Otto Maximiliano e o fôlego galego |
De frente para o palco vendo um Otto animadaço, com a manhã de domingo surgindo no céu e as meninas requebrando - enquanto os rapazes olhavam melhor ao redor para ver direito a carne que beliscariam, dei o primeiro suspiro de alívio com um gole da cerveja Tijuca descendo macio pela garganta. São os momentos de tensão de organizar um festival como o Se Rasgum que me fazem pensar em jogar a toalha branca. Mas são os mesmos momentos que dão um orgulho fudido.
O sábado, segunda noite do V Festival Se Rasgum, tenha talvez um dos melhores line ups de bandas de fora do Se Rasgum: Otto, Odair José, Cabruêra, Cidadão Instigado, Graforréia Xilarmônica, Soatá (uma das maiores surpresas do Festival) e o Lê Almeida. Era uma noite com uma das melhores programações que ainda tinha os locais Dharma Burns, Mostarda na Lagarta, Nelsinho Rodrigues e Félix Y Los Carozos, mas um céu que desabou me fez esquecer das boas intenções. E mesmo com Otto entrando às 4h47, a noite terminou de maneira mágica. Tudo o que as boas intenções da produção alinhadas com o astral contagiante de Otto poderiam proporcionar.
Veja o vídeo mais acessado feito por alguém na platéia até o momento:
Otto - Festival Se Rasgum 2010 from Gustavo on Vimeo.
Foi nesse gole de cerveja, conversando com meus amigos Vladimir Cunha, Tylon Maués e suas respectivas Dani Smith e Aline Monteiro, que pude saborear com gosto a vitória de uma noite sabotada pela chuva. Mas quem estava ali via, entre outras coisas, uma certa alegria na cara de Fernando Catatau em tocar para aquele público com seu Cidadão Instigado.
Um quadro todo moderninho
Odair José foi pura emoção |
“Você que é o Marcelo? Tenho que parar com essa minha mania de tentar imaginar as pessoas”. Pro bem ou pro mal, foi com essa frase espirituosa que Odair José me cumprimentou no aeroporto, quando tive que fazer uma das milhões de missões de última hora que tomam de assalto a qualquer toque no celular. Essa era uma missão tranqüila.
No começo da tarde de sábado, no mesmo pátio do Aeroporto Val de Cans, de Belém, se encontravam Kuru Lima, nosso querido parceiro e incentivador, junto com Odair José e os três quarentões da Graforréia Xilarmônica que, feito três garotos diante de um ídolo do futebol, pediram para tirar uma foto com Odair.
E foi exatamente ele, que por volta de 1h fez um dos shows mais emocionantes da quinta edição do Festival trazendo a Belém algo que sempre lhe foi muito familiar, canções de amor que foram o berço da música brega. Capas de vinis levantadas, mãos para cima e um coro cantando Eu vou tirar você desse lugar, Pare de tomar a pílula, Cadê você, A noite mais linda do mundo, entre outras canções que fizeram muita gente lembrar de alguma coisa no passado. Guto, da banda Dead Lovers Twistted Heart, que acompanhou Odair e foi um dos grandes responsáveis pela parceria, pegou o microfone e disse “quem precisa de Paul McCartney se nós temos Odair José”. E no bis, Odair voltou com Foi tudo culpa do amor, que nem eu, nem muita gente que não pára de falar em Paul McCartney sabia que era uma versão particular de Odair para a música Some people never know, da fase Wings de Macca.
Hangar
Houve os espíritos bagaceiros que não gostaram de uma festa num local moderno, com ar condicionado, estacionamento seguro e bem estruturado. Mas para mim, a noite no Hangar foi talvez a melhor. Não só pela programação mais enxuta e menos trabalhosa, mas pela atmosfera boa que circulou o Hangar na noite de sexta-feira. Ainda que exista essa força estranha que deixa as pessoas endiabradas em dia de festival e faz a onda durar até muito tarde, a festa de abertura teve seu horário de encerramento às 4h30.
André Abujamra e o show filme de Mafaro |
Marcelinho Da Lua, Patrick Tor4 e a moçada do deck (Meachutas e Pedro Dey’rot, do Bonde do Rolê) deram o ar de festa que a noite com quatro shows precisava ter nas mãos de DJs. Voltei para casa com um cansaço bom de sentir após ter visto o show Mafaro, do André Abujamra, pra mim entre os três melhores do Festival. Mas concordo com o Rafael Guedes que disse que talvez Belém ainda não estivesse preparada para um show do André Abujamra. Mas os que entenderam e gostaram do show sabem que estiveram diante de uma das apresentações mais interessantes e criativas da música contemporânea, que fez par com a modernês do show de Felipe Cordiero e Os Astros do Século.
Distante de tudo
Na noite de domingo, em que tudo corria bem – exceto a preocupação com os Slackers que chegariam do aeroporto direto para o palco, respirava tranqüilo e sorria com mais facilidade. Foi uma noite shows excelentes e consagrações, como Emicida, Graveola, Projeto Secreto Macacos e os Slackers, que talvez ninguém esperasse um show tão pra cima com metais, figuras excêntricas e o público fazendo tremzinho. Bruno B.O, Madame Saatan e Delinquentes já tinham o show ganho. Bruno porque se consagrou nas Seletivas Se Rasgum. Madame Saatan porque não tacava em Belém há mais de um ano. E Delinquentes porque é Delinquentes. E foi no show deles que eu mais me diverti observando Patricias e Maurícios “do rock” ensaiando air drums e trejeitos de headbanger de playground. Mas lá na frente do palco uma roda de polgo comia e eu concluía que, agora sim, o festival estava completo.
Jayme Katarro e a rolda de polgo |
No almoço com Dado Villa-Lobos já tinha sacado qual era a do cara. A simpatia era toda aquela que as pessoas falavam. No caminho para a mesa, a Tiara Klautau, nossa coordenadora de receptivo, me disse “o Dado é um fofo”. Batemos um papo sobre a Rock it!, seu selo que lançou, nos anos 90, um monte de gente legal como Second Come, Maria Bacana e Sheik Tosado, ex-banda de China - outro personagem nobre que figurava pelo festival como repórter da MTV Belém e que, pelo seu carisma e pela pequena participação no show de Otto, já garantiu seu lugar no VI Se Rasgum.
E foi à noite, na apresentação dos Los Porongas, que vi que aquele festival tinha me deixaria marcas que eu jamais gostaria de remover. Dado entrou no palco na metade do show e a banda e ele tocaram juntos “Mais do mesmo”, uma das minhas músicas favoritas da Legião Urbana. E misturando a emoção que todos os quatro porongas incorporam no palco com as músicas fora de série (Silêncio e Sangue novo são do próximo disco) e o final com a dobradinha Nada além e Tempo perdido, a segunda da Legião Urbana. E não importava mais o quanto as bandas covers desse país haviam massificado a música pelos barzinhos e festivais de colégio. Naquele momento, era Dado quem tocava a guitarras mais conhecidas das duas últimas gerações do rock nacional. Bonito ver o African inteiro cantando junto. Mais bonito ainda foi ver Jayme Katarro na minha frente vibrando com o hino juvenil puxado do pulmão num vigoroso “somos tão joooovens!”.
Dado e Diogo tocando Legião Urbana |
Não é segredo que o V Festival Se Rasgum teve um sabor diferente para mim e para a Renée. Pois foi um ano de divisões e que nossos sócios Marcel e Gustavo resolveram correr atrás de outros objetivos, e que nós dois ficamos tendo que assumir a responsabilidade de fazer a quinta edição do evento. Por isso, nos aliamos aos Soniques Giba e Soneca e trabalhamos para fazer um evento profissional e com o reconhecimento que vem acumulando com o passar dos anos.
P.s: E tudo que nos restou foi uma reclamação tremenda de fãs do Matanza e de gente que quer sempre as mesmas bandas, além de um incrível fora que dei na TV Liberal ao vivo com o repórter fazendo gestos que só ele entendia e me cortando lindamente ao vivo e me tornando a piada do Festival.