terça-feira, 29 de setembro de 2009

Free Polanski



Tenho um fascínio de curisidade muito grande por psicopatas líderes de seitas. É o que, até hoje, me faz avaliar o grau de persuasão de certas pessoas para o bem ou para o mal. Existe uma forte vocação em alguns para liderarem grupos e conseguirem atingir seus objetivos, coisa que sozinhos jamais conseguiriam. Para o bem ou para o mal. E tudo isso para falar de Charles Manson, de Sharon Tate e de Roman Polanski.



 Sharon Tate e Roman Polanski




Eu devia ser adolescente quando tive o primeiro contato com a história da Família Manson. Foi através de uma Revista Bizz, que resenhava o disco The Spaghetti Incident, do Guns ‘N’ Roses, e levantava uma polêmica devido ao Axl Rose ter gravado como faixa escondida Since i don´t have you, do Charles Manson. A mesma matéria trazia o Axl vestindo uma camiseta com o rosto do Manson.


Depois li mais algumas coisas e vi filmes sobre a Família Manson e o assassinato de Sharon Tate, então esposa de Roman Polanski. Foi um pouco antes que assisti O Bebê de Rosemary, a primeira vez que vi um terror sem sustos, sangue e monstros. Terror psicológico, um gênero bem mais pesado que o terror convencional. E depois veio Lua de Fel e Busca Frenética. E então comecei a achar Polanski um daqueles diretores legais. Até ver O pianista e passar a considerá-lo um gênio.


A trajetória de vida do cineasta polonês é das mais interessantes. Penso no quanto deve ser interessante uma biografia do cineasta. Polanski é francês e filho de poloneses. Perdeu sua mãe nos campos de concentrações de Hitler e escapou da morte fugindo de um lado para o outro durante a Segunda Guerra Mundial (lembrança retratada em O pianista), perdeu a esposa grávida para Manson e sua turma e, por fim, resolveu fazer aquela farra com a ninfeta na casa do Jack Nicholson. Ele ainda paga um preço alto por isso até hoje, sendo vítima do moralismo impiedoso dos americanos.


No blog do Marcelo Rubens Paiva, que roteirizou um documentário sobre o cineasta, ele mostra a tradução que fez do depoimento de Samantha Jane Geimer, a ninfeta em questão, no julgamento de 1977. Na boa? Depois, ela até retirou a queixa. Vamos lá que uma menina de 13 anos pode cair na lábia de qualquer malandrão, ainda mais um que use a palavra “fama” e o nome de “Jack Nicholson” para convencer. Mas Samantha já havia admitido que não lutou contra, que tirou sua roupa sozinha e que já havia tido relações sexuais com dois homens antes.


Depois de ter cumprido pena de 40 dias e ter pago fiança, Roman nunca mais voltou aos Estados Unidos, o mesmo país que criou um dos assassinos mais conhecidos do mundo, que tirou sua mulher e seu filho, e que busca mostrar, a qualquer preço, que sua justiça tarda mas não falha. Um país moralista que, curiosamente, é cenário de crimes macabros, de uma violência ímpar, mas de pessoas que se orgulham de viver num país onde reina a “justiça absoluta”.


Tem crimes que o mundo não esquece, como o de Sharon Tate. E tem outros, que os americanos fazem questão de não esquecer. Vamos lá, Free Polanski!




Sharon Tate a estonteante beleza 70's



quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Da mama ao caos




Depois de seis dias em Recife, volto para casa com o fôlego renovado, a cabeça fervilhando de idéias e diversas farpas a disparar. Mas vou segurar a onda, afinal férias são para distanciar o homem de cometer uma possível chacina num pico de estresse e desespero. No meu caso, os dias de folga foram para estabelecer contatos e trabalhar ainda mais no que enxergo como meu projeto de vida atual: o Festival Se Rasgum.


E não há lugar mais oportuno do que Recife para se conectar a produtores, bandas e imprensa. É lá que rolam pelo menos quatro festivais importantes: Rec Beat, Abril Pro Rock, Mimo e Coquetel Molotov, que tive o prazer de conhecer e analisar como o festival do futuro. Recife respira cultura, embora não tenha nenhum evento regular acontecendo durante o ano inteiro. Lá, eles reclamam muito que às vezes tem muita coisa e de repente não nada. De qualquer forma, ter se tornado rota de shows internacionais e parir tipos de Jam da Silva a Chico Science já imprime um respeito danado.


Estive durante todos esses dias na companhia de dois gaúchos (Iuri Freiberger e Rochele), um monte de pernambucano gente fina e de um carioca de berço e pernambucano de coração: Marcelo Gomes, o “Gomão” da banda Vamoz. A confusão de sotaque era uma cagada só. Mas ainda ecoa o “visse” recifense e o “bah” gaúcho.


Tirei um tempo para me desconectar da grande rede de computadores também. Poderia parar o tempo todo e vomitar os insights que tinha por aqui, mas preferi me atirar no conforto da rede, nas pernadas pela cidade e na fumaceira e viagens etílicas que ela proporciona.


Ainda tenho muito o que falar sobre Gomão e a banda Vamoz, o Coquetel Molotov, filme novo do Lars Von Trier, bandas que se acham mais do que são, quebra de paradigmas e do quanto eu achei foda o show do Lô Borges.


Inté, visse?

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Dias de noites longas (Recife – Parte I)

Dez dias de férias para ficar off, colocar as coisas em ordem, dar uma chegada em Recife e ampliar o networking (tem termos no meio da produção cultural que eu gostaria mandar pra casa do caralho). Vim aqui conferir o festival Coquetel Molotov, da parceira Tathianna Nunes, e ficar uns dias de molho. Recife é uma cidadezinha que eu gosto, mistura o horror de grandes centros urbanos com a simpatia peculiar de seu povo e vistas escandalosamente bonitas de suas praias e balneários dos arredores.

Acordei meio em cima da hora, naquelas de desligar o despertador e tirar mais cinco minutos de soneca. Esqueci que não era dia de trabalho e acabei esticando o sono por 30 minutos. Quase perco o vôo. Meu pai me levou ao aeroporto e no caminho fomos conversando sobre a evolução do cinema pornô brasileiro e de suas principais representantes na atuação.

Em Recife, o bróder Iuri Freiberger me hospeda em seu apartamento, onde paramos para jogar minhas coisas e, depois, entupir as artérias no buffet mais próximo. O que pegou mesmo foi depois do almoço, já que na noite anterior me deixei levar pelo DVD do Seinfeld e fui dormir às 3h. Dormir no avião nunca é legal, ainda mais ao lado da saída de emergência numa poltrona que não reclina os 5 cm de direito dos pobres tripulantes. Aproveitei que meu anfitrião foi tirar um ronco e me prostrei no sofá em frente à TV ligado na Márcia Goldsmith. Depois, já com uma rede armada na varanda, peguei o Garth Ennis para ler e deitei lá, pegando o ventão que vinha da praia de Boa Viagem, que eu vi dali, deitadão, numa caricatura típica de férias.

Cai no sono de novo e acordei às 17h30 com o céu escuro. Tomei um susto. Havia esquecido desse detalhe sobre Recife. Aqui o dia começa e termina cedo. Mas está na hora de me acostumar, pois, para mim, esses próximos dias terão as noites mais longas.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O dia ficou sem harmonia




Pra falar a verdade tenho achado que está tudo bem quando não está. Existem milhões de maneiras de se enganar, e jogar a realidade para planos futuros é uma delas. Será que a crise dos 30 se estende até os 40? Ou será que aos 40 já viramos dinossauros saudosistas?


No trânsito, parado no sinal, o rapaz de camiseta-abadá e boné de loja de tintas me oferecia através do vidro um Brasileirinhas qualquer com uma raba bem photoshopada. Ali, sem pensar em nada e achando tudo normal, percebi que tudo se acalmou novamente, escorregou para o comodismo e a preguiça de soltar sobre barreiras. No carro e a intenção do ar-condicionado era boa, mas Belém não ajuda. Neil Young no som procurando um rio para mijar e eu um buraco para comprar uma coca-cola antes de chegar ao trabalho.


Parei o carro e entrei no que parecia uma simples lan house, e logo de cara vi que o dono era um bróder da minha idade que estudou comigo no colégio. Nunca nos falamos e sequer sei o nome dele e ele o meu. Mas era um moleque eu, gratuitamente, ia com a cara. Talvez por ser na dele, de poucos amigos, assim como eu – eu era um weirdo no segundo grau.


Ele estava lá num computador, mandou o filho pegar um refrigerante de 600 ml lá dentro, enquanto a esposa estava sentada ao lado fazendo contas e discutindo assuntos domésticos com ele. Do lado de fora, o carro dele me deu uma certa inveja. Era um desses japoneses importados velhacos caindo aos pedaços. Desde o Uruguai que tenho fixação por carros assim. Na piedade em vão que fiz sobre o cara, tentei ver achar que ele levava uma vida legal, apesar de tudo. E tentei me dar uma chance e achar que nem tudo estava tão ruim, só era hora de começar algo novo. Ou investir mais nos velhos planos. E que a hora seja essa.


quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Ins’anos 90 está de volta

Em casa nova, a festa mais nostálgica e beberrona da Dançum Se Rasgum volta para o circuitão na boate Ibiza (ex-BBC), sábado, 12 de setembro




O revival mais divertido à época mais injustiçada está de volta! A Dançum Se Rasgum Produciones muda de casa e retorna com a Ins‘anos 90, a festa que retoma o espírito da boate mais legal dos anos 90 trazendo grandes hits da época, que fizeram a alegria de uns e a tristeza de outros. Na Ibiza (ex-BBC), a festa veste a camisa xadrez e vai de calça bag dançar desde Stone Temple Pilots a Planet Hemp, passando pelo mergulho trash de Goo Goo Dolls, Take That, Deadeye Dick, New Radicals etc. Também damos um gás aos ícones que nos fizeram quem somos hoje: Nirvana, Pixies, Teenage Fanclub, Dinosaur Jr, Oasis, Suede, Blur, Beck etc.

Dividida por categorias e DJs residentes e convidados, a música da década passada nunca esteve tão bem representada: DJ Salsicha (nacional, manguebeat), Damasound (trash, indie), G Bandini (grunge, rock, indie) e os convidados Felipe Proença e Fernando Souza, o eterno DJ da Insãnu que colocou todo mundo para cantar nas duas primeiras edições da festa. Se você pensa que a década de 90 não teve identidade, apareça e veja o quanto você está enganado.

PROMOÇÃO – Além de pagar 10 reais de entrada até meia-noite, você também será aquecido imediatamente com a promoção de double shot de tequila (sacumé, né? Compre uma e leve outra). E avisando que teremos promoção de Cerpinha, com três por 10 dinheiros.

A festa Ins’anos 90 integra o Circuito Numineure, formado ainda pelas festas Meachuta, Frica e Babeleska. Aguardem novidades e anotem esse endereço: Travessa Jerônimo Pimentel, 201. Bem no olho do furacão, a Ibiza chega de vez para se tornar seu lugar preferido na noite de Belém.

SERVIÇO
Festa Ins’anos 90
Data e hora: 12 de setembro, a partir das 22h.
Local: Ibiza (Travessa Jerônimo Pimentel, 201)
Ingressos: 10 dinheiros até meia-noite / 15 pilas após.


domingo, 6 de setembro de 2009

Uma visita rara



Quando vi o cartaz do filme O visitante, no Moviecom Castanheira (o pior da face da Terra), fiquei louco para que ele estreasse logo, mesmo que fosse naquela merda de cinema que só funciona com 20% do ar-condicionado. O cartaz do filme já me dizia alguma coisa: um senhor bem vestido tocando percussão em uma estação de metrô. Além disso, ao cartaz informava também que era o novo filme de Thomas McCarthy, o diretor de O agente da estação - que toda vez que alugo o balconista da locadora sempre tenta lembrar: “o senhor já locou esse filme... e várias vezes”.

O visitante é um filme que toca na delicada questão da imigração ilegal nos Estados Unidos pós-11 de setembro, mas que na verdade só serve de pano de fundo para o assunto preferido de McCarthy: as relações humanas. O tema me comove bastante ultimamente, em épocas que a palavra “digital” é mais empregada do que qualquer outra do Aurélio. No filme, Richard Jenkins é Walter Vale, um professor e escritor de Connecticut que trabalha, sem muito entusiasmo, no tema de seu próximo livro: a economia em países em desenvolvimento. Ele tenta aprender tocar piano a todo custo, mesmo depois de uma de suas professoras particulares falar que não adianta insistência quando não se tem talento. Para ele, a vida seguia mecanicamente e sem sorrisos no rosto, até que ele tem que ir a Nova York a trabalho e, ao entrar em seu apartamento, encontra um casal de estrangeiros que havia “alugado” o apartamento de um picareta qualquer. Com pena do casal (ele sírio e ela senegalesa), ele deixa que os dois fiquem em sua casa até arrumarem um lugar para ir. E é quando nasce a amizade entre ele o cara, um percussionista boa praça que começa a incentivar o batuque na veia do intelectual.

Reviravoltas à parte, O visitante fala sobre paixão pela música e de mandar a vida de escritório para o inferno (por mais que isso não apareça como o “recado” em primeiro plano do filme). Acima de tudo é uma história que envolve relações humanas, independentes de raça e etnia, que levam ao encorajamento de decisões fundamentais para se fazer o que quer da vida, e não continuar mantendo o que ela fez de nós.

O filme ainda não foi para o cinema e, infelizmente, o vi disponível na prateleira da locadora. E como se não bastasse essa agonia solitária do mundo digital estar acabando com as relações humanas, ainda tem os cinemas que se reduziram a salas ruins que projetam os mesmos filmes escrotos e mandam as melhores histórias - aquelas que pedem um envolvimento grande com uma sala de projeção - direto para prateiras de locadoras.