domingo, 27 de maio de 2012

Seis dias em Paris


O quieto e talentoso Josh Haden, do Spain
Era o primeiro dia de intenso calor em Paris. Semanas antes estava congelando a 4 graus na praia de Brighton. Eram 27 graus na capital francesa, uma cidade que não liga para ar-condicionado e para desodorante. Chegamos ao pequeno pub indie Pop In e fomos ao balcão aproveitar a última hora de happy hour a 3 euros - engraçado achar uma barbada um pint a 12 reais. Havia marcado com uma amiga francesa que havia conhecido em Belém há dois anos. Elise já estava no bar e ainda não havia a reconhecido com o cabelo um pouco maior e os trajes mais elegantes do que aqueles de andarilho europeu na Amazônia. Apresentei-a à Irema e Luana. Iuri já a conhecia também do Brasil. Ficamos por ali bebendo, conversando e suando. O motivo de eu estar ali naquele pub suando feito um filha da puta e sentindo cecê por toda parte era uma banda de Los Angeles, o Spain. Me lembro do Spain da época que fazia faculdade em Santos. Mesma época que me apeguei a sons de grupos como Mazzy Star, Red House Painters, Grant Lee Buffalo e Low.


Aquela noite de 23 de maio de 2012 foi um grande presente de aniversário que me dei. No porão da Pop In, com capacidade para 50 pessoas, mais de 70 já se amontoavam para ver a atração de abertura, um folk britânico chamado Nat Jenking, tão ruim que não sei nem com quem comparar. Antes, quando estava por ali esperando desocupar uma brecha no disputado e minúsculo lugar, esbarrei em dois garotos e uma garota franceses. Estudantes do interior estavam ali pra anotar na agenda que saíram da aula e foram ver um show indie. Caipirinhas, davam gritinhos pro cantor jeca da abertura. Não deu tempo de perguntar os nomes. Ainda bem.


Deu 10:30pm e me arrumei ali pertinho do palco pra ver. Fui empurrando um e outro até achar Iuri e Elise que estavam pertinho do ar-condicionado. Depois de mais de 30 minutos de espera – com a banda na casa esperando sabe-se lá o que – entra o Spain no palco. Assisti a uma banda que conheci, através de um amigo em Belém, chamada Spain, de Los Angeles, em Paris. Pensei na frase pro Twitter, mas desencanei.

Josh Haden é filho de Charlie Haden, um dos maiores baixistas de jazz em atividade. Com uma voz calma, que mais parece efeito de remédio controlado, Josh entra com o baixo e a banda se prepara. Muitos ali não sabiam o que esperar, tanto que na segunda música os mais afoitos deixaram o porão para espalhar cecê em outro lugar. Lançando o disco The soul of Spain, a banda controlou os ânimos com sua música extremamente calma, sussurrada e armada para ser uma sessão terapêutica de espantar o estresse. Spain é música que acalma com letras bonitas e simples. Josh Haden poderia ter seguido o caminho do pai, mas achou sua onda muito cedo e conseguiu juntar características que são possíveis de reconhecer em sua música. Achou identidade. Assisti às quase duas horas de show me deixando levar pela melodia, momentos em que o cansaço pesava e os olhos fechavam involuntariamente, não de sono, mas de entrega. Aviadei legal.


Parecia rockão, né? Pois é, não era...


Adianta eu contar que estava muito ansioso para eles tocarem uma musica chamada Every time i try e, quando pensei em gritar a música, eles começaram a tocar? Não adiante, eu sei, vai parecer mentira.



No dia seguinte, caminhando na Champs Elysée com a Camila e Luana – depois que Iuri voltou eu fiquei bendito o fruto entre as mulheres e acho que por isso gostei tanto de Paris – resolvemos entrar num cinema de rua (os cinemas de rua não acabaram na capital francesa) e assistir On the Road, a epopéia beatnik de Kerouak que ganhou uma versão de cinema quadradona com o Walter Salles. Pô, Waltinho, col foi? Não é um filme ruim, mas é bundão, para Hollywood. Mas o grande barato é que quem tocou em boa parte da trilha sonora foi Charlie Haden, o baixista fodão pai do cara ali de cima. E no terceiro dia da seqüência de coincidências entramos em uma das lojas mais completas que já conheci, a Gibert & Joseph, da Saint Martin. Eu nunca, NUNCA, havia achado um disco do Spain em loja. Ali haviam os três.



Bem, eu poderia terminar o texto falando que esperei o show acabar, fui falar com o Josh Haden, dei um pen drive da minha banda (The Baudelaires), meu cartão de contatos e fiz com que ele ficasse surpreso ao saber que tem fã na Amazônia Brasileira. Mas não, não vou terminar assim. Vou terminar dizendo que a França não se resumiu a Spain, mas a uma série de desmistificações e confirmações de tudo o que a gente ouve sobre eles. Mas isso eu vou deixar por Meu Garoto na quinta.


Sorrisão cacilds