segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A ponte da amizade de Fatih Akin

Trilogia é coisa de otário. Eu poderia começar o texto assim e usar essa estratégia para fazer com que você leia esse texto até o final. Mas é mentira, não acho isso. Filmes em trilogias são importantes para três tipos de pessoas: cineastas, jornalistas e cinéfilos maníacos – que na música são os mesmos fãs exagerados que colocam o nome de seu ídolo no prefixo para se mostrar uma assumidade no assunto, tipo Beatlemaníaco, Dylanmaníaco, Stonesmaníaco. Trilogia pode até ser coisa de gente chata (Senhor dos Anéis e Matrix) e representar os dois extremos de uma intenção artística: contar uma história (que tenho um enredo realmente bom) em três atos, ou soar algo extremamente pretensioso. Copolla, George Lucas, Robert Zemeckiz, Alejandro Iñárritu, Abbas Kiarostami (pois é, curti um ou outro filme iraniano), Sergio Leone, Krzystof Kieslowski são bons exemplos de obras bem concluídas em três partes.

Com um cinema cada vez mais competitivo e disposto a esquecer essa presepada de trilogia, eis que a Alemanha apresenta seu nome mais importante para o cinema dos anos 00. Fatih Akin está em vias de lançar o terceiro filme que encerra o tema de imigrantes turcos na Alemanha. Nascido em Hamburgo e filho de turcos, Akin se destacou com Contra a parede (Head on), de 2004. Assisti Contra a parede num cinema em São Paulo depois da indicação de um amigo confiável. Era uma bela história de amor entre um alcoólatra inconseqüente (interpretado pelo outside Birol Ünel) e uma jovem suicida (Sibel Kekilli, que antes se aventurava pelo cinema pornô). Depois disso, o DVD figura na minha prateleira e, vez ou outra, é inserido no aparelho para mais um mergulho no romance conturbado e tragicômico dos protagonistas. Estava faltando um grande cineasta alemão dos anos 2000, depois de Tom Tykwer dos 90 e Win Wenders dos 80.

Fatih Akin dirigindo 'Do outro lado'
 
Por mais que o diretor Fatih Akin costure suas histórias com o pano de fundo da questão da imigração turca (na maioria com muçulmanos) na Alemanha, suas histórias são basicamente sobre relações humanas. O tema esbarra em todas essas questões de convivência num mundo globalizado e individualista. E com esse tema, Akin parte para a terceira obra que finda sua trilogia, iniciada com Contra a parede (Head on) e seguida por Do outro lado (The edge of heaven), que acabo de ver - e que me fez vir aqui escrever.

'Contra a parede' iniciou a trilogia de Akin
 
Numa dessas noites de domingo em que a concentração pode ser um grande desafio, deixei minha TV (falecida na noite de ontem) ligada e ouvi os comentários de Marcelo Janot apresentando o filme no Telecine Cult. Do outro lado ficou passando na TV e minha atenção se dividia entre as atividades inúteis da internet de domingo à noite e as cenas instigantes de um velho solitário atrás e uma prostituta infeliz, de um professor de cultura germânica e sua relação serena com o pai, da revolucionária lésbica de Istambul, sua namorada alemã e a mãezona sensata. O filme me marcou tanto pela construção da história – de entrelaçar três relações entre pais e filhos – quanto pela sensibilidade dos personagens. Dizer que se tornaria inimigo de Deus só para proteger o filho foi uma das coisas mais bonitas que vi nesses últimos anos de cinema europeu.

O belo cartaz de 'Do outro lado'


Gosto da narrativa com que Fatih Akin conduz seus filmes. Não tem grandes reviravoltas cronometradas nos primeiros minutos para prender a atenção do público. A cada frame de uma história bem contada se percebe a mão de um diretor que realmente nasceu pra coisa.

Na noite passada, antes de Do outro lado, assisti a comédia Soul Kitchen, também do diretor alemão. Claro que nem chega aos pés de seus outros filmes, mas ainda assim é um longa de qualidade muito superior a 70% da safra hollywoodiana. Fatih disse que fez essa comédia pra tentar quebrar um pouco sua trajetória de filmes pesados e comoventes, e para se preparar para finalizar sua trilogia com o que vem a ser seu novo filme.

E ainda tem isso, ele tem noção de que a vida não é só um dramalhão.


Veja o trailer e corra pro torrent:


quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Melhores de 2010

 
Acabou o ano e eu esqueci de fazer a minha lista dos melhores. Todo final do ano é a mesma coisa: fico dias e dias com o arquivo aberto tentando puxar da memória o que rolou de legal esse ano. Anoto e papeis que perco e cometo injustiças. Não sou dos que acompanha atentamente qualquer faísca de novidade, e por mais que alguns filmes sejam do final de 2009, coloco como melhor de 2010 pois foi quando chegou aos nossos cinemas.


MELHOR MÚSICA NACIONAL


André Abujamra - Lexotan



Tulipa Ruiz - Efêmera



Dead Lover’s Twistted Heart – Backwards



Félix Y Los Carozos - Sereia elétrica

Infelizmente ainda não há um registro gravado da música “Sereia elétrica”, que faz parte da nova fase dos ex-La Pupuña Félix, Diego e Adriano. A música deve entrar também na lista de melhores de 2011.


Lê Almeida - Nunca nunca




MELHOR MÚSICA INTERNACIONAL:


Cee Lo Green – Fuck You



Black Rebel Motorcycle Club – Concience Killer



The National – Bloodbuzz Ohio



Teenage Fanclub – Baby Lee



Gorillaz – On melancholy hill




MELHORES FILMES INTERNACIONAIS:


Gigante, de Adrián Bíniez (Uruguai)



A Rede Social, de David Fincher (EUA)




Kick Ass, de Matthew Vaughn (EUA)



O segredo de seus olhos, de Juan José Campanella (Argentina)



London River, de Rachid Bouchareb (Inglaterra)




MELHORES FILMES NACIONAIS:


Tropa de Elite 2, de José Padilha




O sol do meio dia, de Eliane Caffé




É proibido fumar, de Anna Muylaert
É de 2009, mas passou batido por aqui.




Os famosos e os duendes da morte, de Esmir Filho

Não sei bem o que esse filme está fazendo aqui. Mas se for para destacar cinema brasileiro de 2010 é impossível não citar este. É um longa metragem bem fotografado, bem editado, com ótimas atuações. O que me incomodou foi a atmosfera indie forçadona e o texto horroroso do escritor Ismael Canappele. Mas o filme é obra de diretor bom.


 

MELHORES SHOWS:

Dinosaur Jr 
Coquetel Molotov














Odair José 
+ Dead Lovers 
Se Rasgum



















Puerto Candelária 
Rec Beat











Nina Becker 
Conexão Vivo Belém














Lucas Santtana
Feira Música Brasil