Nem pretendia postar nada antes de viajar, mas aí a Luly me mandou o link desse curta-metragem uruguaio e fiquei boquiaberto.
Não precisa de muita coisa para destruir Montevidéu.
Obra de gênio.
Dale Mercosul!
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
domingo, 29 de novembro de 2009
No trem para o inferno
Só se vive uma vez, eu acho. Perdi Jesus and Mary Chain em São Paulo no ano passado. Mas agora, mesmo com ingressos esgotados antes da hora em São Paulo , o AC/DC não me escapa. Tô saindo daqui a pouco para Buenos Aires para assistir, no próximo domingo, 6 de dezembro, a última - das três - apresentação dos australianos do AC/DC em solo argentino.
Boa oportunidade para dar uma andada por Buenos Aires e lembrar do motivo que fez nascer esse blog.
Sem contar que ainda devo pegar uma apresentação do El Cuarteto de Nos no mesmo final de semana.
Hasta luego, muchachos.
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Pela estrada de Noll
Era 2002, em Santos, e eu estava deitado em minha cama lendo a última página de Hotel Atlântico, romance de estrada de João Gilberto Noll. Na última linha sentei na cama com um acesso de susto. Devo ter soltado um “ahn!?”, que nem sei se foi sonoro, mas na hora sabia que aquele era em um dos melhores encerramentos de romance que já havia lido na vida. Indiquei para amigos – que tiveram a mesma reação com o final – e elegi o romance como um dos meus favoritos na literatura contemporânea brasileira.
Minha relação com o livro Hotel Atlântico foi algo meio mágico – estava evitando usar essa palavra, mas não tem outra, foi mal. Ouvi falar dele pela primeira vez quando estava numa tarde quente procurando algo novo para ler nas prateleiras da livraria Realejo, em Santos. O dono de lá, o gente boa Zé Luis, me indicou Hotel Atlântico e disse que, pelos autores que estava procurando, eu iria gostar daquilo. Não comprei na hora e segui adiante. Meses depois li o conto Alguma coisa urgentemente, na antologia dos Cem melhores contos do século. Me impressionei com aquela narrativa forte e com a história pesada da relação conturbada entre pai em filho em plena ditadura militar. Foi a hora de dar ouvido ao livreiro e ler o romance.
O encontro
Em 2003, quando trabalhava de repórter do caderno de cultura de um jornal de Belém, recebi um release dizendo que Noll estaria em Belém para uma palestra no Instituto de Artes do Pará. Falei com o editor, liguei para a assessoria, pedi um fotógrafo e consegui uma hora com ele.
À primeira vista, Noll parecia um intelectual de poucas palavras. Na sala em que reunimos para a entrevista, estavam as duas assessoras de imprensa do Iap e o escritor paraense Vicente Cecim. Esperei minha hora e, quando finalmente pude entrevista-lo, constatei que aquele silêncio derivava de algo mais particular do que uma simples timidez.
Noll fala devagar, fecha os olhos quando cita algo intenso, respira entre uma palavra e outra e é, acima de tudo, humanamente educado. A entrevista correu muito bem. Ele disse ter ficado surpreso com um repórter que realmente conhecia a sua obra.
Lá fora, já no cigarro descomprometido, lhe confessei que tinha alguns escritos arquivados e queria muito que ele lesse um conto meu e me desse o papo real, se dava pra insistir ou se abandonava o navio.
Mandei o conto “Priscilla”, a história de um escritor velho e sem muito a dizer que se apaixona por uma garota nova. Meu conto era propositalmente um clichê “nabokoviano”. Na semana seguinte ele respondeu dizendo que havia gostado muito do conto, que minha história era boa e que desistir daquilo seria uma péssima idéia. Poderia estar sendo educado, claro, mas guardei aquelas palavras durante um bom tempo, depois as arquivei na gaveta e, então, só as retirei hoje, uma semana depois de ter visto o filme de Suzana Amaral.
O filme
Minha mãe e meu pai costumam ter uma opinião parecida com a minha em relação a filmes. Raramente discordamos. E então um belo dia abro o jornal e vejo que, finalmente, Hotel Atlântico estava nos cinemas de Belém. Falei animado com ela na hora do almoço, no que ela rebateu um tristonho “é, eu vi, achei uma porcaria”. Imaginei na hora que poderia ser por dois motivos: 1 – ela não ter lido o livro; 2 – Suzana Amaral ter perdido a mão e errado na adaptação de um livro difícil para o cinema. Foi o número 1. Quem não leu o livro tem tudo para achar o filme uma grande merda.
Fui sozinho. No cinema havia uns tipos que estavam ali para sacar um peitinho da Mariana Ximenes. Desconfio de gente assim – e em determinados momentos eles estragaram a sessão rindo do desnecessário. Logo no começo, um indicativo de que a diretora acertara. Imediatamente eu recordei da narrativa do filme. A cada cena que avançava eu só tinha certeza de que a velhinha Suzana Amaral havia mergulhado no livro da mesma maneira que eu e que a escolha de Julio Andrade (o novo ator favorito para adaptações literárias) foi acertadíssima. Na entrevista que havia feito com Noll, ele disse que Paulo César Pereio estava cotado para o papel. Ainda bem que não rolou.
Apenas uma decepção grande com o filme: o final foi um despencar das nuvens. Um livro que termina daquela forma não poderia encerrar de uma maneira menos trágica. Tudo bem, aí vai a liberdade da diretora, que optou por algo menos dramático e mais confuso. Mas nada disso tira o crédito da adaptação acertada de Suzana Amaral. Lá fora, neguinho a comparou a Antonioni e David Lynch, mas ainda bem que não era nada disso.
Hotel Atlântico foi uma de minhas maiores inspirações. Vidrado em histórias de estrada e tipo esquisitos que se encontra por aí, a narrativa de Noll propõe um mergulho nos tipos brasileiros e em algo bem mais profundo do que um simples enredo, um personagem que carrega a vida para cima e pra baixo, sem carteira e sem mochila, e esperando o momento certo para dispará-la, como a última bala do coldre.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Eu nunca soube onde isso tudo ia dar
Me despeço dos dias de agonia que anteciparam o 4° Festival Se Rasgum, evento que a cada ano me faz questionar minha insistência na música. As batatas da perna estão duras, assim como o pescoço que ficou dias e dias tenso e aperreado.
I
Tudo começou em dias de noites calmas dominadas por playboys e sem muito espaço para quem queria dançar ao som de Pixies e Autoramas. Era 2003 e eu havia acabado de voltar a Belém depois de quatro anos em Santos, vivendo a atmosfera surfwear de um lugar completamente inóspito para a minha alma.
Voltei afim de onda. E Belém tinha o Randy, o Dudu e o Gustavo. E aquelas noites de cerveja gelada, cigarros e histórias de bebedeiras, maconheirice e de juventude anos 90 nos levou a suscitar uma festa de rock em Belém. Eu e Randy fomos atrás do local, achamos, negociamos, fechamos data e eu coloquei uma nota no jornal. Todos os nossos amigos foram. A última música da noite foi The Concept, do Teenage Fanclub. Pagamos as despesas, a conta do bar e voltamos felizes para casa sem saber o que fazer.
II
11 de junho de 2005, dois anos depois. Wander Wildner andava pelo quintal do Café com Arte (casa que desbravamos no final de 2003) e me falava do quanto aquilo o lembrava o Garagem Hermética, de Porto Alegre. Do lado de fora, muitas pessoas ainda insistiam em pagar a mais pelo ingresso para adentrar a casa que já estava com a lotação máxima. O show foi uma hora e meia da voz e da guitarra de Wander, e terminou com a banda local Stereoscope o acompanhando em três hinos dessa geração. Com o piso balançando, cerca de 300 pessoas cantavam “Eu tenho uma camiseta escrita eu te amo”, um dos maiores hinos dessa geração.
Wander voltou a Belém no primeiro Festival Se Rasgum – ainda intitulado Se Rasgum no Rock – fez tolice e só entrou no palco depois que eu o convenci. E lá estava armado o circo. Belém recebia pela primeira vez um evento que misturava guitarrada, lambada, ritmos quentes e rock ‘n’ roll.
III
No carro, o ar-condicionado refrescava pouco. Olhava para cima e via nuvens, mas acreditava que naquela noite o céu não desabaria, como na noite anterior.
Eram 10h de sábado, 14 de novembro de 2009, e eu andava pelo bairro de Nazaré telefonando feito louco para arrumar um motorista para uma van que consegui com o Governo. A cabeça e as pernas doíam e eu tinha que ir até Icoaraci depois da noite anterior, uma sexta-feira 13 marcada pela correria de colocar para funcionar o primeiro dia de um festival com 10 bandas ansiosas por um palco. Como o caminho era longo, pude recordar da noite anterior em que a Nação Zumbi entrou no palco antes da hora – pois tinham um vôo às 5h – e deu aos fãs o que eles queriam: sucessos de Chico Science, a guitarra de Lúcio Maia e a batida dos tambores pernambucanos. Mas o que tinha naquela sexta-feira 13 de tão especial estava além de uma headline.
Lembrei da boa vontade da galera do Bonde do Rolê em encerrar a noite após o show explosivo de Gaby Amarantos e seu Tecnoshow; do amigo Jesus Sanchez se divertindo no palco com seus amigos Loco Sosa e André Abujamra no Gork; da parceria acertada entre Pro.efx e Arcanjo Ras; do powerpop “teenageano” dos Baudelaires; do folk pop do Elder e seu Ataque Fantasma; das vibrações positivas emanadas pelo Juca Culatra e seu fodérrimo power trio; do som bem feito e sofisticado dos mineiros do Dead Lover’s Twistted Heart; e da diversão promovida por Tatá Aeroplano e seu Cérebro Eletrônico. No final da noite, não acreditava que ainda estava no começo. Fiquei ansioso para que aquilo tudo acabasse, como fico todo ano.
E então o sábado chegou, aquelas nuvens eram só ameaças e a noite correu maravilhosamente bem com os cinco primeiros shows de rock: Aeroplano, Dharma Burns, Radiotape, Johny Rockstar e Milocovik. A garotada já tinha entrado no clima e todos os shows foram bons, com aquela garra de segurar os 30 minutos no palco dando o melhor de si. Sempre funciona e garante apresentações fantásticas. A outra metade da noite foi dedicada à diversidade que assumimos descaradamente.
Marku Ribas e seu samba pesadaço que despensa overdrive iniciou a nova fase. Foi com o Pinduca que vi que aquela escalação funcionou. Não que o show tenha sido algo escandaloso. Foi um show normal, um show de Pinduca. De perto da housemix vi a moçada dançando o carimbó envenenado de Pinduca e se entregando de uma vez por todas à música regional de uma forma que deixa qualquer produtor orgulhoso pra caralho de fazer um festival em Belém – ainda que o público pirangueiro insista em ser a maioria. A mesma alegria que toma conta quando vejo um veterano idealista e cheio de princípios como Ras Bernardo dançar e cantar alegremente ao lado do Digital Dubs e de B Negão.
Mas foi no show seguinte que realmente pude constatar que aquela noite era mágica. Fomos criticados por alguns fãs de música da moda de colocar bandas que não estão mais em evidência no festival. Era o que diziam da Comunidade Nin-Jitsu, que se apresentou pela primeira vez em Belém e fez o melhor show da noite na minha opinião. O rock ’n’ roll da guitarra SG de Fred Chernobyll, os samplers de funk e a tiração de onda de Mano Changes colocaram o African Bar para dançar freneticamente. Mano Changes percebeu o espírito do Se Rasgum e declarou: “Isso é que é um festival com um público bom, sem preconceitos e sempre disposto a curtir todos os estilos”. Era isso mesmo, Mano Changes, era isso que eu queria que todo mundo entendesse. Belém tem um público foda, aberto a vários estilos e talvez o melhor que já tenha visto. A noite ainda teve Música Magneta (que já falei aqui) e Pato Fu, com todos aqueles sucessos e a simpatia peculiar de mineiro.
Nosso domingão rock vingou. Apesar da queda dos Retrofoguetes (uma das bandas mais esperadas por mim), a noite foi de grandes surpresas: Hablan Por La Espalda e Godzilla; de venerar o novo (Amp, Clube de Vanguarda Celestial, Sincera e Inverso Falante) e de respeitar os mais velhos (Delinqüentes, Stress e Velhas Virgens). E o Matanza? Bom, o Matanza é sempre o Matanza – de entenda como quiser.
Minha pernas ainda doem. O saldo geral foi legal. Ainda estou sem saber o que achar disso tudo, como se estivesse parido mais um filho e sabendo como vou criá-lo, mas ainda curtindo o final da gestação. Não é hora de comemorar vitória, mas deitar a cabeça no travesseiro e saber que, no final das contas, até que deu tudo certo.
Os uruguaios do Hablan Por La Espalda
Gork é o novo rock
Eu quero ter um milhão de amigos
Praça de alimentação
Comunidade Nin-Jitsu está de volta!
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Coisas para se fazer antes de 2009 acabar
- Fazer uma festa Se Rasgum Clássica dia 27 para extravasar a agonia do festival tocando um monte de rock ‘n’ roll no Café com Arte.
- Passar o aniversário do meu sobrinho com ele e finalmente dar de presente o Buzz Lightyear.
- Assistir novamente a trilogia de O Poderoso Chefão.
- Finalmente terminar de revisar e dar os tapas finais na porra do meu livro – que já virou uma novela sem fim.
- Assistir ao show do AC/DC em Buenos Aires ao lado da minha namorada e dois dos meus melhores amigos.
- Ler pelos menos dois romances até o ano acabar.
- Ensaiar com o Presidente Elvis para o 7° Jingle Hell, a única oportunidade anual de reunir a banda para um show.
- Fazer mais uma festa Ins’anos 90.
- Não procurar emprego.
- Operar o ombro.
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