Meu irmão tem um amigo chamado João. Os dois tem 15 anos e tocam guitarra, escutam as boas bandas dos anos 70, jogam GTA e gostam de jogar bola. Meu irmão tem suas tardes da semana tomadas por atividades como futebol, aulas de guitarra e, vez ou outra, uma aulinha de reforço. João leva a vida adolescente no mesmo ritmo, mas com uma diferença: ele faz ballet.
E como um garoto cabeludo, alto para sua idade e que impõe respeito entre os demais por saber empunhar uma guitarra pode se posicionar diante de outros garotos quando se sabe que suas tarde são tomadas por pas de baque, petit jeté, plié e piruetas? A única coisa que explica essa mudança de hábitos juvenis é o amor. João se apaixonou por uma bailarina.
O Billy Elliot paraense me fez olhar pra trás, observar o quanto a timidez e a falta de coragem para certas coisas me tornaram um adolescente que só fazia olhar para o relógio e esperar completar a maioridade. Eu sempre achei que a CNH me daria a liberdade que esperei a vida toda por estar diante de um volante que me levaria para qualquer lugar. Faltou coragem para assumir amores, lutar por ideais e formar uma personalidade que moldaria todo o meu trajeto até aqui. Mas acho que o faltou mesmo tenha sido um amor de verdade no meu pré-18.
Chegar aos 32 anos assumindo algumas culpas e rindo do passado, para mim, é sinal de vitória. É claro que gostaria muito mais de ter falado que me apaixonei aos 14 por uma menina, liguei o amplificador de guitarra embaixo da janela dela e toquei Blackbird dos Beatles. Mas isso fica pra ficção. E me derrete ver histórias como a de João. Outro dia, da varanda do meu apartamento, vi João passando com sua bailarina ao lado. E sorri ao observar que eles estavam de mãos dadas.