um suicida como um covarde ou alguém fraco, como pregam os mais religiosos. Existe sim uma coragem imensa em se tirar a única coisa que lhe foi dada. Não temo por suicídio, mas pela dor. Temo que ela chegue a um nível que ultrapasse todos os limites racionais e que apenas o coração tome decisões.

Minha namorada me disse que havia visto o corpo e foi a primeira a me contar. Ela estava triste, assim como eu que passei de carro, vi a cena e deduzi o que tinha acontecido. Hoje li no jornal o caso. Curiosa a abordagem hipócrita que os cadernos policiais fazem do suicídio – reza a lenda que suicídios publicados estimulam outros suicidas. Será que uma pessoa que tem essas tendências precisa do incentivo da imprensa para tomar coragem? Editei caderno de polícia por dois anos e a ordem que sempre tive foi de não publicar um suicídio. Mas é curioso como os que acontecem em bairros de classe média (ou centrais) são noticiados de outra forma, falando em acidente ou suspeita de assassinato. Suicídio na periferia, esse sim não é noticiado.

Quem procura os jornais sabe o que vai encontrar. Se abro o caderno policial é para rir de bandidos que se deram mal e foram para a cadeia ou para ver a reação da população fazendo justiça com as próprias mãos. Não quero abrir um caderno policial para me deparar com estupro, assassinatos, tripas para fora e tudo aquilo que enche os olhos do povão. Agora, eu sei que existe essa realidade, mas ninguém precisa dela estampada todo dia na mesa do café da manhã.

É preciso culhões para encarar a realidade sanguinolenta da violência urbana. Isso a periferia tem, e talvez seja onde aconteçam os crimes mais bárbaros e é onde os cadernos policiais façam o maior sucesso. Mas o que rola na classe média, em bairros que residem figurões e “pessoas bem de vida”, é que a realidade é a de novela da Globo. E é quando vem um suicídio e mexe com todo o dia das pessoas daquele bairro. Violência urbana não é só perder o celular de última geração, o notebook ou o carro caro e as armas que nos são apontadas diariamente. Violência urbana também é ver o sangue escorrer pela calçada que abriga o corpo que caiu, e onde a vítima é também o culpado.


* Título tirado de música da banda baiana Brinde.