segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Herói é coisa hype

Frank Jorge realizou o sonho de uma rapaziada em Belém com show ao lado do Stereoscope, na Boate Sarajevo. A foto é da amiga Luciana David



Num mundo cada vez mais sem desejos, expectativas e esperança, heróis são itens raros. Me sinto realmente triste quando perdemos um, como nos casos de Lux Interior e Paul Newman, recolhidos desse plano recentemente – e devidamente homenageados aqui. Tanto Lux quanto Newman, creio eu, eram caras que acreditavam no que faziam, obstinados e que nunca precisaram ser o que não eram para chegar a algum lugar. Isso é ser um herói nos dias de hoje, onde o mundo é cada vez mais digital, os contatos são virtuais e a coragem se esconde atrás de monitores de 17 polegadas. E na chuvosa noite de sexta-feira, dia 20 de fevereiro, eu vi mais um herói da minha geração defendendo suas causas: Frank Jorge.


Em 1996, eu era um moleque de 17 anos que tinha uma guitarra, bermudas grunges e cabelos compridos. Tinha uma guitarra vagabunda e colava nos bróders que sabiam uns acordes de Black Sabbath, Red Hot Chilli Peppers e Nirvana. Meu universo era esse, meus amigos curtiam isso e o máximo que eu me atrevia a ouvir de diferente era Oasis e Jesus and Mary Chain. Mas a MTV teimava em passar na programação da tarde o clipe de três tiozões desengonçados, com camisa de time e estereótipos de funcionário público. Era a Graforréia Xilarmônica, banda de Frank Jorge, com o clipe de “Você foi embora”. Não conseguia entender como eu gostava tanto daquilo se não tinha nada a ver com o momento que estava vivendo. Era jovem guarda, era brega, era gaúcho... Mas que porra?!

Então segui minha vida tranqüilo e sem ligar muito para esse meu lado – exceto quando via o clipe da Graforréia passando e corria para ajeitar a antena ligada em UHF na minha TV. Naquela época, o rock brasileiro eram apostas dos Titãs no selo Banguela (dirigido por Carlos Eduardo Miranda), que se resumia a Raimundos, Pato Fu e Mundo Livre S/A. Graforréia Xilarmônica era uma dessas apostas, mas poucos felizardos reconheceram.


Fui morar em Santos e o rock brasileiro voltou a aparecer. Foi quando fiz alguns amigos que, entre outras coisas em comum, também eram fãs de Graforréia. E aquela foi a hora de poder assumir meu amor por aquele rock cheio de sotaque, cínico, de guitarra esquisita, mas estranhamente cativante. Lembro que Fabeca Martins me emprestou o Chapinhas de Ouro e Coisa de Louco II, e percebi que minha intuição não havia me enganado, além de Você foi embora, Eu e Nunca Diga (as duas últimas gravadas pelo Pato Fu), havia ainda todo um universo de pérolas que perpetuaram-se em meio a um udigrudi cultuado. Músicas como Eu mato os dois, Meus dois amigos, Twist, Misto quente, Colégio interno e Amigo Punk, um clássico em todas as rodinhas de quem realmente sabe o que é rock brasileiro.


Frank Jorge esteve em Belém no último final de semana a convite de nossa produtora para um show ao lado dos amigos da Stereoscope – que tiraram suas músicas divinamente – para ser a atração principal do Grito Rock, um evento que insistimos em fazer sem patrocínio. O evento em si me metia medo. Era mais um show que estávamos fazendo sem nenhum centavo de patrocínio e contando 100% com bilheteria e uma angústia me pegou por toda a semana que antecedeu ao evento. Me preocupei até o momento de Nunca diga, música que abriu a apresentação de Frank Jorge na noite do dia 20. Cantei quase todas as músicas do começo ao fim do show, com o hino Amigo punk, que puxava mais uma vez um coro de beberrões, que eu fiz parte e puxei o pedido da platéia. Frank me olhou e disse “de novo?”. Claro, a gente esperou a vida toda por esse momento. As 200 pessoas que estavam na Sarajevo podem não se dar conta disso ainda, mas estavam presentes em uma das noites mais importantes da história da produtora Dançum Se Rasgum, onde, mais uma vez, o prejuízo financeiro não arruinou nossos sonhos.


Com três discos solos lançados e sempre alerta para uma volta com a GX, Frank é um dos maiores compositores brasileiros que não deixa de colocar humor mesmo quando está falando sério. Sua genialidade se espalha por onde passou, desde os Cascaveletes aos Cowboys Espirituais, a refrões como “Elvis na fase decadente é bem melhor que muita gente”, que abre seu mais recente trabalho, o Volume três.


Frank Jorge é um herói, embora ele deteste essa maneira de reverenciá-lo. Em nossa troca de e-mails, usei o adjetivo “lendário” para me referir a ele no release, e ele pediu, por favor, que retirasse aquilo, dizendo que uma pessoa lendária não está com o nome no SPC e não faz malabarismo para cuidar de três filhos. É isso mesmo, Frank, me desculpe, mas os nossos heróis não usam mais a cueca por fora da calça.


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Tecnobrega na BBC

Que virou a grande coqueluche dos entendidos de indústria fonográfica e música periférica no Brasil, todo mundo já sabia. Mas de vez em quando vem um jornal falar da música paraense. Já teve o The Observer, que deu página dupla e o La Pupuña estampado lá, pagando de prêi.

Agora foi um e-mail do Rodrigo Lariú que mandou essa aqui. Matéria bem legal, grande e dividida em três tópicos sobre o cenário do tecnobrega, o mercado e seu futuro.


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Sonho guardado na garagem


Presidente Elvis e o click formidável de Renato Reis


Tenho uma banda. É o objetivo de qualquer pessoa que um dia pendurou uma guitarra, plugou em um amplificador e ouviu um acorde distorcido pelo pedal de overdrive. É o desejo de qualquer moleque que descobriu Beatles aos nove anos, se arrepiou com a guitarra de Tommy Iommi aos 15 e acreditou nos Pixies aos 18. Tive uma penca delas, mas agora tenho uma só há oito anos, ela se chama Presidente Elvis.


Antes disso tentei dar vida às minhas composições horrorosas por volta de 1996, 1997, quando tinha o Mary Fuzzy. Eu tocava guitarra, cantava e escrevia as letras tentando acompanhar numa leva ordinária de bandas indies que cantavam em inglês. O som sofria (no melhor sentido da palavra) influência de Stone Roses, Jesus and Mary Chain, Echo & The Bunnymen, Catherine Wheel e Adorable, de quem fazíamos diversos covers. Durou dois anos e nunca nos apresentamos por aí. Tudo bem, Belém era outra. O Mary Fuzzy era eu, Francisco “Cara-Dura” (que depois foi do Turbo e I.O.N., vindo a se chamar Frank Hard-Face), Planária (do Norman Bates) e Kássio Neiva (que não sei por onde anda). Depois teve o Dudu, lá pro final.


Bom, o Presidente Elvis já existe há oito anos. Surgiu em uma das férias que eu passava em Belém quando morava em Santos. Lembro que eu mesmo fiz a correria para reunir a moçada. Eu, Dudu e Gustavo (que mais tarde fundamos a Se Rasgum) nos juntamos com o Carlos “Canhão” Brito (baterista da Euterpia) e Angelo Cavalcante - que já acompanhava Canhão e Gustavo em projetos anteriores. Ensaiamos músicas de bandas que a gente curtia como Pixies, Beatles, Jesus and Mary Chain, Joy Division, Radiohead, Júpiter Maçã, Beatles e mais uma porrada de coisa indie pra caralho que nem lembro agora. E então fizemos um show no bar Art Rock, no bairro do Reduto, de propriedade do suíço Alan, um gringo gente boa que andava num motão classe A com sua esposa marajoara. Lembro que a mulher dele tinha um ar sofrido, reclamava da vida com um suspiro característico de quem já passou por poucas e boas nesse mundo. Enfim, isso não interessa. Espero que eles estejam bem. Era um casal bem simpático.

Então o Presidente Elvis existiu nessas minhas férias de julho, dezembro e janeiro em Belém, até que no meu último ano na Baixada Santista passei um bom tempo sem vir a Belém, então os caras fizeram alguns shows sem mim – era sempre em aniversários de amigos ou ocasiões em que eram convidados. Voltei para Belém em junho de 2003 e resolvemos voltar com a banda para o primeiro natal da Dançum Se Rasgum Produciones, em dezembro do mesmo ano. Foi quando nasceu o Jingle Hell (que ainda não tinha esse nome) e nosso charminho em dizer que só tocávamos no natal. Foi legal, até vir a fissura de tocar mais vezes. E então agora tocaremos nesta sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009, já com a formação atual, que inclui o Raphael Pinheiro (que já está na banda há uns três natais) e o Jean Louis Franco, que foi o primeiro baterista da banca baiana Cascadura. Voltei a curtir tocar guitarra e investir em equipamento. Daqui a pouco encho o saco de novo, sei lá.

Como as nossas apresentações eram anuais, nunca tinha problema repetir as mesmas músicas, que já eram obrigatórias graças ao nosso pequeno fã-clube formado por nossas namoradas e amigos. Sempre pediam Pixies e insistiam em Raimundos, que até hoje a gente nunca ensaiou. Pediam também Blister in the sun, do Violent Femmes, mas essa encheu o saco de verdade. Agora sinto o peso da velhice de uma banda de tiozões, com músicas de bandas dos anos 70 como Lynyrd Skynyrd, Rolling Stones, T-Rex e Buzzcocks, mas também outras dos anos 80 como Joy Division, Talking Heads e The Cure.

Vejo meu irmão pra cima e pra baixo com sua guitarra agora. Vive tirando músicas, toca com os amigos e já pegou o gostinho pela coisa. Espero que ele vá mais além do que o irmão. Quando ele sentir o arrepio de um acorde terminando a música junto, ver a galera gritando bêbada e se divertindo lá em baixo, aí, maninho, já era. É um caminho sem volta.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Um encontro com Elvis

Lux Interior - 1946 - 2009


- É, mais um que se vai. E o Bruno e o Marrone bem de saúde aí.

- Pior. O Bello está aí, rico, solto e comendo aquela cavala.


A conversa com meu amigo Elvis Rocha era sobre a morte de Lux Interior, como era conhecido Erick Lee Purkhiser, vocalista do The Cramps, uma das mais divertidas, cultuadas e dançantes bandas de rock de todos os tempos. Lux morreu na quarta-feira, vítima de um ataque cardíaco. O homônimo de meu amigo era o grande ídolo de Lux e todo o Cramps.


Lux Interior montou o The Cramps com Poison Ivy – que veio a ser sua esposa – em 1972 e fez parte de toda uma era de bandas de rock do circuitão CBGB que influenciaram o rock ‘n’ roll mundial e é, até hoje, contagiante em qualquer pista de dança do mundo inteiro. Nesse meio em que “novas salvações do rock” entram e saem de cena, The Cramps sempre figurou num quadro de estrelas tão importantes quanto Ramones, The Who, Beatles, Sex Pistols e Stooges.


No começo do ano foi Ron Asheton, guitarrista dos Stooges, que também morreu vítima de um ataque cardíaco. O que me faz pensar em 2009 começou como “o ano em que o rock morreu”. Explode coração.


A morte de Lux Interior me faz lembrar um final de semana in love em um hotel antigo na frente da praia, onde ficou a única camiseta que tinha do The Cramps, que já não dava mais em mim mas ainda insistia em tê-la na esperança de um dia voltar a dar. A camisa ficou, o amor continuou e o Cramps se mantém na prateleira, sempre com seus discos requisitados para minhas discotecagens.


Aliás, hoje na despedida do Madame Saatan, farei uma discotecagem de despedida a Lux Interior.


Descanse em paz numa terra cheia de garotas de biquíni com armas na mão, ao lado de Elvis.