sábado, 20 de março de 2010

Pela própria natureza

 
Jara, um cara legal
 
“Um amor tão grande que só poderia caber dentro dele”. Este é o tag-line do longa metragem uruguaio Gigante, que assiste há algumas semanas em Belo Horizonte. Velha paixão, né? Também, olha o título do blog do cara! Paga-pau de Uruguai? Eu realmente não falaria nada se realmente não houvesse uma identificação muito forte minha com o que é produzido e da forma com que os uruguaios conduzem sua arte na música, literatura e cinema. E em Gigante reconheci mais uma vez o cinema uruguaio falando a minha língua.

Jara é um cara grandão, gordo, calado, de carranca fechada, mas com um olhar bondoso e um sorriso cínico prestes a explodir. Na sala de segurança do supermercado que trabalha, ele controla a movimentação dos ambientes através de monitores ligados às câmeras de circulação interna. E de lá ele que mira Julia, uma funcionária da limpeza que não percebe que está sendo observada. Jara tem uma rotina peculiar: ouvir heavy metal, caminhar, ficar de bóba no sofá e jogar Playstation com o sobrinho. À noite, faz bicos na boate de rock Molotov. Jara é um desses caras que eu e você já devemos ter cumprimentado por aí.

E é esse personagem que dá força ao filme Gigante, que corre numa narrativa lenta, de poucos diálogos e cenas longas. Tudo no ritmo de Jara, que é muito mais que um protagonista, mas um personagem marcante. O diretor Adrián Biniez fez um filme simples, mas rico em referências das relações e da solidão de um mundo moderno. Apesar de ser uma história de amor, ou de um homem apaixonado e amando em silêncio, Gigante é quase uma comédia, não fosse o ar real que o filme passa. O diretor se declarou fã assumido do universo do cineasta e produtor americano Judd Apatow, o que justifica a empatia com um trintão gordo e roqueiro.

Meu amigo Rafael Guedes havia me indicado o filme, que no trailer do Youtube anunciava uma estréia para o dia 22 de maio. Quando assistimos em BH, vimos que o filme, na verdade, estreou em 2009, e foi exibido numa mostra de nome sugestivo: “Mostra passou batido”. No Brasil não houve muitos comentários, mas o filme papou o Urso de Prata em Berlim, o Kikito de melhor roteiro e de Melhor filme da crítica, em Gramado.

Tem outro filme uruguaio que está engatilhado que é o Acne. Saiu na maioria das listas de melhores filmes de 2009 em jornais como Los Angeles Times. Pode esperar que vai virar texto mais pra frente.

E fica aí o trailer de Gigante:


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