quinta-feira, 31 de julho de 2008

E todo o cabaré me aplaudiu de pé quando cheguei ao fim


Numa cama de espinhos ela me faz esperar.

E eu espero sem você...

(With or without you – U2)



E tudo vai ficar legal agora, vai ficar ok.

Você sabe que acordei e vi o caminho.

Não desista de mim tão rápido. Vi que fui eu que errei no final.

(Give me another chance – Big Star)



Chapéu de Moranguinho, se tu usa tu é demais

É lá no Locomotiva que tu sabe o que faz

(Randy Rodrigues – Funk do Locô)




Piegas até o caroço. A cada passo um novo enredo e lembranças remotas que poderiam muito bem ilustrar uma vida nova cheia de despeito, mágoas e arrependimentos. Mas é só respirar fundo e concluir: "ufa, é apenas a bipolaridade que sol causa na minha moleira". Depois de tentar causar uma certa destruição emocional, o ócio da nova vida manda avisar que o céu azul está lá, da mesma forma que brilhava antes. O ruim de estar recém-separado é não saber o limite da queda. Mas o melhor é acompanhar atentamente o que alguém - que um dia esteve na mesma merda que você - tentou dizer nas músicas (cafonas e tocantes) que guardam, lá no fundo, o brilho da verdade.


Tenho escutado demasiadamente a música Give me another chance, da injustiçada e genial banda dos anos 70 Big Star. Alex Chilton e Chris Bell conseguiram fazer uma das músicas mais bonitas da história do pop – pena que a banda teve uma carreira curta e nada badalada - com um arranjo de violões inacreditável e versos clamando por um pedido de desculpa e reconhecimento de que, sim, “fui eu que errei por último”. Give me another chance é tão bonita que dá vontade de terminar com a namorada e pedir para voltar tocando essa música numa Marshall Acoustic embaixo da janela dela: “As coisas que eu disse fizeram tudo parecer ruim, mas não te preocupa, porque tudo vai ficar legal agora, tudo ok”.


Bem na hora que eu dobrei aquela esquina tocou a versão original de uma das músicas mais executadas por todas as FMs do mundo: With or without, com o Bono e aquela voz sussurrante falando da merda em que ele estava atolado depois que doida o pénabundeou. Daí fiz a cena da trilha sonora, dobrando a esquina da Assis de Vasconcelos com a Oswaldo Cruz, vendo as putas nas calçadas e entrando numas de colisão entre as emoções urbanas e o sentimento de perda-posse.


Quando li Alta Fidelidade, em 2000, me senti envergonhado com as atitudes criançóides do Rob Fleming, proporcionadas pelo ciúme e sentimento de posse. Quando vi o filme senti mais vergonha ainda e constatei: caralho, é isso mesmo. Já fiz essas panaquices antes. Bom, pelo menos agora sei o quanto é escroto e não faço mais”. E cá estou novamente me vendo no papel démodé do cão sem dono.


A relação da música com a porra da separação fica mais acentuada ainda de manhã, quando vou para o trabalho escutando MPB no carro. Peraí, mermão, esse sou eu? Sim, um eu caminhando para a vida adulta, algo que, mesmo aos 30, ainda está bem distante.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Banquinho & Distorção (Unplugged) de novo!

Galhofa, escárnio, bug de riso


Não deu pra quem quis!

Não, nada a ver com garotas esnobes. É que a demanda de gente pra subir no palco do São Matheus - para uma exuberante mostra de falta de talento, cara-de-pau e bom humor - foi tanta que repetimos a dose nesta terça, 29.

Se você perdeu ou não sabia, a parada é a seguinte: o showman d'além mar Randy Rodrigues oferece dois banquinhos e dois violões para qualquer um da platéia tocar sua música preferida. Vale de tudo - de Borbulhas de Amor a Faroeste Caboclo, passando pelo jingle da Bechara Mattar e Brinquedolândia. Toda noite, dois vencedores (o melhor e o pior) levam de prêmio umas cervejas pra comemorar ou afogar as mágoas.

Antes e depois, DJs Se Rasgum fazem a festa com uma mistureba de Rolling Stones/Jorge Ben/Pavement/Montage, ou seja, o que Deuseodiabo quiser.

Então vai, ainda dá tempo de ensaiar (?) uma canção pra ganhar a gatinha esnobe ou espantar dragão. Se você não toca nada, sem problema. Vai só pra te divertir com a presepada. Mas que vai te dar vontade de subir e cantar aquele clássico trash que tu adoras, ah, isso vai.

SERVIÇO
Banquinho & Distorção (Unplugged) nesta terça-feira, 29, no São Matheus (Padre Eutíquio, 606). O couvert custa só 3 dinheiros e é pra pagar, brôu.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Flerte de verão psicografado




Escreveu aquela carta com a melhor caligrafia num papel caro. Revisou três vezes e até borrifou um pouco de seu perfume para que o cheiro clareasse ainda mais a lembrança dela. Teve o cuidado de mandar via carta registrada. A greve nos correios atrasou mais de um mês a entrega da correspondência. Quando ela recebeu já nem lembrava mais o nome dele. Até hoje ele olha para a caixa de correspondências de sua casa com raiva de não ter mandado um simples e-mail.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Banquinho & Distorção unplugged




É muito talento para pouco palco. E se o palco não pode ser pouco, a Dançum Se Rasgum Produciones revive um dos maiores momentos de sua existência chamando o público para cantar em mais uma edição do Banquinho & Distorção.


Em mais um terça-feira insólita de julho no São Matheus, contando com os DJs da Se Rasgum e o retorno triunfal de Randy Rodrigues, o atazanado anfitrião oficial das Se Rasgum, que receberá os participantes no palco. Serão dois violões e o direito a uma música. E o prêmio, meus queridos, será um balde de cerveja na cabeça!


Seduza nossos jurados, tire as cifras na internet, ensaie no quarto, tome uma tequila pra desinibir e caia na farra das terças mais animadas de julho.



SERVIÇO

Banquinho & Distorção na festa da Serasgum nesta terça-feira, 22, no São Matheus (Padre Eutíquio, 606). O couvert custa só 3 dinheiros e é pra pagar, brôu.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Nome próprio



Cinemão brasileiro com violência, nudez e reflexão. É esse o estilo do cineasta carioca Murilo Salles, que joga nas telonas seu novo longa-metragem Nome próprio, que estréia nesta sexta-feira, 18, no Moviecom 4, do Castanheira Shopping Center. O filme traz Leandra Leal no papel de Camila Jam, jovem de Brasília que vai para São Paulo alimentar a idéia de ser escritora e conviver com os conflitos de uma vida sexual ativa, sem pudores, mas recheada de paixões e esperança.

Lembro que quando era molequinho assisti Faca de Dois Gumes na TV e fiquei chocado com o climão tenso que o filme me passou, parecido com a sensação de proximidade da violência no impacto de Cidade de Deus. Era uma adaptação de um conto de Fernando Sabino onde um advogado corno arma uma vingança contra sua esposa e o melhor amigo traíra. Foi lá, no começo dos anos 90, que comecei a ver que o cinema brasileiro era uma maneira
legal de se conhecer a realidade brasileira, sua linguagem, particularidades e a violência fascinante. Virei fã. Tempos depois li o conto Alguma coisa urgentemente, de João Gilberto Noll, e me apaixonei pela história – o que me fez ler uma porrada de coisas do Noll e encaixá-lo na prateleira dos meus autores favoritos. Outro dia tive a sorte de assistir Nunca fomos tão felizes, na Globo, que reproduzia com uma fidelidade e licença poética incrível o conto de Noll. Algo digno de um acerto de mão do diretor.

Aluguei Seja o que Deus quiser, uma comédia adolescente inteligente que antecedeu O homem que copiava, de Jorge Furtado. Poderia se dizer que um estaria imitando o estilo do outro, mas não. Ambos fizeram comédias adolescentes com uma linguagem inteligente e reviravoltas dignas de um filme adulto. Seja o que Deus quiser depois posou vistoso na minha prateleira de DVDs.

E foi em Sampa que vi um banner enorme de Nome Próprio, com uma arte belíssima e Leandra Leal nua indefinida na arte imitando pixels de um monitor. Antes de mais nada Nome Próprio é um filme que fala sobre uma geração. E neste sentido o diretor cumpre muito bem o papel. Nunca vi Leandra Leal tão bem em um personagem como na pele de Camila, a moça rebelde, moderninha e desencanada de amores convencionais. Camila alimenta um sonho de se tornar escritora, criando um site (começo da febre de blogs na internet) e despejando seus escritos, lamentos, reflexões, solidões etc. Nome Próprio carrega uma linguagem moderna e a direção de arte capricha em vários momentos.



Assim como o filme de Beto Brant, Cão sem dono (que também é adaptado do romance de um escritor da nova geração, Daniel Galera), Nome Próprio traz o texto de Clarah Averbuck, escritora da mesma geração de Galera. Os dois filmes refletem o momento exato de uma geração, algo que ainda não havia sido feito com tanta propriedade no cinema brasileiro. A diferença é que Cão sem dono é todo adaptado do romance Até o dia em que o cão morreu, de Daniel Galera, onde existe um personagem e situações fictícias. Nome próprio tem seu roteiro construído a partir do livro Máquina de Pinball e dos blogs de Averbuck, com textos auto-referentes que sugerem a dúvida sobre o conteúdo autobiográfico ou ficcional.

Jornalistas adoram trilogias. Mas eu não sei costurar muito bem essas ligações e poderia falar merda. Mas bem que Seja o que Deus quiser e Nome Próprio – apesar de linguagens bem diferentes - poderiam culminar em mais um filme que mostre essa nova geração. Enfim, se não for, Nome Próprio já cumpre esse papel.


NOME PRÓPRIO
Moviecom Castanheira, Sala 04
Projeção digital
Às 14h20(sábado e domingo), 16h40, 19h e 21h25

domingo, 13 de julho de 2008

Só no hidratante

Arte fodaça do Gustavo Godinho, hã?



Suavize sua pele queimada toda terça-feira de julho no São Matheus, na farrinha Só no hidratante, a melhor recuperação de um verão em chamas. Nas pick up’s os DJs Se Rasgum Damaso e Bandini - mais convidados. A pequena aventura começa agora, dia 15.

Fica tranqüilo que a insolação não vai te deixar em casa mal humorado numa terça-feira de julho. O segundo dia útil da semana recebe um ar de renovação para encarar a semana de fúria a partir de um som singelo, emanado das caixas do bar São Matheus, como indie, folk, anos 80, black music, pop, samba-rock, powerpop e clássicos dos anos 60 e 70. Nada de strobo, fumaça ou luzes psicodélicas, apenas um climão com música boa, amigos e cerveja gelada.

Bhrama e drinks com preços especiais. À cada festa uma surpresa diferente. Agüente!


SERVIÇO

Só no hidratante, toda terça-feira no São Matheus (Padre Eutíquio, 606), a partir das 21h. Couvert de R$ 3 por pessoa.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Me ajuda! Get my feet back on the ground.



É só o rei.
É só o rei.
Só o Roberto pode me entender.

(River Raid - O Rei)


Estava meio sem grana, mas a noite prometia. Dei uma mais uma pitada no cheque especial, comprei um maço de Parliament e segui para a Lux, boate gay de Belém que, uma quinta-feira por mês, abriga a festa electro-rocker da moçada da Meachuta!, coletivo de produtores e DJs que atrai a nata da juventude moderna e sem precedentes da cidade.

No carro, preocupado com a falta de companhia para adentrar o ambiente queima-filme, dei umas voltas escutando o disco do River Raid, banda pernambucana do início dos anos 90 que não tem nada de mangue-beat. Desci do carro empolgado e consegui entrar na boate acompanhado do casal de amigos Rafael e Suelem, diminuindo as chances de uma queimação de filme gratuita.

Lux é uma boate fora do padrão belenense. Com todo o capricho que um ambiente gay necessita, a boate reza na cartilha e tem desde banheiro unisex até um altar para os mais exibidos rebolarem para o deleite (ou desprazer) de todos. A decoração é ok, de bom gosto, a cerveja sempre estava gelada e a caipirinha terrivelmente doce.

No som, monte de coisa moderna que nunca ouvi falar – o que me confere imediatamente um ar de DJ defasado que fala para outra geração – e a moçadinha estilosa entre 18 e 22 anos cantarolava com devoção algumas. Meninas com corte de cabelo inglês, moleques vestidos de Strokes e vááárias guriazinhas dando uns malhos no meio da pista, deixando a macharada sem fôlego na platéia. Aquela história de “juventude se abraça, se une pra esquecer” aqui já ficou demodê. Juventude se amassa e perde os sentidos sem o menor problema de encarar a imagem da ressaca moral perante o espelho. É o legal da geração internet. O problema é que essa facilidade de informação desnorteia as referências de coisas que se idolatra hoje em dia, sem saber exatamente de onde veio tudo isso.

No palco da boate, um teatro inacreditável de marionetes. Com o mesmo visual, meninos e meninas dançavam freneticamente uma batida eletrônica com os holofotes devidamente virados para eles. Não importava se a bebida havia derrubado um deles no chão do palco, os outros subiam e faziam performances sobre o corpo no local. Nem se o cara que rebolava a bunda com a calça abaixada tinha a cueca manchada. A diversão é o presente e o amanhã é apenas um detalhe insignificante. Impossível não citar The Who novamente: “prefiro morrer antes de envelhecer”.

É aquele papo todo de ficar velho e sentir o peso da mudança nas gerações mais jovens. É uma evolução, talvez, mas ainda não sei se dá para entrar no espírito saudosista da coisa. Depois que a experiência divertidíssima e antropológica acabou, voltei para casa com a sensação de que um novo portal estava se abrindo na minha frente, mas sem a certeza se dá pra se jogar de cabeça. Me ajuda!

domingo, 6 de julho de 2008

Sunday loser sunday

Domingo não é dos melhores dias para amargar a realidade de uma neo-vida solteira. É quando bate a carência e uma certa saudade que, se procurar a fundo, é mais uma questão do conforto de um carinho companheiro e um sexo amistoso, aquele de deixar a letargia dominical mais prazerosa.

Raramente acordo sem ressaca e vontade de vegetar na cama com as articulações detonadas da noite anterior. Não há solidão que a boêmia não compre. Uma hora bate a crise, mas aí basta ir ao cinema ou almoçar com os amigos e a vida volta para o ponto de partida. O balanço da semana vira algo subconsciente e a agonia de encarar os próximos dias arrepia a alma. Quando o saldo da noite anterior é negativo ainda tem a dureza de encarar o fracasso na frente do espelho. Quando é positivo a história é completamente outra. Aliás, se tivesse saldo positivo, tudo escrito acima seria desprezado.

As vantagens de uma vida all by myself são grandes, ainda mais quando se rompe uma relação sem mágoas, mas as pequenas recaídas podem ser catastróficas. Enfim, já falei muito da minha vida pessoal e, como sempre fui contra o blog se tornar um diário, vou mudar o rumo da narrativa e falar do que provocou a letargia dominical.

Noitada de rock ‘n’ roll como têm sido as festas mensais da Dançum Se Rasgum. A de ontem teve um sabor especial pra mim, pois estava na fissura de comandar a pista de casa desde abril. Meu set levou desde Left Behind - música que não consigo parar de escutar do novo Cansei de Ser Sexy – a Real wild one, do Iggy Pop. Baixaria da pesada na pista com uma série de funks gaúchos, pops constrangedores e a atemporal Puteiro em João Pessoa, dos Raimundos. Foi como um daqueles melhores momentos entre 2004 e 2006 das festas que reuniam um monte e amigos e pessoas entediadas com a falta de opção de Belém. Hoje, depois que a Dançum Se Rasgum iniciou essa ordem de festas regulares, uma nova moçada surgiu. Atualmente, Belém acaba tendo um bocado de opções para os outsiders e moderninhos, pena que alguns tocando mais dos mesmos.

Toda essa opção me leva a crer que os domingos são lacunas que, sabendo planejar, podem ser preenchidas com boa companhia e um bom programa. E não são todos os domingos que vou ter que encarar a expressão de loser no espelho. E aí, meu amigo, vou poder dizer que uma estrada solitária é do caralho!

terça-feira, 1 de julho de 2008

*Último Affair

Sua atitude foi desafiadora, tirou a calcinha e o chamou para ir ao banheiro daquele restaurante, de onde acabará de vir. Flávio recusou. Era a sétima vez que eles tentavam reatar o namoro que aquela década desgastara. Ana olhava provocativa, insistindo para que Flávio aceitasse. Ela sempre conseguia. Flávio tentou todas as vezes resistir, mas sempre cedia e acabava dando o que Ana queria. Dessa vez não, decidiu. Essa mulher, pensava ele, não pode ser humana.
Mas ela era, infelizmente. E, assim como ele, tentava remediar suas noites solitárias em que ficava na frente da TV deitada fumando cigarros e recusando ofertas de encontros que recebia no dia-a-dia. Flávio sofria da mesma doença, mas procurava manter-se ocupado, trabalhando dia e noite, jogando tênis e, driblando o cansaço, ainda se dedicava a reprodução de vídeos clássicos em seus dois aparelhos VHS. Dormia nas melhores cenas. Ana não arrumava subterfúgios, trabalhava de manhã, fazia ginástica à tarde e, depois do café de início de noite na casa da mãe, apenas recorria ao lamento e melancolia de sua solidão na frente da TV, variando entre séries e novelas. Ana era sexual, mas só. Flávio ocupado, mas tenso. Foi assim durante idas e vindas e um namoro que eles concluíam que não ia progredir, mas demoravam para admitir um fim.


Sempre se reencontravam, telefonemas que buscavam apenas "saber como você está". Era conflituoso, esperançoso e feliz, carregando todos os apetrechos de uma ilusão.

Um gole no uísque, uma colherada no pudim. Se olhavam. Ela sorrindo maliciosamente. Ele travado e racional. Lembrou das indecências no pé do ouvido. Sentiu o cheiro mais uma vez. Ela queria, ele também.

Não foi.

Pagaram a conta e se despediram.

Ela foi para casa e decidiu nunca, mas nunca mais voltar a sair com ele.
Ele deitou-se em sua cama, olhou para o teto e bateu uma punheta. No final chorou.

Aquela foi a última vez que eles se viram.



*Escrito em 2002 e publicado, em outra versão na época, no site Scream&yell.