domingo, 13 de março de 2011

Ainda bem em Belém - II


Quando escrevi sobre Belém no post anterior foi pensando somente nas últimas experiências que vivi, nas conversas que tive e no brilho de orgulho que flagrei no olhar de quem volta para Belém para passar uns dias.

Como é um assunto muito comum não só entre a minha geração como em todas as outras que sentem essa cuíra, acho um tópico merecedor de uma seqüência.

O Gustavo Godinho acrescentou um ponto muito importante sobre essa passividade toda da nossa geração, e que vai permitir que as coisas ainda  fiquem  como estão por um bom tempo. 

São em momentos como esse que desatamos o nó na garganta e conseguimos colocar para fora. Abaixo, as palavras do Godinho:


“Eu acho que faltou no teu texto um assunto fundamental: a gente tá abandonando a cidade de uma forma mais ampla quando vamos embora. É uma geração sem qualquer engajamento com o desenvolvimento desse lugar. Damos uma banana pra Belém a lá Reginaldo Faria quando o avião decola em direção a São Paulo. deixamos pra trás o nosso povo (pais, mães, irmãos pequenos, nossos futuros filhos e os filhos dos nossos amigos que não poderão viver fora) na mão de um monte de parasitas que se elegerão vereadores, deputados, e sangrarão o estado até não poder mais pra sustentar uns luxos mesquinhos. Quando ficamos em Belém, fazemos o papel de "indignados do twitter" - vai saber se pro bem da cidade ou pra compor um bom case de nós mesmos. Se nós somos a elite criativa, intelectual, seja lá o que for, então tá explicado a cidade ser do jeito que faz a gente renegá-la. Somos uma geração passiva e vamos assistir os playboys que sempre achamos idiotas dominarem a nossa cidade como dominavam o pátio do colégio quando éramos moleques. A diferença é que agora não adianta ir buscar conforto espiritual na música pop e nem ficar pelos cantos dando risos irônicos. A gente tá ficando velho.”

terça-feira, 8 de março de 2011

Ainda bem em Belém


Ainda bem que Bin Laden não se confundiu (Foto roubada de algum Facebook)

Por que diabos Belém? É até com uma certa freqüência que ponho em cheque as apostas e a escolha que fiz na minha vida. Sofro de um certo tipo de inquietude que jamais me faria imaginar que meu lugar seria a minha cidade. A reflexão ficou mais forte de um tempo pra cá depois de conversas longas e sustentadas por mentiras sinceras de quem escolheu viver fora.

Sou uma pessoa inquieta, chata e mesquinha no que diz respeito a se achar mais importante do que realmente sou. Não é a toa que sou amigo de pessoas igualmente inquietas, chatas e mesquinhas no que diz respeito a se dar mais importância do que realmente tem. E, dessa forma, meus grandes amigos foram embora. Os que restaram nessa cidade já experimentaram a sensação de ir e voltar. Mas talvez a questão de voltar seja a que mais incomoda, o xis da questão, a grande dúvida, a inquietação que não tem cura.

Conversas com mães são reveladoras. A minha bate um bolão e me abre a cabeça com verdades que, às vezes, ainda tento rebater com desculpinhas. Ela me confessou que se preparou emocionalmente a vida inteira para me ter longe dela. Ela e meu pai tinham certeza que durante a infância e a adolescência meu lugar não era Belém. Em 1999, meu saco encheu dessa cidade e me mandei para a bela cidade de Santos - que hoje sinto alguma saudade.

Deu 2003, me formei e era a hora de voltar. Um ciclo havia se fechado e eu, definitivamente, não gostaria de iniciar outro lá. Em Belém existia emprego para a minha profissão e tudo o que eu queria era estar perto da minha família, viver as coisas com o olhar de quem viveu só em outra cidade, acompanhar o crescimento do meu irmão e estar próximos de meus velhos amigos – havia deixado novos grandes amigos em Santos que, assim como eu, também não trajavam skate wear.

Foi quando achei que deveria fazer alguma coisa, pois naquele ano, 2003, Belém me olhou de uma forma diferente. Vivo um namoro de mais de nove anos estável, mas com direito a pequenas recaídas, traições e discussões que sempre tentam tornar a relação mais agradável. Vivo em uma decência que criei mesmo com a umidade que faz minha testa escorrer, não me deixa caminhar como eu gostaria e me apresenta uma cozinha peculiar que me engordou um bocado.

Um dia, voltando de Barcarena com o carro em uma balsa - após uma entrevista com o Mestre Vieira, e acompanhado do Pio Lobato, Félix e Renato Reis – cansei da paisagem e fui para o carro tirar um cochilo no ar-condicionado (pois é). Acordei e vi, de longe, o skyline de Belém. Um sorriso particular de canto de boca e uma sensação de conforto. No suspiro que dei, a idéia de que talvez meu futuro não seja essa cidade, mas agora, o pouco que tenho a contribuir vai ser empregado no nicho de mercado que me meti, a música. Foda é sair, crescer e empregar tudo pros outros e ainda calar o sentimento de saudade. Não saberia viver assim. Tem gente que sabe e que até muda o sotaque.

Parafraseando o Cássio Tavernard, me tornei aquele cara que vai até o aeroporto levar os amigos que vão embora. Eles vão e eu fico. Todos eles estão bem e construíram o que tem por mérito próprio, competência e, acredito, pela vantagem de ser alguém de fora que tem uma visão diferente das coisas e que não cresceu na capital mais disputada do Brasil. E em outros momentos, depois dos prazeres que a cidade me provoca freqüentemente, me pergunto: Porque não Belém?