quinta-feira, 29 de abril de 2010

Vamoz neussa!

- Alô.
- Alô. Opa, beleza?
- Beleza.
- Quem é?
- É Marcelo.
- É que me ligaram desse número.
- Ué, não. Foi você que me ligou, amigão.
- É que o número estava aqui no meu celular.
- Quem está falando?
- É Marcelo também.
- E tu é de Recife, certo?
- Sim, você tá onde?
- Belém.
- Pois é...
- ...
- Será que ligaram do meu celular pra você?
- Como é que eu vou saber?
- Pois é...
- Vamos lá. Dicas. Tu é de banda? Eu sou produtor em Belém, tenho um festival, faço shows...
- AHHHRRRR!
- Gomão?
- Fala, mermão!
- Caraaaaalho...
- E aí, com estão as coisas aí pro festival?
- Bem, estão indo. E a Vamoz?
- Do caralho! Iuri já entrou, fez uns shows já!
- Bacana, bacana.
- Bem, até aí, né?
- Beleza, até novembro.







P.s: Para fãs de Dinosaur Jr, hã?

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Caiu na rede já era

 
Cheguei no hotel, joguei a mochila no quarto e troquei de camisa. Tathi Nunes, minha grande nova amiga de todos os tempos, me esperava no hall do hotel, que ficava a duas quadras do Parque Municipal de Belo Horizonte, o ponto de encontro de quase todas as noites de abril na capital mineira. Era lá que os dois palcos, montados em pontos estrategicamente distantes, forneciam ao público os melhores nomes da MPB atual. Uma MPB sem restrições, sem vícios, que não segue regra e mistura guitarras com efeitos longos de delay com rimas nordestinas e letras bem amarradas no bom e velho “estilo Chico”.

Lá no Parque Municipal, cheguei e dei de cara com Iva Rothe Já no palco. Mesmo sendo da mesma cidade da cantora, nunca havia visto um show dela. É uma voz bonita, um trabalho bem feito e uma cozinha de excelentes músicos. O bróder Pio Lobato, que acompanhava Iva junto a Príamo Brandão (baixista) e Vovô (baterista), se apresentou no mesmo palco depois de Iva. Deu orgulho dos paraenses. Até porque, no mesmo dia em que Elza Soares se apresentou como convidada da banda paulistana Sandália de Prata, foi no show de Pio Lobato que vi os primeiros passos de euforia no público mineiro.

O primeiro dia deu para entender bem o Conexão Vivo. Público curioso por novidades, inquieto, assim como o projeto. A articulação que o Conexão Vivo projeta, no entanto, vai mais além do que simplesmente colocar artista bom no palco. 



  Olha que beleza de Paque! Foto de Marco Aurélio Prates

Na primeira noite, depois de um jantar na Cantina do Lucas, voltei papeando com Tathi andando pro hotel. Logo na entrada, quando eu apalpava meus bolsos atrás da chave, Tathianna alertou tardiamente - depois de já ter me devolvido horas antes após cair do meu bolso: “é melhor você deixar a chave do hotel na portaria. Vai acabar perdendo”. Tarde demais, já era. Nada que uma multa e um cartão de crédito não resolvam no check out.

O hotel era o Dayrell, apelidado pela galera de “From Hell”. Bonitão, clássico. Mas estilo “O iluminado”. Classe! Lá estavam Fernando (revista Noize), Ad Luna (Show Livre), Felipe (Stereoclipe), Leonardo Linchote (O Globo), Leo Fernandes (Diário do Pará) e as bródi Tathianna e Ana Garcia (Coquetel Molotov). Era essa a trupe que almoçava e jantava unida e dava apelidos bons para hotéis clássicos.

No clima de tentar acompanhar tudo, mas sempre com a impressão de estar perdendo alguma coisa, fiquei de quinta a quarta-feira na capital mineira a convite do festival onde produzi matéria, observei atentamente os detalhes de produção, de marcas (A Se Rasgum, produtora que faço parte, fará edição paraense do mesmo evento), palco etc.

Nas noites que se seguiram, vários shows importantes passaram por aqueles palcos. Wado, Eddie, Romulo Fróes, Cabruêra e Cassim & A Barbária representam bem a nova música brasileira, mas é sempre no Cidadão Instigado que a coisa toma força, que a música independente brasileira mostra em que pé estão as coisas. Por mais que Eddie seja um grupo consagrado, responsável pela história do mangue beat, que tenha hits como “Quando a maré encher” e que seja um show com presença de palco incrível; por mais que Romulo Fróes seja a grande revelação dessa MPB indie com cacife de lançar um álbum duplo espetacular; por mais que o Cabruêra tenha sido, de fato, a maior surpresa do festival para mim; por mais que seja fanzaço das composições de Wado; por mais que tenha me esforçado e só tenha conseguido pegar a última música do badalado Cassim & A Barbária; por mais... Não tem jeito, o que há de mais original, genuíno e moderno na música brasileira atual é a trupe de Catatau.



Toca Pink! Toca Raul! (foto de Dila Puccini)
 
O Cidadão Instigado é a mente de Catatau, com suas referências de rádio FM que acompanharam qualquer ser humano, por mais indie que tente ser. Bart, amigo meu de lá, ouviu o comentário de um cara sem muita informação (da técnica) de que o som do Cidadão Instigado era “uma mistura de Pink Floyd com Raul Seixas”. Por mais que isso irrite os mais fanzocas das três coisas (Cidadão, Raul e Pink), a comparação caiu como uma luva de tão pertinente. Vamos lá, Raul era mais sagaz nas letras. Mas Fernando Catatau joga suas “viagens” nas letras que beiram a ironia, mas que parecem mais reflexos de serenas constatações. Ele fez o mesmo show que vi no Rec Beat, tocando 90% do repertório do disco “Uhuu”, o terceiro de sua recente carreira. E fez o público cantar. E pular. E vaiar o apresentador depois que saiu do palco e que os pedidos de “mais um” não foram atendidos. Lá em Belo Horizonte existe um público que conhece muito bem o que está rolando por aí e sabe se impor. Foi bonito de ver.

Dei umas bandas por lá com meus amigos do Dead Lover’s Twistted Hearts. Fomos a uma festa num cineclube muito interessante. Filme rolando na tela, pubzinho lá atrás com sonzeira anos 60 rolando e gente elegante dançando.

Andei pela cidade de busão também numa tarde de sexta. Vi que tinham uns indies que desceram na mesma parada que eu. Estava indo ao cinema no shopping Pátio Savassi e vi a galerinha de óculos rayban, camisa quadriculada e cabeleira arrepiada em uma pequena fila. Era o show do Placebo que rolaria naquela mesma noite. Se fosse no final dos anos 90, aquele poderia ter sido até o motivo da viagem. Mas não dessa vez. Agora é hora de música brasileira.

 É, teve espaço pra ver uma banda gringa. Agent Orange back to the future.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Nuvens negras

No avião, de saco cheio da viagem de quase nove horas entre aeroportos e escalas para chegar em Belo Horizonte, apelei para flagras da vida comum. Aquela coisa de observar para depois escrever. Tirei o fone do ouvido para ouvir a molequinha que devia ter uns quatro anos de idade e viajava com os pais pela primeira vez de avião. "Mãe, as nuvens não são de algodão?". Sorri com a inocência e fechei os olhos para tentar dormir.

Era para a cena acabar aí. Mas a menina ficava empurrando a minha poltrona com os pés, tornando sua atitude de angelical para infernal em menos  de cinco minutos. Dei aquela olhada antipática para trás, a mãe a repreendeu, mas depois a pestinha continuou. O que era para render um texto florido e cheio de belezura virou um pau-de-arara do caralho no boing da Tam. Depois, a aeromoça passou com o carrinho servindo as pessoas e me ignoraou como se eu fosse um fantasma. Ou me olhou e pensou "nah, tá muito gordo esse aí". Aeromoça que além dos sorrisos fake e da educação plástica ainda é controladora de peso do avião. No melhor estilo boçal-babudo-puto-com-o-voo, chamei: "EEEEEI!". "Oi, o senhor aceita?", "o que tu achas?". O suficiente para reinar absoluto como o André Matos de voo doméstico, prestes a explodir se visse o Pelé.

E aí a Tam proíbe que se use o Iphone no avião. E aí, o que eu ia fazer com a temporada inteira que coloquei lá justo para a ocasião? Liguei. O que ela ia fazer agora, me colocar pra fora ou pedir para desligar e encarar mais uma dose de antipatia? E então finalemente dormi vendo o Peter Griffin barbarizar com um humor tão negro que às vezes me sinto culpado de rir. 
 

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Let´s twist, junkie, twist


Damn Laser Vampires no Boteco São Matheus (foto de Fabrício de Paula)
 
O mundo se tornou um lugar melhor depois que as guitarras desobedeceram as regras e decidiram fazer o que se convencionou chamar de rock ‘n’ roll. Os excluídos tiveram voz, os radicais pisaram fundo e a juventude enfim teve, enfim, sua chance de ser mais feliz e se desligar dos problemas do dia a dia. E na noite do dia 10 de abril, no boteco São Matheus, mais uma noite em Belém me mostrava que essa praga do rock ‘n’ está solta pelas ruas e nos pega de surpresa, quando a gente menos espera. E aí, quando a gente acaba achando que vampiros não existem, vem uma banda como o Damn Laser Vampires e prova que, realmente, vampiros não existem. Mas que eles são uma puta inspiração para um belo show de rock.

Frank Jorge já havia recomendado o trio gaúcho de fãs de The Cramps. E então os heróis do rock de macho da cidade, a produtora This Is Radio Trash, trouxe a banda para uma dobradinha nas noites de 9 e 10 de abril. Na primeira noite, com abertura do Turbo, o clima estava preguiçoso pra mim e, por algum motivo, acabou sendo preguiçosa para todo mundo que foi ao Boteco São Matheus assistir o trio paraense Turbo e o trio gaúcho Damn Laser Vampires. Depois da apresentação do Turbo, que teve o show interrompido para que se corrigisse a oscilação de energia da casa, o Damn Laser Vampires entrou com todo o estilo de uma banda com aquelas influências. No entanto, a energia não tava boa, não só da vibe como a do local. E o show foi interrompido por um apagão na terceira música. Mas tudo bem, ainda tinha o dia seguinte.

No sábado já cheguei com o show dos gaúchos no final. Ví três músicas do dia anterior e as três últimas do segundo dia (em que eles tiveram que repetir o show autoral para depois fazer o prometido para essa noite, o show só de versões do The Cramps), no total, assistí metade do show autoral. Vale? Vale sim. Mas o que encheu meus olhos estava por vir, o show em homenagem ao Cramps.

Para quem jamais terá a oportunidade de ver um show do quarteto norte-americano (que perdeu seu líder recentemente e que nunca veio ao Brasil por causa de seus malditos gatos de estimação), o presente dado pela banda gaúcha foi além do esperado. O visual é incrível: Ron Selistre (guitarra & voz) vai bem do figurino vamp ao vozeirão Lux Interior; Francis K (guitarra) é puro charme blasé na sua tonante bem timbrada (você nunca mais vai ler isso em nenhum outro lugar do mundo) e Michel Munhoz foi um dos bateristas mais precisos que já vi. E choveu lembrança dos Cramps, com Ultra twist, Like a bad girl should, Naked girl falling down the stairs e Bikini girls with machine guns.

Ali, vendo a galera cantar junto, vibrar e dançar um twist-junkie, vi que aquilo sim era um momento digno de uma cidade que ama o rock, mas que nem sempre tem ele por perto. Mas quando tem, são cenas como essa que ficam na memória. No final do show, no melhor papel baba-ovo-tiete, agradeci a Ron pelo presente aos fãs de Cramps. E vida longa a This is Radio Trash!


Fotos que tirei do celular: 

 É ou não é um puta visu?


sábado, 10 de abril de 2010

É com bê érre.

Já notaram que o endereço do blog mudou para www.cartasuruguaias.com.br, né? Frescura ou seja lá o que for, achei melhor registrar logo o nome. O legal é que esse endereço ponto-com-ponto-br imprime uma certa importância e faz com que o blog, de repente, receba um novo tratamento, tanto visual como de conteúdo e atualizações.

A atualização pode se tornar cada vez mais um problema maior pelo acúmulo de coisas que tem aparecido. Mas vamos ver com me saio com esse novo endereço fodão e que tenta parecer mais fodão ainda.

O paraíso perdido dos CDs desaparecidos



Perdi uns discos. Não achei na minha prateleira junto às outras pilhas de CDs que estão arrumadas na horizontal, em ordem de estilo. Procurei primeiro entre os discos de folk, depois fui para projetos paralelos e remanescentes. Procurei na nova pilha de “CDs que sempre devem estar a mão”. Nada, perdi mesmo. Demorei a dar conta da perda, e talvez tenha sido isso que mais me incomodou. Enquanto procurava o CD pensava o quanto a facilidade de um click torna algumas coisas sem graça. Os 80 gigabytes de música que tenho no computador a facilidade de achar qualquer coisa em menos de cinco segundos. Só que é nessas horas de conforto que tento refletir sobre a vida digital para tornar minha vida mais física e analógica. 

[Estariam os CDs indo para o mesmo universo paralelo das cabetas Bic, palhetas de guitarra e tampas de pen-drive?]

Os discos em questão eram os dois primeiros álbuns da banda inglesa Mojave 3, projeto que resultou do fim da banda shoegazer Slowdive, que saiu de um rock underground sombrio dos anos 90 para um folk com vozes sussurrantes, letras bonitas e clima nostálgico. Uma banda que deixou a parafernália de efeitos que enchiam seu som no Slowdive e passou a utilizar violões, vozes limpas, bateria acústica e recursos que os deixaram com uma cara mais humana, limpa e de algo que não se esconde atrás da tecnologia e modernidade.

Olhei quatro vezes a prateleira até me dar conta de que, definitivamente, devo ter emprestado para alguém que não fez questão de devolver. Isso é outro fator da era digital que atrapalha os planos de quem um dia cultivou com carinho uma coleção de livros, CDs e filmes. Gente que, como diz meu amigo Lobinho Carlos, acha uma “otarice” devolver esse tipo de coisa. A única coisa que lembro de não ter devolvido foi um vinil duplo do Ozzy Osbourne que me primo me emprestou em 1990. Na época, eu lembro de ter dado de ombros e saber que ainda não era aquilo que queria ouvir no momento, por isso não devolvi e fui escutar alguns anos mais tarde. Meu primo com certeza nunca se importou comigo e jamais pediu o disco de volta. Isso diminui minha culpa.

Perder CDs, livros e DVDs hoje em dia é algo que vai ficar cada vez mais comum. Mais fácil arquivar suas coisas num HD externo ou numa daquelas pilhas de mídias em tubo – que chegam, virgens e saem cheias de arquivos sem importância - do que venerar sua coleção de seja lá o que for.

Céus! O que será do charme da casa das pessoas que gastaram uma fortuna em conhecimento e cultura?

Ask me tomorrow e Excuses for travellers. Pra quem eu emprestei, heim?