segunda-feira, 26 de maio de 2008

Mallumania

Click do Renato Reis




Visual rezando na cartilha. Molecada vestida para um clipe do Belle & Sebastian. O cenário que comportava espécies de roupa preta, brincos, piercings, tatuagens e tipos de assustar sogras na noite anterior deu vez a jovens de óculos grossos, cabelos lisos, casaquinho de brechó e, se bobear, um cachecol. A noite de 24 de maio do Festival Bananada, em Goiânia, era do avassalador hype indie Mallu Magalhães.


Andando pela área aberta e pelos dois teatros do Centro Cultural Martim Cererê ouvi o nome de Mallu ecoar por lábios finos, grossos e apertados. Cercada pelo pai e por um produtor gaúcho com pinta de profissa, Mallu chegou ao backstage e foi direto para o foco das lentes. Subia nas cadeiras, corria e dava sorrisos. “Mallu, venha pra cá minha filha”. Impossível conter a euforia inocente que ela carregava despretensiosamente.


Robert Zemeckis arriscou seu primeiro longa metragem ao lado do bróder (até então produtor) Steven Spielberg no clássico Febre de Juventude, de 1978. Na película, fãs dos Beatles os seguem desesperadamente pelos Estados Unidos atrás de qualquer migalha de seus passos. Descontando uma forte dose de devoção, as cenas do filme se repetiam 30 anos depois no festival goiano. Em um dos teatros, onde ela se apresentaria, acontecia o show do Sweet Fanny Adams, de Recife, e a moçada já encostou ali para nunca mais sair até a apresentação de Mallu Magalhães. Tentei um lugar por trás do palco, via camarim, mas outros curiosos tiveram a mesma idéia. “Gente, não dá mais para ninguém entrar por aqui”, avisou um dos produtores. Fabrício Nobre, um dos organizadores do evento, pedia calma para evitar um pisoteamento. Mallu entra no palco e a euforia do público foi ensurdecedora. Acompanhada apenas de um violão e uma gaita, Mallu entrou e garantiu a primeira música na maior tranqüilidade. Me meti entre os curiosos e tudo o que pude ver foi a cantora de costas através de uma fresta em um móvel que apoiava o retorno do baterista (que não existia naquela apresentação). Febre de Juventude total.


Tentei pela frente; fila enorme. As pessoas saiam de lá sufocadas e outras de acotovelavam para tentar entrar no teatro. Uma garota baixinha que estava ao meu lado esticava o pescoço para enxergar uma franja, qualquer coisa. Dei a vez e decidi que aquilo não era pra mim. Não adianta falar que foi MTV e Lúcio Ribeiro que criaram o fenômeno. A pequena tem algo mais sim.

Na volta para o hotel, entrei na van com integrantes da banda paraense Filhos de Empregada, que haviam se apresentado e homenageado a celebridade teen durante o show. Um banco da van estava reservado e era de Mallu, do pai e do produtor. Mallu entra no carro e já me ganha na primeira frase. “Nossa, esse cachorro deve estar com raiva”. Nem havia notado um cachorro ali. Mas ela, em seu mundo de inocência e sensibilidade se impressionou com os latidos do cão. Pessoas batiam no vidro da fã gritando um “tchau, Malluuuu”. O pai dela usou apenas duas frases em momentos distintos durante o percurso: “Mas tinha bastante gente, heim?” e “Poxa, não esperava tanta gente”. O sucesso da filhota era algo ainda muito novo na cabeça dele, assim como na minha. Mallu se deu a falar de óculos e soltou mais uma pérola da inocência que já havia me conquistado: “Poxa, queria que meus olhos dessem problema para poder usar óculos. Existe tanta informação no mundo que deve ser legal a pessoa poder filtrar o que vê”. Brunno Regis, do Filhos de Empregada, emendou um papo ainda mais animado com a garota, girando em torno da miopia. Daí Mallu fala de Macacos e o assunto gira em torno do Discovery Channel. Inocência real. Mallu Magalhães não faz tipinho e não posa de nova solução da música. Mas seu ar adolescente de pureza convence muito mais do que sua música, que na verdade não me comoveu em nada. Descemos da van com Brunno entregando um CD dos Filhos de Empregada e aconselhando-a seriamente: “Ó, procure sobre tamanduás domésticos no google”.


Entendi um pouco o que explica uma singela adolescente de 15 anos, voz desafinada e acordes de violão limitados contagiar tanta gente de forma imediata. Não é pela música, mas pela pureza. E acho que o Brasil está caçando uma nova Sandy. Só que dessa vez, Mallu pode ganhar o papel com mais elegância e uma música mais agradável pode tomar conta de ouvidos adolescentes e do Domingão do Faustão.

domingo, 25 de maio de 2008

Agulhas entre atos

- O que é isso?
- Ah, eu tentei fazer uma tatuagem uma vez.
- E o que aconteceu?
- Doeu muito.
- E aí você ficou só nesse risco preto manchando tua pele linda?
- Você acha feio?
- Nada fica feio em você. É só uma mancha que não significa nada.
- Mas eu vou terminar.
- Na verdade vai começar, né?
- Pois é. Vou beber para agüentar a dor.
- E qual será o desenho?
- Uma joaninha.
- Você vai sentir dor pra desenhar uma barata?
- Você acha feio?
- Não, nada fica feio em você.
- Mas você não gosta da joaninha.
- É que, sei lá, você vai ter uma barata na pele o resto da vida.
- Não consigo pensar em mais nada.
- Sei lá, uma flor, um coração. Algo singelo.
- Humn...
- Deveria significar alguma coisa, né?
- Ainda não sei o que vai ser.
- Então fica com a manchinha. Pelo menos induz a uma conversa como essa.
- Mas essa conversa não deu em nada.
- Verdade.
- Você gosta do meu cabelo?

- Gosto. Acho que as franjas voltaram pra ficar.
- Nossa, que legal!
- Gosto de tudo em você.
- Menos a manchinha da tatuagem.
- É que está incompleta.
- Tudo bem, eu gosto de sinceridade. Talvez agora eu faça logo de uma vez.
- A tatuagem?
- É, acho que agora penso logo em um desenho.
- Ah, então essa conversa deu em alguma coisa.
- Pode ser. É que ficar discutindo sobre um risco de uma tatuagem não é um dos melhores papos pra mim.
- Bom, a gente pode falar de literatura russa se você quiser.
- Você entende disso?
- Não, mas engano que é uma beleza.
- Você é engraçado.
- E você é uma gata.
- Obrigada.
- Imagina...
- Acho que se a gente tivesse se conhecido de outro jeito, assim, numa balada, não teria ficado com você.
- Não sou dos mais apaixonantes.
- Porque você diz isso?
- Ah, não sei, deve ser por causa desse meu problema na perna.
- O que foi que aconteceu?
- Foi um acidente de carro. Quase morro. Mas minha perna ficou presa nas ferragens e fiquei com essa deficiência.
- Nossa, que horror!
- É, mas sobrevivi.
- Mas não acho que isso te afaste das mulheres.
- Não. O que você acha que afasta?
- Você tem uma cara séria demais.
- É verdade.
- Mas isso também é sexy. Só que não sei se são todas as mulheres que gostam disso.
- Não, não são todas que gostam.
- Eu gostei.
- Ainda bem.
- ...
- ...
- Vamos trepar de novo?
- Vamos. Vem por cima de mim, minha perna está doendo.








quinta-feira, 15 de maio de 2008

O amor na prateleira

Ladeira atrás de ladeira. Subi, desci, cansei, suei. Mas São Paulo é isso, né não? Confesso que não sinto mais o tesão que sentia por essa cidade. Venho desde um ano de idade, quando minha memória ainda nem tinha bateria, e por muito tempo desenvolvi o amor que qualquer ser cosmopolita pode ter pela cidade. Morei quatro anos em Santos e vibrava ao vir pra cá regularmente. Mas ultimamente o tesão morreu, tipo casamento conformado de ter que comer só pra comparecer.

Daí tem a Paulista, as livrarias, shows e os filmes bons. É quando a coisa fica meia-sola, só aquele sangue que enche o corpo cavernoso o suficiente para uma bela bimbada. Não, tem as padarias também. É, tem as babys também. Só faz falta aquele calorzinho humano. Na cidade que lança tendências, a solidão nunca saiu de moda.

Estava conversando com meu amigo Doda sobre essa questão do lado humano paulistão. Tô numas de me hedonizar mesmo. Não tem porra nenhuma de religião, Buda ou raio na cabeça, mas uma busca pela emoção cada vez menos canalizada nos grandes centros. Tá, beleza, em Montevidéu nem te olham na cara, mas a falta de ambição torna as pessoas mais verdadeiras. Dois dias longes e sinto uma saudade do caralho.

Um amigo meu, jornalista de um grande jornal de São Paulo, nascido em Montevidéu, disse que uns caras que foram cobrir lá um jogo da Libertadores dia desses acharam a cidade uma grande bosta. Achei legal saber disso pela opinião ser de um paulistano bunda-mole. Natural, afinal, aqui é a Nova York do terceiro mundo, né?

Foda é a grana que se gasta. Eu ando, ando e ando. Suo, canso, respiro e tento controlar os gastos. Mas acabei sacando o Machadão de Assis da prateira e puxei 20 pratas da carteira. A ocasião faz o bestão. E faço com ternura o papel de absolvente das oportunidades que Sampa me dá. Nessas horas, o tesão fala mais alto. Desculpe, meu amor.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Hoje estou raro e entendo o porquê

O post it pregado ao lado da cama me lembrava as cinco últimas coisas que tinha que fazer em Montevidéu. Coisas factuais mesmo, nada poético ou fissurado. Já acordei com saudades do apartamentinho na Tacuarembó, entre 18 de Julio e Colônia que eu, por diversas noites embriagado, explicava aos taxistas num espanhol pra lá da Baía do Guajará. O papelzinho amarelo também me lembrava a insônia da noite anterior. Despertado por um livro bom, mijava o tempo todo na madrugada. O frio também me apontou um defeitinho no joelho direito. Reumatismo a caminho. Taquipariu.

A TV do quarto já não havia mais sido ligada nos últimos cinco dias. No começo ela me acompanhava para espantar o silêncio apenas – e me mostrar petardos da televisão uruguaia, confesso -, mas depois resolvi calar o apê em leitura.

Noitizinha empolgante a de ontem. Me deu gás pra voltar. Tenho que concluir meu projeto e já penso que São Paulo não vai me dar sossego para isso.

Caí em algumas ciladas típicas de um forasteiro. Minhas duas grandes mancadas por aqui foram:

1 - Perder o show do El Quarteto de Nós, banda que acabou de lançar Raro, um dos melhores discos uruguaios que estou levando na bagagem. Deixei para comprar o ingresso com três dias de antecedência e já estava esgotado para os dias 9, 10 e 11! El Quarteto de Nós é uma banda com mais de 25 anos de estrada que se encarrega de criticar o modo operandis da classe média de seu país com letras acidas, irônicas e bem humoradas.
No domingo ainda me postei em frente ao Teatro Metro na esperança de ver algum cambista. Nada. Olhei a fila e vi um público meio bunda mole. Voltei para casa tentando me convencer de que não seria tão legal assim por causa daquelas pessoas na fila e que eu já estava de saco cheio de show em teatro.

2 – Perder o clássico uruguaio Nacional x Peñarol. Centenário abrigaria esse jogão e eu me prometi que não perderia. E quando compro o El País de terça-feira passada, 6 de maio, a manchete do caderno de esportes era que os ingressos já estavam esgotados. Ca-ra-lho. No domingo, vi a partida pela TV num restaurante traçando um filé ao molho branco com champignon e batatas cozidas. Menos de cinco minutos e sai um gol do Peñarol. Torcida gritou no restaurante, mas calou rápido. Pensei se era educação ou mais um exemplo de retração. Pasmei quando vi os jogadores comemorando e o técnico do Peñarol fumando um cigarro com uma cara de corno deprimido. Ele parecia o Mário Bortoloto e vestia uma máscara malzona sem dar um sorriso pelo gol de sua equipe. Experiência do caralho que teria sido eu nesse estádio.

No caminho de volta para o apê, dei um arrotinho na Coca Zero e pensei que era melhor curtir aquela ressaquinha deitado e lendo alguma coisa. Já estava ficando mestre na arte de me enganar.

Me mando hoje para Sampa, mas acho que volto mês que vem. Minha missão por aqui não terminou e dói ter que deixar essa cidade. A passagem está comprada e agora encaro uma temporada em Sampa, depois vou ao Festival Bananada 2008, em Goiânia e, depois, ataco de DJ no bar A Obra, de Belo Horizonte. Até dá um certo ânimo em encarar essa maratona toda, mas o coração fica em cacarecos.

A atualização dessa joça continua de San Pablo. Hasta luego!

domingo, 11 de maio de 2008

Dancing with Marcelo

Bartender da W Lounge, um pequeno paraíso no Parque Rodó



Dançarina no começo da performance arrebatadora. Foto crasse, heim?





Sorrisão de Ticiana, que fotografa a irmã rebolando o bundão no palco






In a corner of the morning in the past
I would sit and blame the master first and last...

... Well, i said hello and i said hello
And i asked “Why not?” and i replied “I don’t know.”

(The Width of a circle – David Bowie)



Tenho acordado com uma ereção involuntária de inverno todas as manhãs. Sorrio ao me deparar com meu nobre rapaz animado, bonito e pronto para a luta. Depois de uma relaxada, encaro numa boa a inexistência de uma batalha em terra estrangeira. Mas é só colocar os pés na rua que o sonho volta a se tornar um pesadelo pela falta de perspectiva que, na maioria das vezes, encaro numa boa.


Às vezes solto um “muito obrigado” em português, que arranca um sorriso de uma bela garçonete. Destilo um brasileirismo por aí para impressionar, mas vejo que o idioma não me leva à uma ascensão nesse império de beldades retraídas e melancólicas.

Umas amigas, que havia conhecido logo que cheguei, me encontraram ontem e disseram que meu espanhol melhorou. Uma chica na boate, sexta-feira, também disse que eu falava muito bem. Tô começando a acreditar nisso, mas não esqueço de recorrer à língua pátria na hora de impressionar. No taxi, motoristas gostam de falar sobre o seu país. Todos gostam daqui. Já tenho cumprimentado tanto homens como mulheres com o famigerado beijo no rosto. As pessoas que sabem que sou brasileiro ficam olhando com um certo cuidado quando já é tarde demais para avisar um “Ei, ele é brasileiro, lá não tem esse papo de beijinho em homem". Relaxa, baby, tô sob às regras da casa.

No apartamento, as garrafas vazias tem se acumulado ao redor do lixo, assim como a pilha de CDs novos tem aumentado. “Soy um vicioso si”, saquei essa depois da chamada de atenção de uma amiga quando disse que sairia para fumar mais um cigarro. Na mesa ao lado do computador, caixinhas de Marlboro vermelho estão espalhadas e sempre existe uma delas cheia.

Arrumo a cama, varro o apê, lavo a louça, levo as roupas na lavanderia e cuido de dar um trato nas minhas cuecas com água e sabão. Existe felicidade em estar vivendo tudo isso novamente.
Faltam três dias para eu voltar ao Brasil. O retorno para cá ainda está em aberto no mês de junho, mas acho que minha etapa no Uruguai já se encerrou nesta temporada. Se não voltar, deixo a certeza de que sei onde fica a minha segunda casa.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Felicidade deslocada em sorriso sacana

Hotel Argentino



Castillo Piria

Janela do quarto de hotel





A felicidade e a paz tem endereço: Piriápolis, município que fica a 95 km de Montevidéu, no estado de Maldonado. Influenciado pelo filme Whisky (que não escondo ser um dos melhores filmes que já vi), deixei o agito do centrão da capital na quarta-feira e entrei no primeiro ônibus que levou à cidadezinha. Ao meu lado um senhor simpático chamado Amílcar me falava sobre sua paixão pelo local. Ele dividia seus dias entre Montevidéu e Piriápolis e dizia que se uma pessoa busca paz, é lá que ela vai achar.

A 30 minutos da badalada Punta de Leste, Piriápolis exala sossego por todos os poros. Da rodoviária vi o Hotel Argentino, que abrigou todas as locações de Whisky naquela cidade. Vibrei. Fui perguntar a diária: 78 dólares o mais simples. Pensei duas vezes se realmente não seria uma boa ficar lá, mas resolvi deixar para um dia em uma lua de mel. Fui para um ao lado, 35 reais com TV a cabo, chuveiro quente, café da manhã e janela para a praia.


No centro de informações turísticas, o rapaz me deu um mapa e explicou aquilo que já estava no automático para paraquedistas como eu. Castelo, morro, bosque etc. Ele me aconselhou o Castillo Piriá, onde viveu o fundador da cidade, Franscisco Piriá. Achei uma boa, afinal, de lá dava para seguir para o Pan de Azucar, um morro bonitão que dava pra ver de longe e uma reserva florestal. Com disposição para a natureza, me dispus a ir andando. Quando falei isso, os dois funcionários do centro de informações turísticas perguntaram em uníssono: ¿Camiñando? Preveniram de que eram seis quilômetros. Dei de ombros, tava a fim de conhecer a cidade.


A primeira hora de pernada foi só deslumbramento. Na segunda, gelei ao encarar o retão que se aproximava para achar o tal do castelo, que ainda não dava sinais de sua existência. Vi uma jovem pedindo carona e reparei que aquilo era de praxe. Mas na frente, depois tirar várias fotos de outro castelo em ruínas, perguntei para uma mulher, no único ponto de ônibus que existia pelo caminho, se o setor onde viveu o tal do Piriá era direto. Ela disse que sim, dando uma risadona e desdenhando de meus longos passos. Sem me intimidar, segui reto. O acostamento acabou e tive que começar a andar pelo estrada. Duas horas de caminhada. E fui. Andei. Cansei. Pensei em esticar o dedão e pedir uma carona, mas resolvi deixar para a volta. Segui em frente e finalmente vi uma placa. Havia chegado. Na frente o aviso broxante: de segunda a sábado aberto ao público das 10 às 17h. Estava sem relógio mas o céu já informava que devia passar das 18h. Examinei os muros laterais e vi que tinha um buraco na tela, provavelmente feito por alguém que também havia dado de cara com os portões fechados. Entrei.
O caminho até o casarão, que quanto mais se aproximava mais apavorante ficava, deixou os pequenos ruídos da estrada calma para trás. O barulho dos meus passos me incomodava. Tirei umas fotos, vi umas ruínas, um vagão de trem abandonado e decidi dar o fora antes que um espírito perdido, contemporâneo ao rei, viesse tirar satisfações comigo pela insistência.
Na volta, um casal se aproximava da frente do castelo, que era um ponto de ônibus. Perguntei se dava para ir ao Pan de Azucar ainda e eles disseram que só se eu fosse louco. E naquela hora eu era o mais cagão de todos. “E ônibus, passa por aqui?”. “Sim, de uma em uma hora”. Logo veio um, que fiz sinal e não parou, gesticulando de que a parada era bem mais a frente. Era onde eu havia pedido informações pra mulher que me sacaneou. Longe pra caralho! Saí andando e comecei a esticar o dedão. Vi que a carona, que achei ser de praxe no local, era só para gatinhas indefesas. Um bigodudo gordo era fora de questão. Desisti daquela merda e sai andando, chegando ao ponto de ônibus já com a noite entrando. Estava congelando de frio, já que havia optado por um casaco leve confiando que o dia não estava lá esses frios. Uma hora depois o busão chega e eu volto ao hotel arrependido da graça.




Take my arm away

Se a sensação de que em Montevidéu as pessoas carregam uma imagem de que pediram para serem esquecidas, Piriápolis é a prova cabal disso. Lojas, hotéis, escritórios imobiliários e diversos estabelecimentos comerciais mantinham suas portas fechadas durante o ano todo. A cidade funcionava só no verão.
Na manhã seguinte, Rubem, o hoteleiro gente boa, me disse que o Cerro San Antônio era algo que eu não poderia deixar de ir. Lembrei de Amílcar recomendar o mesmo. Sai andando de novo. Primeiro subi uma ladeira íngreme. Daí vi que o tal do atalho para subir o Cerro San Antônio estava interditado e fiquei pensando numa solução. Foi então que vi que o teleférico que levava ao topo começou a funcionar. Desci tudo de novo e entrei no brinquedo. Nos primeiros 20 segundos percebi que não era mais aquele garoto corajoso de outrora. Quase me borro de medo, mas não larguei a câmera, filmando e tirando fotos.


Beleza de vista. Foto pra cá, foto pra lá. Do outro lado vi um amontoado de prédios distante e constatei ser Punta de Leste. “Beleza, descendo daqui eu me mando pra lá”. E fui tirar fotos. Umas árvores atrapalhavam o enquadramento e fui subir em um batente para “sacar la foto”.


Lembro quando vi aquele poste de luz ao lado do batente, pensei “será que se eu me apoiar com o braço esquerdo meu ombro sai do lugar? Nah, o dia tá lindo”. Mas a confiança no clima me traiu. Ouvi apenas o estalo e a dor, pela quinta vez, do meu braço esquerdo se deslocando do ombro. “Pô, Deus, tu tá de sacanagem!”. Pensei na cagada que seria descer aquela porra de teleférico com a dor que estava sentindo. Com o braço direito, segurei o esquerdo e corri para o único lugar que parecia ter gente ali: uma lojinha de suvenires. As três moças ficaram aflitas e eu pedi que chamassem uma ambulância. Enquanto duas delas se ajudavam no telefone público, fiquei conversando com a terceira, que se disse fã de Ivete Zangalo, Araketu e Gabriel O Pensador. Não tem jeito, o mau gosto musical ultrapassa fronteiras. Mais de 20 minutos depois, a dor se tornando cada vez mais forte, perguntei o que tinha acontecido e elas disseram que ligaram para uma ambulância, mas que o serviço custaria 2.700 pesos uruguaios, cerca de 270 reais. Agradeci por elas pensarem com o meu bolso. Elas tentavam ligar pra polícia mas só dava ocupado. Pedi um táxi e elas se olharam com uma cara de quem não havia pensado nisso antes. Cinco minutos depois chega Daniel, o salvador.


Me levou ao hospital público, uma casa graciosa no meio de um jardim. Desci me cagando de dor e Daniel ajudando. Disse para ele tirar a grana da minha carteira, o que fez corretamente, mas não se ausentou do ambulatório. Lá o primeiro sinal de eu estava realmente fudido. O médico nunca havia colocado um ombro no lugar.


Expliquei para ele como os outros médicos haviam colocado o meu braço no lugar. Constatei que além de quando estou bêbado, a dor me faz cuspir um espanhol bem razoável. Deitei na cama, e ele começou o processo de esticar o braço e girar para cima até voltar ao lugar. Na segunda tentativa vi que ele estava mais nervoso que eu e falou que era melhor chamar um traumatologista. A enfermeira ligou e ele não estava na cidade. A outra alternativa era ir até a capital Maldonado para receber o atendimento certo. Falei que nem fudendo eu ia e que aquele braço ia voltar ao lugar ali mesmo. Chamou Javier, um enfermeiro cabeludo e boa praça que era mais forte e poderia puxar meu braço com mais vigor. Javier estava com uma risada trancada no rosto fazendo aquele procedimento. Eu me mexia muito e a cama andava. Foi quando o médico pediu para duas as enfermeiras, uma loira e uma ruiva (ruiva de verdade, saca?) se debruçarem em cima de mim para a cama não andar. A ruiva ficou em cima das minhas pernas e a loira na região pubiana. Não era hora para pensar naquilo, mas foi o mais perto que pude chegar de realizar uma fantasia erótica uruguaia.
Lá pela décima tentativa, o médico disse que não tinha jeito e ordenou que eu fosse para Maldonado. Quando ele tentou colocar uma toalha enrolada embaixo do meu braço, no sovaco, lembrei que aquilo poderia ajudar. Já não era mais eu quem estava mandando ali, mas pedi para tentarmos mais uma vez. O médico puxava a toalha pelos dois lados e Javier esticando o braço. Eles ouviram o primeiro click. Ainda não era. Ouviram o segundo e o doutor falou: “Continue, Javier, estoy ovindo más un ‘click’”. E pá! Estalo alto o encaixe. “Goooool de Nacional! Carajo! Esto es muy bueno!”. A risada deles, do taxista Daniel e das enfermeiras hot max misturavam alívio e a minha alegria.


É a melhor sensação do mundo quando o ombro volta ao lugar, melhor que ter filhos, comprar uma casa, vibrar com um gol em final de campeonato e gozar.
Daniel nem cobrou a corrida até o terminal. No caminho, soltei uma gargalhada que me fez pensar na merda que tinha sido aquilo. Daniel emendou nos risos.


No ônibus, de volta a Montevidéu, fui a viagem inteira com um sorriso no rosto, lembrando que havia me livrado do medo que mais me afligia por essas bandas. E a cagada aconteceu da pior forma.


Piriápolis é linda, mas as paz e felicidade que imperam por lá não era para qualquer um. Só que eu deixei um sorriso sacana e de humor negro no rosto dos que acompanharam meu pranto patético.

domingo, 4 de maio de 2008

Do Eduardo Galeano:

Não consigo dormir, tenho uma mulher atravessada nos olhos. Se pudesse, mandaria ela ir embora. Mas tenho uma mulher atravessada na garganta.

Por uma Alice melhor

Era pra ter encontrado Alice na chuva, molhada, berço batendo de frio e implorando um casaco. Era pra ter mutilado seu clitóris e ter-lhe perpetuado à frigidez. Era pra ter perdido o ônibus e nunca mais me ver. Era para Alice ter feito compras com sua mãe naquele supermercado que explodiu. Era para ter contado meus segredos antes de ter que cortar seus braços em seis pedaços para poder caber naquela maleta.

Era para termos tomado mais banho juntos, lido os mesmos livros antes de dormir, ter fodido mais, dançado nus, comido mais sushi, viajado pela Amazônia, catado frutas no chão.

Era preciso que tudo que planejamos um dia, fosse concretizado pelo menos a metade, e que a outra metade ainda fosse uma meta que nós, juntos, alcançaríamos.

Antes de Alice morrer, deveria ter feito um disco com canções que falassem de nossas particularidades todas, e que apenas os casais mais apaixonados pudessem se identificar e cantar juntos. Deveríamos ter filmado nossas transas, extrapolado nossas taras, realizado fantasias em público, ter chorado em Laços de Ternura e dormir depois do jornal.

Era pra ter vivido com Alice fora dos meus sonhos, antes de matá-la de forma ideal.




N. do R: Escrito em algum mês de 2002.

sábado, 3 de maio de 2008

Renée remains the same

Montevideo, 2 de mayo de 2008.

3h13 p.m



Oi Renée.

Já te falei que muitas coisas que vejo por aqui me lembram de ti. É meio óbvio porque a primeira vez que estive por essas bandas foi contigo e desbravamos, timidamente, uma porção de lugares que eu jamais saberia que serviriam de referência para o resto da minha vida. Essa noite encarei uma experiência legal, Renée, acho que você seria a coadjuvante perfeita para estar ao meu lado. Talvez pelo mesmo gás de querer assistir shows, ver o comportamento musical e se deixar levar pelo lema de que cada cidade é guiada por sua música. Você não deve saber, mas acho que esse é nosso grande combustível. A música e sua cidade. Muito do que ela quer dizer está nas entrelinhas dessas coisas que a gente, desprevenido, acaba enxergando.

Me meti num lugar completamente diferente de tudo o que conhecemos, no charmoso bairro de Prado. O lugar se chamava Teatro Del Prado e abrigava a primeira noite do festival Pradorock Underfest. Demorei um bocado para chegar lá, pois fiquei em casa vendo DVDs, revisando texto, ouvindo música e tomando bourbon para estar no horário que havia marcado com Emilio, meu amigo uruguaio. Daí que eu peguei um táxi e me mandei para o Prado, atrás da casa do Emílio. Lá, sua adorável mãe disse que ele estava “enfermo”, com tosse e dor de garganta, e que não poderia me acompanhar. Com o taxi esperando, segui para o teatro.

Francisco, o taxista “buena praça” que me conduziu ao recinto, marcou de me esperar às 2h30 na saída. Eram 20 para a meia-noite e eu não botei fé que ele voltaria. Aí paguei minha entrada e me deixei levar. O foda é que o táxi havia custado caro demais, cerca de 26 reais aí no Brasil, e eu achei que a volta custaria o mesmo montante – se não fosse sobre as quatro rodas do Chicão. Paguei a entrada do evento, pela mísera quantia de 90 pesos (nove reais), e adentrei ao Espacio Cultural La Criolla. Lugar incrível, Rê. Lá longe um palco, devidamente estruturado para receber qualquer banda um pouco acima da categoria independente – que a gente bem conhece. Amplificadores JCM-900 da Marshall e vários outros cabeçotes que o Dudu ficaria louco se visse (esse garoto precisa dar umas bandas por aqui). Na platéia, bancos de cimento que remetiam à lápides milimetricamente enfileirados por todo o campo. Comportaria fácil duas mil pessoas. Mas as 200 que estavam ali devem ter achado aquilo muito divertido, pois ao invés das passagens normais, andavam por cima dos bancos. Os apoios eram do governo de Montevideo e da cerveja Pilsen. Me instalei em um lugar onde não pudesse ser importunado e assistisse à todas as apresentações numa relax, numa tranqüila, numa... você sabe.

No palco, duas garotas apresentavam as bandas e falaram o nome da primeira, Nada Que Hacer, que meteu um Eleonor Rigby no cabeçalho. Fiquei meio puto na hora. “Porra, vim de lá da casa do caralho ver festival de banda cover!?”. Daí perguntei para a moça da portaria e ela me garantiu que eram bandas autorais. A versão não ficou ruim, no final. Mas eu ainda estava me acostumando com a situação e não vidrei no espetáculo logo de cara. Daí a banda começa a emplacar a segunda música do repertório. “Put´z, legal, heim?”. Um rato uruguai que estava por perto gritando “Misfits”, me perguntou se a banda El Umbral já havia se apresentado. Disse que acabara de chegar e aquela parecia ser a primeira apresentação da noite. De fato era.

E não é que a primeira foi a melhor de todas as quatro? Quinteto. O vocalista era o visual do Robert Plant – só que empunhando uma guitarra – com a alma do John Lennon (se é que isso é possível). E o resto da banda eram garotos mais novos, remetendo às ultimas formações dos Engenheiros do Hawai. O tecladista, por sinal, parecia ter sido catapultado do Jesus Jones e ficava rodando o teclado com dancinhas que, sinceramente, não tinham nada a ver com a banda. Mas foda-se, eu estava curtindo. O rato uruguaio não parava de sacanear a banda e, lá pela quinta música (quando eu já estava achando o som deles do caralho!) comecei a ficar puto com o desgraçado. A banda mandou ver uma porrada de músicas legais, que remetiam facilmente a uma influência do quarteto de Liverpool. Daí o Robert Lennon me encerra com “una cancion de Neil Young”. Nos segundos que antecederam os primeiros acordes, decidi que se fosse Old Man eu iria aos prantos. Para a minha sorte não era. Claro que era Rockin’ in the free world, mas com a elegância de mandar ver uma versão castelhana entoando o refrão: “Quieren los otros libres”. Bem licença poética mesmo, mas deixa eles... Aplaudi entusiasmado.

Dando pinotes de frio fui comprar uma cerveja. Na pressa, entendi que uma cerveja custava 60 pesos (seis reais). Me decepcionei. Tudo estava lindo até então. No balcão, sem entender, vi o cara me servindo três long necks de Pilsen em três copos. A ficha caiu, eram seis reais por três copões de cerveja. Perfecto, non? Enfiei uma rapidola e me mandei para o acento acimentado com os outros dois copos, o suficiente para ver as outras três apresentações punk-hardcore – uma com ensejos de ska – e achar tudo mais do mesmo. No entanto, parecia que eles tocavam para oito mil pessoas. Festona, Renée, festona!

No horário marcado saí e vi Francisco acenando com os faróis do táxi. O danado realmente cumpriu o combinado. No carro, ele me disse que Francisco, aqui, tinha o apelido de “Pancho”, como “Chico” no Brasil. “Belê, seu Pancho, buenas noches. Suerte”.

Daí subi pra te escrever.

Um beijão


Marcelo Damaso


p.s: publiquei isso no blog no mesmo momento em que enviava para o seu e-mail. Espero que não se aborreça com a falta de exclusividade.


sexta-feira, 2 de maio de 2008

Não esqueça de apagar a luz



“Todo cerrado mañana!” Os avisos não brincavam. As filas enormes no supermercado pareciam um abastecimento para que as pessoas ficassem em seus bunkers para um dia inteiro de ataque inimigo. Nas bancas de revistas, os avisos: “No hay diários mañana”. Tudo isso precedia o maior day off que presenciei na vida. Em Montevidéu, o feriado de 1° de Maio era o terceiro mais levado a sério do ano, ficando atrás apenas do Natal e do Reveillon. Sem ônibus e com pouquíssimos táxis nas ruas. Sem cinema, espetáculos ou qualquer coisa para distrair. Havia uma ordem: fiquem em casa, curtam as crianças e não ousem tentar fazer alguma coisa que force um trabalhador a sair de casa, respeite o dia do trabalho. Perfecto!

Meu amigo Emílio preveniu dizendo para eu comprar comida e me preparar para ficar em casa. Acordei com um silêncio que parecia ser 7 da manhã. Já era meio-dia. Ótimo, havia perdido metade daquele dia inútil. Andei pela cidade atrás de um cyber e contemplei um cenário mais tranqüilo ainda do que nos dias normais. Parecia a Londres desertada do filme Extermínio, de Danny Boyle. Na rodoviária, achei um café aberto e tive, pela primeira vez, o pior atendimento de minha vida no Uruguai. A mocinha impaciente me serviu um café e uma água. Tomei acuado.

À noite, ia encontrar o amigo Leonardo Aquino, que estava na penúltima cidade de suas férias, junto à sua mãe, a simpática ex-colega de trabalho, dona Myrian Magalhães. Temi que eles tivessem a mesma impressão que tive quando estive aqui em 2006, quando fiquei no bairro de Pocitos e caminhava quadras e quadras vendo poquíssima gente pelas ruas. Eles pretendiam passar a tarde em Colônia de Sacramento, patrimônio histórico da humanidade, cidadezinha linda que fica no meio do caminho da rota de Buenos Aires a Montevidéu. Lá, eles disseram, nem a rodoviária estava aberta.


(um parêntese para a TV uruguaia)

De noite, antes de me aventurar pela avenida 18 de Julio atrás de um bar para uma cerveja com Leo, fiquei em casa fazendo umas anotações com a TV ligada, onde passava um programa interessantíssimo no que seria a Rede TV! local. Nele, um apresentador ficava sentado em frente a uma pessoa e lhe fazia perguntas pessoais onde, abaixo, havia um detector de mentiras mostrado para o telespectador. A entrevistada era uma mulher linda chamada Natasha. Ela respondia a perguntas como: “É verdade que você, Natasha, já fez sexo em troca de um cigarro?”. Ela respondia tudo sem medo e o detector aprovava. Sexo com mulheres? Sim. Sexo com dois homens? Sim. Sexo com uma celebridade apenas para se promover? Não, isso não. Natasha era uma puta classe A. Percebi, então, que se tratava de uma espécie de Núbia Oliver, Cristina Mortagua ou uma Daniela Cicarelli mais destrambelhada. Antes do intervalo, ela perguntou se poderia fumar e a produção disse que não. Então um whisky por favor. Sim, serve um whisky para Natasha, a verdadeira mulher uruguaia.

(fechou o parêntese)

Depois da cerveja, caminhei umas cinco quadras após meu amigo ter seguido para o seu hotel. Estava quase para correr de tão desesperado para mijar. Eu sabia que não encontraria nada aberto naquele dia, nenhum banheiro salvador, só em casa. Aliviado, percebi que ainda era cedo. Merda de dia que não acaba! Sentei para escrever e depois coloquei um filmeco para rever em casa, Whisky, de Pablo Stoll e Juan Pablo Rebella. Um dos filmes mais belos que assisti sobre a realidade classe média em Montevidéu, que me mostrava que aquele dia que passou era apenas um dia morto, mas que algumas pessoas dessa cidade já estavam mortas e esqueciam de largar a vida.

E os tag lines de novo...

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Foi por uma bunda. E então perdeu a esposa, sua casa, o respeito dos casais amigos e os filhos... Só no fim de semana. A bunda, ele sequer faturou por inteiro.


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Era preciso apenas um telefonema, e ele não teria descido em poucos segundos aqueles 24 andares. Teria poupado o trabalho da perícia e dos garis que recolheram pedaços de seu crânio.


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Assistiu E.T, chorou. 20 anos depois, no remake, chorou. Levou os filhos para ver, chorou. Quando Drew Barrymore mostrou os peitos num filme, sorriu.


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Entrou naquele discurso de políticos de extrema direita com oito dinamites amarradas no seu tronco por baixo da camisa. No palanque, o homem falava coisas condizentes com sua realidade, bem pertinentes ao seu mundo e, de uma forma inédita, tudo pareceu bem claro pra ele. O discurso o convenceu. Mas agora era tarde demais.


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Fez o favor de não levar a namorada a casa de Eugênio para a sessão de música. Descobriu que era gay.


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- O senhor, por favor, poderia me dar uma informação?
- Pois não.
- O senhor também é um fudido?



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Entre quatro paredes: “Me fode como macho de verdade”. Na sala de reuniões, todos achavam Luisa uma santa.


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Comeu, comeu, comeu. Depois enjoou e matou.


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