segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Iracundo não é nome de índio

E então finalmente saiu meu Iracundo. O motivo da existência do blog Cartas Uruguaias foi a necessidade de manter amigos e parentes atualizados quando me isolei em Montevidéu, lá em 2008, para escrever o que veio a ser este primeiro romance, que rendeu o título esquisito que suscita diversas interpretações. Por eu ser da Amazônia neguinho pensa que é sobre um jornalista que encontra um índio malucão no meio do caminho. Mas não sou doido de querer explicar o título e tirar a curiosidade do público em ler o romance. Como diria o Tim Maia: leia o livro.

Iracundo é a história de um cara que poderia ter sido eu, você, essa pessoa aí do seu lado e aquele que foi ao banheiro. Não tive a audácia de querer traçar o perfil de uma geração, mas localizei aquele cara de 30 e poucos anos que chegou ao final dos anos 90 sem muitas conquistas pessoais, mas a estabilidade de uma vida levemente confortável. O vazio de uma vida na cidade grande cheia de pequenos vícios, conversas furadas e gente chata dão no saco e ele resolve capar o gato. Se manda pela Belém-Brasília e tchau. Quer dizer, nem tchau. Mário é um jornalista que trabalha como assessor de imprensa em um órgão público. Tudo o que faz é trabalhar, sair pra tomar uns tragos com o único amigo, tentar dar uma transadinha e ouvir música e ver filmes. As músicas e filmes, no entanto, não são o recheio do livro, estão lá apenas para constar.

Ao pegar estrada, Mário, um cara chato e amargurado - mas com senso de humor - acaba revendo amigos e encontrando várias figuras pelo caminho, que fazem com que ele reveja algumas de suas escolhas e reflexões. Nas quatro rodas de seu Fiat Uno velho ele começa a rodar o Pará, Maranhão, Tocantins, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e pelo Uruguai. Bem, estou apenas vendendo o peixe, mas se posso falar muito mais do que isso ninguém compra.


A partir de agora farei mais postagens mais constantes sobre o andamento do livro, resenhas, comentários e a sensação de estar com a bunda exposta na janela.


Finalmente saiu Iracundo

Iracundo 

Primeiro romance do jornalista e produtor Marcelo Damaso é lançado através do Prêmio Iap de Artes Literárias e está à venda na Fox Dr. Moraes, com lançamento marcado para o dia 7 de janeiro, na Fox e no boteco Meu Garoto


Por Edyr Augusto Proença:

Romance de formação, “Iracundo” retrata fielmente o vazio e o salto no escuro de jovens que saem da faculdade e entre a internet (onde encontram respostas às suas indagações e a realidade de empregos mal pagos), monotonia e falta de melhores horizontes, resolvem cair fora. A aventura, o easy rider, tudo é novidade, excitação, ser dono do próprio nariz, até a grana minguar. O que virá depois?


Tenho uma camisa onde está escrito “Inquieto”. Cabe muito bem em Marcelo Damaso, jornalista, produtor cultural, integrante de banda de rock. Nunca está satisfeito. É preciso provar de um tudo. Pedra rolante que não cria limo. Vai à frente como aquele flautista. Atrás, vamos todos nós, os inquietos. Tão fácil ter aquele emprego garantido, balada no finde, brejas à rodo, ficantes. Mário (personagem central de Iracundo) quer mais, muito mais. E vamos com ele, em “Iracundo”, convivendo, torcendo, argumentando em seu “on the road”, querendo sempre mais. A aventura de viver de verdade, pra valer, sentir o vento no rosto, descabelando, yeah! Nós os inquietos. Já queremos mais.


terça-feira, 14 de outubro de 2014

Lojas de discos nos Estados Unidos









Em minhas viagens costumo explorar um turismo musical que, em boa parte das vezes, se intromete na programação principal do que se fazer em uma cidade. Gosto de ir às casas de shows lendárias, visualizar as referências musicais e, principalmente, descobrir lojas de discos. Minha primeira ida aos Estados Unidos foi super bem acompanhado de amigos com interesses em comum: Ana Clara (que, assim como eu, também ama ficar horas dentro de uma loja – ó, deus, como tenho sorte!), Erico (que devora guias e sabe muito bem onde nos levar sem perder tempo), Gustavo e Dudu, ambos com interesse exclusivo por vinis.

Formado o time - também acompanhado pela minha comadre Juliana Feijó (esposa de Dudu), a programação de setembro de 2014 passou pelas cidades de Nova York e Chicago, com parte do bando. E na Califórnia, eu e Ana Clara seguimos para uma viagem de casal. Entre ruas, monumentos, gramados, restaurantes e parques, o caminho era desviado para lojas de discos. Eu ainda compro CD, que ainda está à venda em todas as lojas e com preços inacreditáveis, às vezes em edições luxuosas. Minha busca por vinís ficou restrita à minha lista e uma ou outra surpresa encontrada nas fuçadas em prateleiras de promoções.

Nos Estados Unidos, a média de um vinil novo, relançado, é de 18 a 20 dólares o disco normal. Edições duplas vão um pouco mais além, de 23 a 25 dólares em média. Os usados saem entre 5 e 10 dólares, em edições originais lançadas na época e em perfeito estado. Os singles em vinil (compactos de 7 polegadas) de artistas novos, lacrados e relançados regulam em torno de 5 a 12 dólares.
               
Algo que pensava em fazer há muito tempo, depois que eu e Ana Clara exploramos lojas de discos em Madri e Barcelona, era criar aqui no meu blog um pequeno guia de lojas, mas utilizando um texto de serviço mesmo, sem opiniões. A ideia foi protelada tanto tempo que deixei de lado e arquivei as anotações, fotos e endereços.

Agora, no entanto, resolvi aproveitar o calor da emoção e escrever sobre as lojas que passei e dividindo as impressões e experiências de forma bem pessoal. Não serve exatamente como um guia, mas ajuda a dar uma ideia do que se encontrar nas lojas, além de render um belo passeio por bairros e ruas legais de cidades como Nova York, Chicago, San Francisco e Los Angeles.



EARWAX MUSIC
(167 N 9th St, Williamsburg, Nova York)

No meio de uma das agradáveis ruas do Brooklyn está a Earwax Records. Apesar d’eu estar ainda comedido com os gastos na exorbitante Nova York, me deixei levar pela sedução da atenta loja de vinís novos e usados e comprei apenas dois compactos (Real Estate e Guided By Voices) e um LP do Fugazi. Gustavo e Dudu fizeram a festa.



Nota: A loja tinha um disco lacrado e caríssimo do Mestre Cupijó. O coração se encheu de orgulho.


ROUGH TRADE
(64 N 9th St, Williamsburg, Nova York)

A festa, na real, já havia começado aqui. Os dois - e mais o Erico - passaram horas e horas na loja enquanto eu acompanhava as meninas em alguns brechós do bairro. Eu, Ana Clara e Juliana fomos encontrá-los na Rough Trade e, no caminho, avistamos a Earwax Music (por isso comecei por lá - e também por que a narrativa é minha ;)).

De acordo com a minha experiência com as duas Rough Trade de Londres, achei que aquela não era a melhor loja pra deixar uma grana, pois na Inglaterra eu comprei discos mais baratos em outras lojas. Foi um equívoco. Resolvi comprar pouca coisa, como o CD Girlfriend, do Matthew Sweet. Achei que os vinís do Jesus and Mary Chain estavam caros a 17 dólares e acabei voltando sem nenhum, pois me recusei a comprar depois por 19 e 20. Não tem problema, ainda pretendo comprar a caixa - e deles eu tenho absolutamente tudo em CD e boxset.

Foi preciso voltar de novo na loja, pois assim como a Ana Clara, acabei deixando CDs e LPs que estavam um pouco mais caros. Aproveitamos outro dia que voltamos para o bairro para um show e compramos o que estava na lista.

Nota: além de ser uma tremenda loja com muita coisa nova e preços razoáveis, a Rough Trade é palco de dezenas de shows interessantes. Naquela semana, por exemplo, bandas como Death Above 1979 se apresentariam por ali.


BLEECKER STREET RECORDS
(188 W 4th St, Village, Nova York)

Ótima loja com CDs e vinís novos e usados a preços bons. Os CDs novos não estavam baratos, mas a prateleira com coisas usadas dava pra achar coisas como box de CD + DVD da Cat Power por 7 dólares. Levei de 10 a 15 CDs (Do que me lembro foi um duplo do Flaming Lips das primeiras demos; Ben Folds Five, alguns do Eels, DVDs e os vinís de Alex Chilton e The Db's).

Nota: não foi o melhor preço, na verdade ficou longe de ser. Mas só o fato dela estar localizada numa área tão bacana do Village já faria dela uma das minhas lojas favoritas. A disposição dos discos, a facilidade de procura e classificação me deixaram bem a vontade para comprar, apesar dos funcionários não serem dos mais sorridentes.


OTHER MUSIC
(15 E 4th St, New York, NY)

Acho que temos uma eleita em New York City. A Other Music tem preços bons e um clima excelente para passar horas nas prateleiras de CDs e vinís. O tratamento é de primeira e há itens exclusivos na loja. Só trabalham com novo. Não há sessão de usados, como na maioria das lojas dos Estados Unidos. Apesar dos preços regularem com o das outras lojas, me senti bem e levei o vinil do Charles Bradley, um de demos do Jesus and Mary Chain e uma coletânea da Matador que o Gustavo me mostrou e custava apenas 6 dólares.

Levei o documentário em DVD Nothing Can Hurt Me, do Big Star, e estou triste até agora de não ter comprado nenhum dos quatro modelos de camisas da banda que tinham na loja. Procurei apenas por um, que não tinha meu número, e então desencanei. Levei alguns CDs também, como Sun Kill Moon, J Mascis, Dinosaur Jr, Band of Horses (Acoustic at the Ryman) e o novo do Interpol.

Nota: Era uma terça-feira e, na quarta, o Interpol estaria na loja autografando seu novo disco.


REBEL REBEL
(319 Bleecker St, Village, Manhattan, NY)

Descoberta por acaso no último dia passeando pelo Village novamente. Pequena, apertada e ruim demais de andar e escolher discos. Preços também, não eram dos melhores. Mas a seleção de discos foi uma das melhores que vi. Apesar do pequeno espaço e de realmente não ter mais onde colocar discos, tudo o que havia ali dava vontade de comprar. Bons títulos em novos e usados. Como o tempo estava curto, a grana e a paciência também, optei por levar apenas três compactos de 7': The Rumble Strips (comprei uma vez um CD dessa banda e amei. Amei tanto que perdi o CD, tenho só a capa e o disco mesmo deve estar dentro de outro acrílico de outro CD), Uncle Tupello e The Shins.

Nota: o dono é de poucas palavras, mas é educado e inicia uma boa conversa se souber que você não é um comprador ordinário. Presenciamos uma cena típica de Alta Fidelidade, com um negão amigo do dono que se intrometeu em um diálogo entre o dono e um cliente que pediu para que ele desse um desconto, pois ele queria levar aquele vinil do Leonard Cohen para o pai.


SECOND HAND ROSE MUSIC
(48 E 12th St, Union Square, NY)

Entramos para dar um tempo enquanto o Gustavo estava na Forbidden Planet. Não compramos nada, mas me pareceu uma loja daquelas em que os donos, dois velhinhos, pareciam saber o que estavam fazendo pela disposição dos discos nas prateleiras e pelos preços. Deu vontade de voltar lá e dar uma pesquisada com calma.

Nota: apenas mais uma loja a ser pesquisada por colecionadores. A regra é nunca subestimar lugar algum.



RECKLESS RECORDS
(1532 N Milwaukee Ave, Chicago)
(3126 N Broadway St, Chicago)
(26 E Madison St, Chicago)

A vontade de conhecer a loja que serviu de locação para o fatal Alta Fidelidade, de Stephen Frears, era realmente muito grande. A Reckless entrou para o topo das melhores lojas de disco que já fui. O preço é imbatível. Algo como comprar o CD Horses, da Patti Smith, por 2,99 dólares uma edição usada, mas impecável. O mesmo título em vinil custava 8 dólares. Não comprei apenas porque neste dia não queria andar com nada que não fosse a mochila. Me arrependi? É claro.

Mas não vou começar a falar de arrependimentos agora... A loja principal é da Broadway, em Chicago, mas todas as três lojas atendem muito bem aos desejos de um comprador de discos. Infelizmente, deixei para compras alguns vinís na Amoeba achando que seria mais negócio. Errei. Atualmente, a Reckless é bem melhor para comprar vinil. Juntando as três lojas, talvez tenha o mesmo estoque da Ameoba de Hollywood. No entanto, o local em cada loja fica é um charme e já vale o passeio.

Minha grande surpresa foi quando já estava pagando minhas coisas no balcão e me deparo, em destaque na parede, com algo que sonhava em ter: uma edição especial de colecionador do single Crank, da banda britânica Catherine Wheel, uma de minhas favoritas. Ainda não tenho certeza, mas acho que foi o disco que mais vibrei em comprar nessa viagem.

Como fomos nas três lojas, não me poupei e resolvi sair comprando CDs. Não lembro exatamente, mas levei o que não tinha dos Replacements, Guided by Voices, Frank Black, Slowdive, Spiritualized, Red House Painters e monte de coisa que não lembro.




Nota: não sei se pelo costume de ser um povo solícito e educado demais, mas o atendimento e o esquema da Reckless foi o que mais me deixou a vontade para comprar. Poderia passar mais horas e horas em todas as suas lojas, o que se torna um desejo a ser realizado em breve, tamanha a paixão que ficou por Chicago.


ROOKY RICARDO'S RECORDS
(448 Haight St, San Francisco, CA)

Eu e Ana Clara andávamos pela Haight Street pelo caminho inverso, sem saber que ela começava no Hippie Hills, do outro lado, e seguíamos nosso rumo de descobrir o que aquela caminha reservava pra gente e, de repente, nos deparamos com essa que possivelmente foi a loja de discos mais interessante de toda a viagem. O dono não era dos mais sorridentes mas, por algum motivo, nos tratou muito bem. Especializada em soul, blues, R&B e clássicos dos anos 50, 60 e 70, ele foi categórico em dizer que não vendia relançamentos e versões novas e remasterizadas, apenas os discos originais. Perguntei pelo Big Star e ele disse que não tinha, que era bem raro de aparecer na loja dele e que, quando aparece, não custa menos de 40 dólares.

Já íamos saindo, eu com o vinil Harvest, de Neil Young, e Ana Clara com o Surrealistic pillow, do Jefferson Airplane. Então, o dono nos avisou que haviam mais caixas na parte de baixo e não nos deixou sair de lá sem dar uma olhada, dizendo que tinha muita coisa boa pra gente ali. Ainda bem, consegui o Get the knack (The Knack) e ela um da Joni Mitchell, cada um por 5 dólares.




Nota: vá a essa loja com bastante disposição e uma lista de coisas legais para comprar de soul, funk R&B e 50s. A loja tem prateleiras e prateleiras de compactos vendidos a 3 por 5 dólares.


AMOEBA (SAN FRANCISCO)
(1855 Haight St, San Francisco, CA)

Foi mais para dar um check, já que a grande Amoeba de Los Angeles estava nos planos da semana seguinte. A real é que a Amoeba de San Francisco não bateu. Claro que sai de lá com uma penca de CDs baratos e com um arrependimento fora do comum de ter deixado o primeiro do Big Star por meros 16 dólares achando que teria na de Los Angeles. Si fudi.

Nota: talvez por ser menor que a de Los Angeles e por termos visitado em uma segunda-feira de manhã, a Amoeba de San Francisco pode até ter um clima mais agradável para comprar por não oferecer aquelas horas e horas que nem sempre você tem disponível em uma viagem. Como seguimos com uma lista de coisas, foi mais fácil descartar alguns itens no caminho e deixar a de Los Angeles para arrematar no final e ver o que aparecia.




AMOEBA (LOS ANGELES)
(6400 Sunset Blvd, Los Angeles, CA)

Imagina entrar num parque de diversão depois um dia inteiro na praia. Foi o que resolvemos fazer no sábado, passar a manhã e a tarde na praia de Venice Beach e Santa Mônica pedalando, caindo em cilada de turista e andando para caralho. Depois resolvemos encarar uma hora de carro e passar cerca de três horas deixando nossos últimos tostões lá. Deu pra fechar 70% da minha lista. Somente lá que achei a edição especial em vinil de Infinite Arms, do Band of Horses, o último do Redd Kross e o primeiro do Spain, que só tinha uma versão gravada de uns 15 anos atrás. Comprei o CD também, além de um monte de coisa que, é claro, não lembro.

Nota 1: um problema grave demais da Amoeba de Los Angeles é com o sistema deles de cartão. Passei meu travel card (que funcionou perfeitamente em várias locais) e não passou de jeito nenhum. E a cara de sem graça? Ana Clara tentou passar o cartão de crédito dela e nada. E a cara de sem graça? Tive que pedir para guardarem os discos, ir até um caixa, sacar o dinheiro e pagar. Na volta reclamei com a gerente sobre esse problema e ela disse que, infelizmente, isso tem acontecido lá com cartões de gente do mundo inteiro. Bonito, heim?

Nota 2: esse lance de vender CD pra eles é a maior roubada. Os discos precisam estar praticamente zerados, como muitos dos meus estavam. Mesmo assim não espere mais de U$ 1 por disco. O lado bom foi que eles compraram a um preço bem justo os discos da minha banda (The Baudelaires) e o EP da Ana Clara. Portanto, fãs, nossos discos estão à venda em Los Angeles, na Amoeba Records.


RECORD COLLECTOR (Melrose)
(7809 Melrose Ave, Los Angeles, CA)
http://www.therecordcollector.net/

Se você procura perder a paciência com um velho que se acha pra caralho vá nessa loja. Ela chama a atenção em Melrose, em um lugar lindo e a quantidade de vinis é assustadora. Você entra e não sabe por onde começar. E então o proprietário, um velho gordinho chamado Sanders, te atende perguntando do que você gosta. Saiba o que responder de imediato se não ele perde a paciência. Digo que quero rock e ele me leva com outro senhor até outra sala. Procuro por um vinil do Big Star e do Jesus and Mary Chain. Não tem.

Sem muita paciência para ácaro e cheiro de mofo, começo a me dirigir para a porta de saída, quando o velho Sanders pergunta o que eu procuro. Digo que procurei por dois discos e não havia. E ele disse que não era possível, que eles tem tudo e que era para eu perguntar por outra coisa. Digo que não e ele começa o discurso de que não, eu não era um colecionador, que colecionadores sabem mais o que querem etc. Até aí dei de ombros e mandei um “foda-se, não sou mesmo”. Daí ele solta um simpático “vai embora de Los Angeles, volta pro Brasil”. Claro que saí batendo boca com o velho e quase utilizo o primeiro e sonoro “fuck you” da viagem. Infelizmente ficou no quase. Guardei o que me restava de educação.

Nota: com mais 35 mil vinis catalogados e bem organizados, a loja é para quem realmente leva a sério essa história de colecionador. Não é um lugar para se passar horas e horas. Não espere por aquela surpresa de se deparar com um disco que você queria ou se divertir numa loja de discos. Aqui é pra gente séria e amargurada.


FAIRFAX MARKET MELLROSE (Los Angeles)
(Fairfax High School, 7850 Melrose Ave ,Los Angeles, CA)

Depois de bufar de raiva do velho Sanders, fomos à feirinha de antiguidades que ficava bem em frente à loja, um lugar bem maior do que se mostrava de fora em com diversas barracas de vinis. Encontrei o Dejavu, do Crosby, Stills, Nash & Young com a capa de couro e foto colada, lindo, por apenas 10 dólares e em excelente estado. Comprei também uma coletânea dupla do Buffalo Springfield pelo mesmo preço.


 



Nota: a feirinha acontece aos domingos e, além de ser um ótimo passei para comprar discos, ainda há uma praça de alimentação ótima e diversos objetos interessantes para mulheres como roupas, joias, acessórios, móveis antigos, brinquedos etc.



segunda-feira, 17 de março de 2014

Tomara que eles voltem

Depois de uma briga intensa no carro, os pais param e deixam o casal de filhos Cris e Peu, dois adolescentes, no meio da estrada para aprenderem uma lição. A tirania do irmão mais velho, com aquela expressão característica de um moleque mimado e mandão. A menina, Cris, uma típica garota de 12 anos que tenta não deixar barata a imposição do irmão, mas acaba cedendo devido sua fraqueza e diante de ameaças de agressão do caga regras. Muitos minutos depois e nada dos pais voltarem. O irmão mais velho resolve ir atrás de ajuda, mas obriga a garota a ficar. E aí começa o o filme "Eles voltam", de Marcelo Lordello, o melhor longa surgido no Recife desde "Baile Perfumado".

Muito se falou do quase bom Som ao redor como um dos melhores filmes do ano. Prêmios e mais prêmios pro ótimo Tatuagem. Tudo bem, filme bonito. Mas Eles voltam passou batido pelos cinemas brasileiros, apesar dos prêmios no Festival de Brasília. Além do enredo instigante, das atuações e da sensibilidade do diretor estreante, Eles voltam dá uma lição de como extrair um ótimo resultado de baixo orçamento com muita boa vontade e talento. No começo do filme achei se tratar de uma inspiração em Gerry, do Gus Van Sant, e estava achando legal partir disso, depois lembrei do Abbas Kiarostami. Achei uma saída inteligente usar o pouco recurso que se tem com poucos atores num Road Movie sensível. 

O filme não tem a ousadia (pra não usar a palavra pretensão) das outras produções pernambucanas e do espalha merda Cláudio Assis. O filme de Lordello fala sobre solidão, abandono, submissão feminina e de diferenças sociais - tocando em temas como como o Movimento Sem Terra, mas sem nenhum panfletarismo.

Óbvio que minha predileção por Eles voltam está bem ligada ao gosto pessoal e preferência pelo estilo misturado de Road Movie e solidão nas grandes cidades. Mas o que mais me chamou a atenção foi a sensibilidade do diretor e a inteligência em optar por um filme simples, calado (o áudio infelizmente deixa muito a desejar) e  inteligente. 

Me fez pensar no quanto Belém precisa urgentemente de um fundo de cultura para que o povo do cinema tenha a chance de, mesmo com pouco recurso, realizar um longa tão bem feito e revelador de talentos. Aposto que os próximos passos de Lordello e da excelente protagonista Maria Luiza Tavares devem representar um avanço em suas carreiras. E que venham mais produções assim, com gente nova e interessantes desbancando a tropa global que invade as salas de cinema de todo o Brasil.



domingo, 2 de fevereiro de 2014

Philip Seymour Hoffman Top 10

Philip Seymour Hoffman se foi no mesmo dia em que outro grande nome do cinema (brasileiro) também foi tragicamente assassinado, Eduardo Coutinho. Um dia triste pro cinema.

Fiquei particularmente triste com a morte de Philip Syemour Hoffman e terrivelmente chocado pela tragédia com Eduardo Coutinho, que me lembrou a morte do comediante canadense Phil Hartman, em 1998, que foi assassinado pela ex-mulher, enquanto dormia, e que se matou logo depois.

O mais incrível na carreira de Seymour Hoffman era a quantidade de filmes que ele fazia e o quanto se diferenciava dos personagens em cada interpretação. Era um daqueles atores que acrescentava um voto de confiança em qualquer filme que participava. "Se esse cara está lá deve ser bom", eu pensava. Além de ser o ator favorito de um dos meus diretores favoritos, Paul Thomas Anderson.

Meus 10 filmes favoritos com o Philip Seymour Hoffman - incluindo o que ele dirigiu e escreveu Jack goes boating



Embriagado de amor (Punch Drunk Love) 




Com amor, Liza (Love Liza)




Quase famosos (Almost Famous)




Felicidade (Happyness)




Boogie Nights




Piratas do Rock (The boat that rocked)




Antes que o diabo saiba que você está morto (Before the devil knows you're dead)




O grande Lebowski (The big Lebowski)



Próxima parada Wonderland (Next stop Wonderland)




Vejo você no próximo verão (Jack goes boating