Além de sua altura, cabelos e o rosto que expressava generosamente alguma inocência que, a mim, o associava ao Slot dos Goonies. O braço que empunhava socos no ar, embalando o agito punk, estava tomado por pulseiras de muitos festivais. Eram tantos que seria impossível não notar a presença de adereços como uma marca forte no seu visual. Depois notei que as pulseiras eram uma espécie de objeto de ostentação indie que ia além de ser simplesmente um rato de festivais.
Geralmente, nos shows, estava acompanhado dos outros produtores brasileiros convidados para o evento que me acompanhavam na delegação brasileira, mas nos outros dias, em muitos dos shows que escolhia assistir só, lá estava ele. Sempre com sua mochila, o guia do festival em uma das mãos e uma garrafa de água de 2 litros na outra, que parecia uma garrafinha em sua enorme mão. Foi quando percebi que se ele estava vendo aquele show, provavelmente eu estava no lugar certo também. Ele começou a virar meu termômetro, e uma referência fácil de achar. The Great Escape Festival tem mais de 300 apresentações acontecendo simultaneamente, em vários lugares da pequena e charmosa Brighton, o que torna quase impossível conseguir ver ao menos 30% dos shows em todos os dias.
Fui convidado novamente em 2019 para integrar a delegação brasileira convidada pelo British Council. E no primeiro show foda que assisto, quem estava por lá? Falei com minha amiga “fica ligada nesse cara, a gente ver ele em muitos shows”. E era sempre assim, sozinho, feliz, pirando na primeira fila das bandas indies seminais que povoavam aquela programação.
E então, por esses dias, acompanhando a programação do Festival In-Edit em casa, assisti ao documentário Don’t Go Gentle: A Film About Idles e em determinado momento ele surge na tela dando entrevista: Jeffrey Johns, artista de Bristol, mesma cidade do Idles. Foi como se eu estivesse revendo um grande parceiro, um amigo de longa data que sequer sabia o nome. Mas agora ele tinha um nome. E, pesquisando, cheguei a uma matéria do The Guardian que revela todo o seu talento e seu apelido Big Jeff, um artista plástico com um trabalho belíssimo e super sensível. Sua última exposição pode ser visitada pelo seu site.
Terminei de ler a matéria com o coração cheio, vendo que aquele cara era, acima de tudo, um grande fã de shows e um amante de música, que passou a pandemia criando, produzindo arte e esperando ansiosamente pela volta dos shows ao vivo.
Eu também espero ansiosamente, Big Jeff, e que a gente se veja ainda em algum show.