quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Reduto Cult fala de Iracundo

Uma das melhora resenhas sobre o meu livro, do jornalista Felipe Cortez, e publicado no ótimo Reduto Cult:

http://redutocult.com.br/2015/08/13/iracundo-relato-em-primeira-pessoa-de-um-sujeito-mordido-com-a-vida/

terça-feira, 9 de junho de 2015

Eu, Cowboy




Hoje é o lançamento do primeiro romance do Caco Ishak, “Eu, Cowboy”.  Eu já li mais da metade – a outra terminarei no papel. É bom. Muito bom. Fiquei pensando porque diabos esse puto queria que eu escrevesse um release, se as aspas que ele usou para divulgar o evento são de calibres grossos da “nova” literatura brasileira como Marcelino Freire, Sergio Rodrigues e Mario Bortoloto. De qualquer forma, tentei escrever, mas esbarramos em questões legais que, depois, cabei perdendo o timming e marquei esse furo.

Apesar ser o primeiro romance, o caboquito goiano - radicado em Belém desde os 5 anos - já lançou dois títulos de poesias pela editora carioca 7letras: “Má Reputação” (2005) e “Não Precisa Dizer Eu Também” (2013). Esse último título já disse a ele que vou invejar para sempre.

Mas vamos falar de “Eu, Cowboy” (Editora Oito e Meio), que será lançado hoje e deve dar o que falar, já que Caco, como um bom escritor, é também um ótimo mentiroso. E essa é o melhor elogio e alerta que se deve dar. Ficar entre a mentira e a verdade é a parte divertida. Enquanto eu tive um cuidado fudido para criar todo o enredo ficcional e fazer com que ninguém se veja no meu romance (Iracundo), o Caco relaxou e contou o que a memória dele inventou. E vamos ficar com essa história de que a memória inventa porque é isso que deixa a literatura interessante, belê?

A medida em que vou lendo “Eu, Cowboy” percebo que, realmente, eu e ele fazemos parte de uma mesma geração, localizada em Belém, com as angústias dos quase 30 ou dos 30 e poucos, num período parecido, se reportando aos mesmos lugares – que de ficcionais não tem nada – e relacionando vidas e trejeitos comuns de um ser urbano da Amazônia e que de Amazônia não tem porra nenhuma.  

Lembro que quando comecei a escrever “Iracundo”, isolado lá em Montevidéu, o Caco também estava trabalhando no “Eu, Cowboy” dele. Me deu a primeira página. Dei minhas primeiras pra ele. O mais legal disso é que não houve qualquer relação e influência entre as duas coisas e acabamos lançando nossos livros quase ao mesmo tempo – o meu saiu em dezembro do ano passado.

Bem, é isso. Tava devendo um release. E como me foi pedido por ele, fica aqui esse não-release que espero que não comprometa o cara. O lançamento é hoje, às 19h, no Gotazkaen, a galera mais passo firme de Belém.



segunda-feira, 13 de abril de 2015

Houve uma vez Galeano




"A noite/1

Não consigo dormir. Tenho uma mulher atravessada entre minhas pálpebras. Se pudesse, diria a ela que fosse embora; mas tenho uma mulher atravessada em minha garganta."

Valeu, Galeano.

Não nos conhecemos pessoalmente, embora eu tenha ido ao Café Brasileiro, em Montevidéu com essa intenção.



De todo modo, te conheci na minha ficção:



Era comum nos lugares mais acolhedores da cidade ter uma garçonete bela e simpática para dar uma vida a mais ao ambiente. No Café Brasileiro, uma jovem de olhos verdes expressivos, pele morena e cabelo bem cuidado recebia a todos com um sorrisão que faria os mais ricos quererem comprar o estabelecimento com tudo o que tinha dentro. Ou os mais inspirados e pobres mandarem poemas apaixonados. No final, com ou sem dinheiro, todos gostariam de ter um pouco mais do que um café e uma media luna mediante ao olhar apaixonante de sua servente.

Com ela fui mais incisivo e não titubiei no espanhol que pediu com classe um café irlandês e uma água com gás. Pelo sorriso que ela deu, aquele não era um pedido muito comum, mas a bebida entrou com a coragem que eu precisava ter na Esquila de Los Chivitos. Foi então que vi um homem que entrou no recinto, colocou o sobretudo na cabideira e sentou só em uma mesa isolada no canto do café. Ele aparentava estar perto dos 60, mas a careca brilhosa, altura, magreza e o olhar majestoso conferiam a ele uma segurança e experiência que eu, um dia, gostaria de dispor. Ele chamou a garçonete, que o atendeu com um sorriso mais aberto do que para os outros clientes, e fez seu pedido. Mesmo com a cara sisuda, disse alguma coisa que a fez gargalhar levemente, olhando para os lados e levando a mão até a boca em um gesto embaraçado, já que o local limitava este tipo de intimidade com clientes. Ele, então, tirou do bolso do paletó uma caneta e um bloco de anotações, em que eu poderia jurar que havia idéias boas. Poderia estar traçando o orçamento do mês, mas preferi crer que se tratava de um escritor, poeta ou um galanteador de prestígio, desses que tornam a existência de um escriba um mero exercício para se adquirir hábitos naturais, que não se aprendem no dia-a-dia. Revezando entres os goles no café irlandês e na água com gás, me pus a estudar o homem. Ele me percebeu o olhando, mas não se incomodou e voltou a vista para o papel, que eu daria a vida para saber o que estava sendo escrito. Ele alternava o papel com as curvas da garçonete que circulava atendendo os clientes com a mesma simpatia. Quando passava por ele, no entanto, o sorriso era outro.

A hora do almoço se aproximava e eu já não dispunha de muito tempo para a aparição do sinal. Foi quando ele chamou a moça, deixou o dinheiro da conta em cima da mesa, apontou para o papel onde trabalhava sua concentração e, elegantemente, vestiu o sobretudo e saiu do café. Ela contou o dinheiro, guardou a gorjeta e então foi ao papel. O vermelho em seu rosto foi o sinal que eu estava esperando. Poderia ser um desenho, um poema, um conto, uma cantada. Eu precisava saber do que se tratava. Ela foi até o balcão e, sem tirar o rubor do rosto, mostrou o papel ao outro funcionário que, por ser do gênero masculino e sem a graça dela, ocupava o posto de caixa. Ele riu e balançou a cabeça positivamente. Seja lá que merda o homem tivesse riscado no papel, a coisa parecia ter funcionado. Ouvi quando ela disse que aquela era a quinta vez que ele fazia a mesma coisa. Definitivamente era uma conquista, e o objetivo parecia estar próximo. Pedi a conta e, sem meandros, soltei uma de desentendido para saber que porra tinha acontecido ali.

- Permison, puedes me dar una informacion? Creo que conoço este hombre, no sei se es un escritor.

- Si, elle es un escritor uruguayo. Vien siempre acá.

- Como elle se llama?

- Eduardo Galeano. 


Foto do jornal Zero Hora

terça-feira, 24 de março de 2015

Iracundo em Porto Alegre



No final do mês passado estive em Porto Alegre lançando meu livro. Na real, fui a convite do Fernando Rosa e de seu Festival Noites Senhor F. Aproveitei a estadia e a cidade que aprecio um bocado pra esticar mais uns dia se fazer o lançamento por lá.

Pessoal muito simpático da Palavraria que me recebeu através de uma grande ajuda do meu amigo, o produtor e músico Iuri Freiberger, e do - também músico - e poeta Pedro Gonzaga. Carla, Carlos e Heron, donos da Palavraria, me receberam com uma simpatia peculiar, dessas que se vê muito pouco por aí.

Porto Alegre é uma das cidades que eu realmente queria lançar o Iracundo, afinal, é onde termina o livro - não, isso não é spoiler. As outras cidades em que gostaria de lançar são Montevidéu e São Paulo, duas capitais por onde o intrépido Mário - personagem narrador de Iracundo - passa. O livro costura um Brasil de Norte a Sul, e pelas quase 200 páginas do romance, cidades pequenas de beira de estrada como Paragominas, Gurupi, Açailândia e outras mais desenvolvidas como Uberlândia, Uberaba, até o interior charmoso do Uruguai Tacuarembó. E não é spoiler, só um GPS do livro.

Uma das maiores influências de Iracundo é o romance Hotel Atlântico, do gaúcho João Gilberto Noll. Deixei uma cópia do romance com dedicatória pra ele na Palavraria, vai que... Uma vez João Gilberto Noll veio a Belém. Na ocasião eu era repórter do caderno de cultura do Diário do Pará, na época o divertido Caderno D. Fui entrevistá-lo para a capa do caderno. Pra mim um dos melhores momentos da minha vida como repórter. Depois, trocando emails com Noll, importunei o pobre homem mandando contos pensando que qualquer toque de um cara como ele iria moldar minha escrita, me apontar direções e fazer com que eu desenvolvesse um estilo próprio. Ele elogiou um conto me mandou honestamente seguir em frente. Foi importante aquilo, deu no que deu.

De todo modo, Iracundo está à venda em Porto Alegra, na Palavraria (Vasco da Gama, 165 - Bom Fim - tel.: 51-3268-4260).



Presenças ilustres (esq. para di.) de Rochele Bagatini, Iuri Freiberger, Fernando Rosa, Pedro Gonzaga e Carla.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Primeira página





Esse é o primeiro parágrafo de Iracundo. Sempre me liguei em começos. Para mim era o que determinava se iria ler até o final. E lembro que esse começo eu pensei anos e anos pra decidir como seria. Depois que escrevi deixei guardado pra ler sempre e me perguntar se era um bom começo. No final das contas, nada representa mais o livro do que a primeira frase:

1

Maldito dia lindo. Aquele três de março de 2004 era um dia comum em Belém. Um clichê ensolarado e grudento. Um dia em que o sol irradiante, o clima verânico e sensação de felicidade empurravam as pessoas para fora de suas camas após o cantar de despertadores coreanos e galos inconvenientes. Mau humor matutino e a sensação de não estar contribuindo para a evolução de nada. No carro, olhava o ventilador que insistia em mandar mormaço na intenção de me refrescar. Aquele sentimento não era algo que ecoava por todos os lados, mas sei que não era apenas eu que sentia aquilo. Eram apenas obrigações e deveres cívicos sem desejo. Aquele dia de sol, com pessoas na rua, suando na testa e sem a alegria de um dia de verão, tinha o mesmo clima de todos os outros 364 períodos de 24 horas nessa cidade. Era apenas mais um dia bonito que enterrava cada vez mais meu desejo de viver como um cidadão digno que carrega ambições, sonhos e está sempre atrás de alguma coisa segura, palpável, estável. Ia e voltava do trabalho na mesma pegada e o final do dia era sempre igual, só mudava a música que tocava na rádio.


terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Discos dados e livros comprados

Tenho uma relação diferente com discos e livros e só agora que pude perceber claramente. Participei da gravação de dois discos, um da banda em que toco baixo - e outrora produzia - chamada The Baudelaires, e a outra como guitarrista da banda da Ana Clara.

Os dois discos, depois de lançados, distribuía sem pudor. Vendíamos (na maioria das vezes) para quem não conhecíamos e dávamos para amigos, produtores, jornalistas. Um disco você escuta no carro, por curiosidade, coloca em casa durante uma festa, ouve com compromisso de se envolver também, mas em outro tempo. Um disco não te tira tanto tempo da rotina e, mesmo tendo recebido de alguém, você ouve e não toma mais que 30 ou 40 minutos do seu dia - a vida nos permitiu que, cada vez menos, tenhamos amigos de rock progressivo que gravam discos duplos.

Gostaria de dar meu "Iracundo" para toda e qualquer pessoa que demonstrou o mínimo interesse em ler, mas tenho observado que, para algumas pessoas que dei, elas não apenas ainda não leram como parece que ainda vão demorar ou sequer ainda vão ler. 90% das pessoas que leram e já comentaram comigo foram as que compraram. Não estou tentando provar nenhuma teoria, apenas constando algo que, de repente, se trata tão somente de uma coincidência.

Funciona assim comigo. Vou a uma livraria e, se saio dali com um livro na sacola, ele fatalmente fura a fila e passa pra frente dos outros que abandonei pela metade ou por não estar gostando ou de algum autor que tenha me dado. Por outro lado, ganhar livros de amigos que veem e acham a tua cara é o máximo. Mas estou falando mais de receber da mão do autor. A verdade é que a vida ficou rápida demais para os livros. Eu faço promessas falsas, me engano, invento desculpas, provoco uma briga, digo que não estou, mas no final já dormi com a porra do iPad no peito e passei duas horas jogando meu precioso tempo fora.

Inventei outra desculpa furada pra justificar minha compulsão por discos, filmes e livros. Digo que estou me preparando para o grande apagão, o fim da internet. E, oh meu bom deus, como aguardo por esse bendito dia!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

O dia do lançamento

Faz um tempo que tenho imaginado esse dia. Não exatamente o dia em que dei o ponto final de "Iracundo", mas quando fui a algum lançamento, quando troquei ideia com um dos autores de livros que mudaram minha vida ou quando li entrevistas que revelavam o autor por trás do romance. Dessas maneiras me peguei pensando no dia do lançamento. 

É hoje, e escrevo antes da "grande noite". Ansiedade correndo solta pelas veias. Já realizei outros trabalhos que me orgulho um bocado, mas nada tão intenso e exclusivamente meu como o lançamento do meu primeiro romance, algo que nunca achei que pudesse fazer desde que li "O apanhador nos campos de centeio", aos 17 anos.

Lembrei agora do meu computador ligado no avião que me trazia de Montevidéu pra Belém, em 2008, no período que me propus a escrever Iracundo. Não acreditava que conseguiria terminar aqui com todas as coisas que acontecem no nosso dia a dia e nos fazem derrapar do foco. Terminei ali, no avião, entre um copo de plástico de coca com uma mísera pedra de gelo e um pão com qualquer coisa.

Saíram duas matérias nos jornais daqui, Diário de Pará e O Liberal. Trabalhei muitos anos no Diário, o que me deu a oportunidade de entrevistar um cara que talvez tenha sido o mais importante para o nascimento de "Iracundo". João Gilberto Noll e seu "Hotel Atlântico", é exatamente um "road book", que começa no Rio de Janeiro e termina em Porto Alegre. Intenso, poético e brasileiríssimo, o romance de Noll foi um daqueles que você lê em uma noite, tanto por ser curto quanto imensamente bom. 

Achei libertador contar uma história pelas estradas do Brasil, algo que conheci intensamente desde um ano de idade, no banco de trás do carro dos meus pais. Aquelas longas horas de pasto, vacas, carros, caminhões e a música escolhida por eles acendeu em mim a vontade de contar uma história.

Releio com prazer meu "Iracundo" nos últimos dias. Volto páginas, analiso, penso em quem vai ler ou já leu. E tenho realmente gostado muito do que ficou. Não sei se tenho fôlego para um próximo romance tão cedo, mas certamente tentarei. E hoje? Hoje é o dia de encarar o que antes era só imaginação. Se é bom eu não sei, mas também não me sinto gonzaguinhando com a bunda exposta na janela pra passarem a mão nela.