terça-feira, 29 de setembro de 2009
Free Polanski
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Da mama ao caos
Depois de seis dias em Recife, volto para casa com o fôlego renovado, a cabeça fervilhando de idéias e diversas farpas a disparar. Mas vou segurar a onda, afinal férias são para distanciar o homem de cometer uma possível chacina num pico de estresse e desespero. No meu caso, os dias de folga foram para estabelecer contatos e trabalhar ainda mais no que enxergo como meu projeto de vida atual: o Festival Se Rasgum.
E não há lugar mais oportuno do que Recife para se conectar a produtores, bandas e imprensa. É lá que rolam pelo menos quatro festivais importantes: Rec Beat, Abril Pro Rock, Mimo e Coquetel Molotov, que tive o prazer de conhecer e analisar como o festival do futuro. Recife respira cultura, embora não tenha nenhum evento regular acontecendo durante o ano inteiro. Lá, eles reclamam muito que às vezes tem muita coisa e de repente não nada. De qualquer forma, ter se tornado rota de shows internacionais e parir tipos de Jam da Silva a Chico Science já imprime um respeito danado.
Estive durante todos esses dias na companhia de dois gaúchos (Iuri Freiberger e Rochele), um monte de pernambucano gente fina e de um carioca de berço e pernambucano de coração: Marcelo Gomes, o “Gomão” da banda Vamoz. A confusão de sotaque era uma cagada só. Mas ainda ecoa o “visse” recifense e o “bah” gaúcho.
Tirei um tempo para me desconectar da grande rede de computadores também. Poderia parar o tempo todo e vomitar os insights que tinha por aqui, mas preferi me atirar no conforto da rede, nas pernadas pela cidade e na fumaceira e viagens etílicas que ela proporciona.
Ainda tenho muito o que falar sobre Gomão e a banda Vamoz, o Coquetel Molotov, filme novo do Lars Von Trier, bandas que se acham mais do que são, quebra de paradigmas e do quanto eu achei foda o show do Lô Borges.
Inté, visse?
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Dias de noites longas (Recife – Parte I)
Acordei meio em cima da hora, naquelas de desligar o despertador e tirar mais cinco minutos de soneca. Esqueci que não era dia de trabalho e acabei esticando o sono por 30 minutos. Quase perco o vôo. Meu pai me levou ao aeroporto e no caminho fomos conversando sobre a evolução do cinema pornô brasileiro e de suas principais representantes na atuação.
Em Recife, o bróder Iuri Freiberger me hospeda em seu apartamento, onde paramos para jogar minhas coisas e, depois, entupir as artérias no buffet mais próximo. O que pegou mesmo foi depois do almoço, já que na noite anterior me deixei levar pelo DVD do Seinfeld e fui dormir às 3h. Dormir no avião nunca é legal, ainda mais ao lado da saída de emergência numa poltrona que não reclina os 5 cm de direito dos pobres tripulantes. Aproveitei que meu anfitrião foi tirar um ronco e me prostrei no sofá em frente à TV ligado na Márcia Goldsmith. Depois, já com uma rede armada na varanda, peguei o Garth Ennis para ler e deitei lá, pegando o ventão que vinha da praia de Boa Viagem, que eu vi dali, deitadão, numa caricatura típica de férias.
Cai no sono de novo e acordei às 17h30 com o céu escuro. Tomei um susto. Havia esquecido desse detalhe sobre Recife. Aqui o dia começa e termina cedo. Mas está na hora de me acostumar, pois, para mim, esses próximos dias terão as noites mais longas.
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
O dia ficou sem harmonia
Pra falar a verdade tenho achado que está tudo bem quando não está. Existem milhões de maneiras de se enganar, e jogar a realidade para planos futuros é uma delas. Será que a crise dos 30 se estende até os 40? Ou será que aos 40 já viramos dinossauros saudosistas?
No trânsito, parado no sinal, o rapaz de camiseta-abadá e boné de loja de tintas me oferecia através do vidro um Brasileirinhas qualquer com uma raba bem photoshopada. Ali, sem pensar em nada e achando tudo normal, percebi que tudo se acalmou novamente, escorregou para o comodismo e a preguiça de soltar sobre barreiras. No carro e a intenção do ar-condicionado era boa, mas Belém não ajuda. Neil Young no som procurando um rio para mijar e eu um buraco para comprar uma coca-cola antes de chegar ao trabalho.
Parei o carro e entrei no que parecia uma simples lan house, e logo de cara vi que o dono era um bróder da minha idade que estudou comigo no colégio. Nunca nos falamos e sequer sei o nome dele e ele o meu. Mas era um moleque eu, gratuitamente, ia com a cara. Talvez por ser na dele, de poucos amigos, assim como eu – eu era um weirdo no segundo grau.
Ele estava lá num computador, mandou o filho pegar um refrigerante de 600 ml lá dentro, enquanto a esposa estava sentada ao lado fazendo contas e discutindo assuntos domésticos com ele. Do lado de fora, o carro dele me deu uma certa inveja. Era um desses japoneses importados velhacos caindo aos pedaços. Desde o Uruguai que tenho fixação por carros assim. Na piedade em vão que fiz sobre o cara, tentei ver achar que ele levava uma vida legal, apesar de tudo. E tentei me dar uma chance e achar que nem tudo estava tão ruim, só era hora de começar algo novo. Ou investir mais nos velhos planos. E que a hora seja essa.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Ins’anos 90 está de volta
Dividida por categorias e DJs residentes e convidados, a música da década passada nunca esteve tão bem representada: DJ Salsicha (nacional, manguebeat), Damasound (trash, indie), G Bandini (grunge, rock, indie) e os convidados Felipe Proença e Fernando Souza, o eterno DJ da Insãnu que colocou todo mundo para cantar nas duas primeiras edições da festa. Se você pensa que a década de 90 não teve identidade, apareça e veja o quanto você está enganado.
PROMOÇÃO – Além de pagar 10 reais de entrada até meia-noite, você também será aquecido imediatamente com a promoção de double shot de tequila (sacumé, né? Compre uma e leve outra). E avisando que teremos promoção de Cerpinha, com três por 10 dinheiros.
A festa Ins’anos 90 integra o Circuito Numineure, formado ainda pelas festas Meachuta, Frica e Babeleska. Aguardem novidades e anotem esse endereço: Travessa Jerônimo Pimentel, 201. Bem no olho do furacão, a Ibiza chega de vez para se tornar seu lugar preferido na noite de Belém.
SERVIÇO
Festa Ins’anos 90
Data e hora: 12 de setembro, a partir das 22h.
Local: Ibiza (Travessa Jerônimo Pimentel, 201)
Ingressos: 10 dinheiros até meia-noite / 15 pilas após.
domingo, 6 de setembro de 2009
Uma visita rara
Quando vi o cartaz do filme O visitante, no Moviecom Castanheira (o pior da face da Terra), fiquei louco para que ele estreasse logo, mesmo que fosse naquela merda de cinema que só funciona com 20% do ar-condicionado. O cartaz do filme já me dizia alguma coisa: um senhor bem vestido tocando percussão em uma estação de metrô. Além disso, ao cartaz informava também que era o novo filme de Thomas McCarthy, o diretor de O agente da estação - que toda vez que alugo o balconista da locadora sempre tenta lembrar: “o senhor já locou esse filme... e várias vezes”.
O visitante é um filme que toca na delicada questão da imigração ilegal nos Estados Unidos pós-11 de setembro, mas que na verdade só serve de pano de fundo para o assunto preferido de McCarthy: as relações humanas. O tema me comove bastante ultimamente, em épocas que a palavra “digital” é mais empregada do que qualquer outra do Aurélio. No filme, Richard Jenkins é Walter Vale, um professor e escritor de Connecticut que trabalha, sem muito entusiasmo, no tema de seu próximo livro: a economia em países em desenvolvimento. Ele tenta aprender tocar piano a todo custo, mesmo depois de uma de suas professoras particulares falar que não adianta insistência quando não se tem talento. Para ele, a vida seguia mecanicamente e sem sorrisos no rosto, até que ele tem que ir a Nova York a trabalho e, ao entrar em seu apartamento, encontra um casal de estrangeiros que havia “alugado” o apartamento de um picareta qualquer. Com pena do casal (ele sírio e ela senegalesa), ele deixa que os dois fiquem em sua casa até arrumarem um lugar para ir. E é quando nasce a amizade entre ele o cara, um percussionista boa praça que começa a incentivar o batuque na veia do intelectual.
Reviravoltas à parte, O visitante fala sobre paixão pela música e de mandar a vida de escritório para o inferno (por mais que isso não apareça como o “recado” em primeiro plano do filme). Acima de tudo é uma história que envolve relações humanas, independentes de raça e etnia, que levam ao encorajamento de decisões fundamentais para se fazer o que quer da vida, e não continuar mantendo o que ela fez de nós.
O filme ainda não foi para o cinema e, infelizmente, o vi disponível na prateleira da locadora. E como se não bastasse essa agonia solitária do mundo digital estar acabando com as relações humanas, ainda tem os cinemas que se reduziram a salas ruins que projetam os mesmos filmes escrotos e mandam as melhores histórias - aquelas que pedem um envolvimento grande com uma sala de projeção - direto para prateiras de locadoras.