sábado, 28 de agosto de 2010

Os bons e velhos costumes



Mas onde estão os bons e velhos costumes que costumávamos ter? É o que pergunta Peter Griffin na abertura de Family Guy, uma das séries animadas mais divertidas e sem limites de todos os tempos. Na abertura do programa, a família geralmente está reunida em frente à TV assistindo às maiores bizarrices da TV aberta norte americana. Tudo é absurdo e engraçado demais, e é exatamente isso que faz a série ser o que é, um riso frouxo do começo ao fim com piadas sem limites sobre cultura pop e da família americana.


De algum tempo pra cá venho achando a TV aberta um grande portal de invasões bizarras que intentam prender aquele sujeito que já está abandonando o controle remoto pelo teclado e mouse. E nela, quase tudo já é permitido, desde os mais sensacionalistas reality shows às sugestões sexuais que já não ficam mais nas entrelinhas.


E então chego em casa meio doidão em uma madrugada qualquer e passo a zapear os canais da TV por assinatura. Nenhuma série, desenho ou filme interessante – nem mesmo as surpresinhas marotas que Cinemax reserva para caras solitários no meio da madruga. Então chego a um programa da TV americana que passa no Mulstishow, chamado “Pense nisso”. Lembrei imediatamente do Adnaldo, um amigo meu. Mas nem tive tempo de rir e embarcar na minha lombra com a advertência que aparecia na telinha em seguida, de que o próximo programa continha cenas de uso de drogas e temas adultos. Larguei o controle e conclui “é por aqui que fico”.


O “Pense nisso” exibia naquela noite um programa da MTV Norte Americana chamado “Gone too far”. A premissa era a mesma de “Super Nanny” e do “Encantador de cães”. Uma família de classe média está passando por problemas com o filho atentado ou o cão espírito-de-porco e então chega o herói fodão que vai colocar ordem naquela porra toda. Pois em “Gone too far” a onda é muito, mas muito mais pesada.


DJ AM é o cara. Ele é um DJ conhecido nos Estados Unidos por ter se emboletado com celebridades como Mandy Moore e Nicole Richie. É a ele que as famílias chamam quando precisam de uma forcinha. Só que essa forcinha não é com crianças tolas, cães danados ou casais em crise, mas com jovens entre 20 e 25 anos viciados. No episódio que meus olhos não acreditavam que estavam vendo, uma menina chamada Gina, de 20 anos, era uma viciada em heroína dessas que o cinema sempre dá uma exagerada para querer chocar. Por algum tempo achei que o programa era forjado. Gina vivia com a mãe, o irmão (outro ex-viciado em heroína) e a avó, que dava grana para Gina comprar heroína, como uma forma desesperada de fazer com que ela se drogasse em casa e não saísse para “fazer besteira” na rua.

"Ô, Gina, larga o pico. Que coisa feia!"

O programa tem exatamente o mesmo formato de Super Nanny, em que o condutor, no caso DJ AM, aparece como um herói fodaço na abertura, com um off narrando sua ficha e dizendo que ele era um ex-viciado e que estava há 11 anos livre do vício. DJ AM fala com a câmera no melhor estilo “e agora vamos conhecer Gina?”. A linguagem do programa me deixava surpreso com o tom angelical e as imagens impressionantes da garota se injetando, mostrando a latinha onde guardava a droga e o braço completamente roxo sem lugar para achar uma veia e se injetar. A mãe falava de uma forma como se Gina estivesse com notas ruins no colégio. O irmão como se ela namorasse um cara mais velho. A avó, caduca talvez, falava numa boa que dava dinheiro para ela comprar heroína como se falasse que estava suspendendo a mesada porque ela chegou tarde em casa no final de semana. E DJ AM trata tudo com um certo sangue frio, oferecendo tratamento à menina (que aceita ir, é claro).



"Gone too far" teve apenas oito episódios, que foram exibidos no ano passado pela MTV americana. A série foi interrompida pela morte de DJ AM, que (veja só) morreu devido a um acidente com remédios em seu apartamento em Nova York, depois de ter escapado de um acidente de avião em que morreram quatro pessoas.

DJ AM morreu no ano passado aos 36 anos

Por um bom tempo fiquei me perguntando se eu já estava dormindo e sonhando com aquele “Gone too far”, que naquela altura fazia 100% jus ao nome. E aí, meu amigo, onde estão os bons e velhos costumes que costumávamos ter? Me senti o Peter Griffin assistindo TV como se fosse uma coisa normal, mas torcendo para que abusos da TV norte americana demorem a invadir à nossa TV, ou pelo menos a minha vida.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Dinosaur Jr no Coquetel Molotov 2010



Dinosaur Jr toca em Recife no dia 25 de setembro


Saiu hoje a programação do Festival No Ar Coquetel Molotov 2010, que será nos dias 24 e 25 de setembro, no Centro de Convenções da UFPE. O Festival é organizado pelos parceiros Jarmeson de Lima, Ana Garcia e Tathianna Nunes e chega à sua sétima edição com um dos maiores representantes da cultura indie norte-americana, a banda Dinosaur Jr. Nada mal para quem trouxe Teenage Fanclub para a primeira edição do festival, em 2004.

Além de Dinosaur Jr, o festival ainda tem Otto, Emicida, Do Amor, a francesa Soko e mais três das apostas suecas que aportam todos os anos no Brasil, via Recife, pelas mãos do Coquetel Molotov. Os artistas de 2010 são Taxi Taxi, Anna Von Houswoff e Taken by Trees.  

Além dos dois dias de shows, a programação tem início a partir do dia 3 de setembro, com palestras, pocket shows, oficinas, debates, lançamentos etc.

Confira a programação e todas as informações no blog do festival.


 

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

*Nossas vidas não valem um hortelã



Quando vi o Pedrinho Cavalléro agradecendo à Se Rasgum em cima do palco, lá no Conexão Vivo de Castanhal, imediatamente recuperei na memória um daqueles sábados perdidos entre os anos de 2004 e 2005, quando eu, Randy, Gustavo, Dudu e Juliana tínhamos nossa diversão garantida de 15 em 15 dias no Café com Arte. Eu e Randy bêbados discotecando e jogando cerveja pra cima. Outras épocas. Foram dois anos intensos e importantes para nossas vidas, não só pelo o que estava acontecendo na cidade - com o ressurgimento de uma cena mais antenada com o que vinha rolando pelo Brasil – como de ter mais perto da gente pessoas interessadas em ouvir o que não estava nas freqüências das dials locais e do Top 20 MTV. Ali, naquela galeria do Café com Arte, pessoas se acotovelavam para ver quem estava fazendo todo mundo cantar junto.

Lembro com graça do Stereoscope fazendo um show inesquecível no Dia dos Namorados, do Madame Saatan trazendo uma das maiores filas que já tivemos para entrar na festa, do surgimento do Eletrola no circuito, dos bons shows do Cravo Carbono, do La Pupuña assumindo o papel de banda oficial da festa Doente do Pé, além das bandas de fora que começamos a trazer para fazer shows históricos naquele palco do Café, como Wander Wildner, Nervoso e Sapatos Bicolores. Foi uma época especial, que me faz lembrar que a responsabilidade era muito mais cultural e segmentada do que política. Meu pensamento era exatamente o de mudar a mente de pessoas que até tinham predisposição a assimilar coisas novas, mas de repente não tinham oportunidade.

Mas aí veio o festival e chegamos ao patamar da música paraense, de representar o valor dos nossos ritmos regionais e começar a profissionalizar a coisa. Era o próximo passo a ser dado, e foi quando Marcel e Renée (minha namorada na época) entraram e deram outro gás à parada. Quase sete anos depois, novos rumos escolhidos pelos sócios que ainda enfrentavam a batalha de carregar a marca. Agora, me vejo novamente diante de algo que construií com muito tesão e que, depois de tantas experiências, me vejo novamente no meio de algo que nem sabia que cairia em minhas mãos. Mas aí troco e-mails e telefonemas com velhos heróis como Jards Macalé, Dado Villa-Lobos e Frank Jorge e vem um suspiro novo.

Daí eu assisto a um show e vejo um cara como o Pedrinho Cavalléro, autor de várias canções que embalaram a história de vida de qualquer paraense da minha idade, falar o nome da Se Rasgum em cima do palco. Lembro da piada que o Randy contava quando estava todo mundo chapadão e que o Gustavo, compartilhando do mesmo acidente cósmico, deu o nome de nossa “produtora” de Dançum Se Rasgum Produciones.

Sei que fomos muito felizes bebendo juntos, no final da festa gritando refrões do New Order e Júpiter Maçã na pista; de sentarmos para beber com as bandas da nossa geração que gostávamos; de ter ampliado nosso grupo de amigos e chegando a pessoas que nunca imaginaríamos graças a uma inquietação cultural que nunca teve a intenção de ser panfletário e de se tornar um movimento.

Mas virou. Movimentou a nossa vida e a de uma série de garotos que aprendem a tocar um instrumento e querem montar uma banda. E quando esse trem pega força, nada pode pará-lo. E agora, por mais que os trilhos se cruzem, chegaremos à novas estações. E por mais que essa metáfora seja uma merda, o sentimento é real, e ainda tem muita coisa a conquistar.  Mas sempre saberemos de cada estação que passamos, dos irmãos que deixaram sua marca, desceram do trem e deixaram as portas abertas para quando estiverem prontos para embarcar novamente. 


         Com Doda e Fabrício no Porão do Café                  Eu e Randy no III Festival Se Rasgum


Uma cena de intimidade com Gustavo e Randy            Renée e Lany, as mulheres da Se Rasgum
                     Dudu, o DJ das pessoas post punks. E Marcel, o empresário tocador de Gessinger.


*Título do post saiu do nome de nossa primeira festa, em outubro de 2003, no Café Taverna. O nome foi inspirado em uma peça teatral de Mário Bortolotto, que se chamava “Nossas vidas não valem um Chevrolet”, que virou o filme babaca “Nossas vidas não cabem num opala”.

domingo, 1 de agosto de 2010

Meus discos, meus vícios


 Minha deliciosa bagunça


Minha coleção de CDs começou em 1992. Lembro bem quando meu pai comprou o aparelho na Lobrás do Centro, e lá mesmo ele me levou para escolhermos alguns Compact Discs para deflorar o aparelho que inaugurava uma nova era em nossa casa. A grande novidade tecnológica dos anos 90 tornava o fetiche de comprar discos menos importante. Mas as gerações anteriores, que passaram anos e anos comprando os bolachões, nem pensaram duas vezes antes de começar a fazer a nova coleção. “Escuta essa definição de prato de bateria! Não, tu não ouvia isso em vinil”.


Ouvi muito absurdo de deslumbrante com a nova tecnologia e a maneira “moderna” de se consumir música. Meu pai foi para a sessão de música brasileira e eu para a de rock. Meus discos: Álbum preto do Metallica, coletânea do Nenhum de Nós (hehe), Engenheiros do Hawai ao vivo e o novo (da época) da Rita Lee. Consumi como um viciado os três primeiros, mas o da Rita Lee passei adiante em alguns meses. E foi quando começou minha odisséia pela posse e venda de CDs.


Max, o cara que vendia CDs novos e usados em sua banquinha na Presidente Vargas e, durante a semana, na Praça das Mercês, me conheceu aos 14 anos. Sua banca foi um capítulo importante na minha trajetória de vida. Desde adolescente comecei a correr atrás de dinheiro para comprar meus discos, montar minha coleção e tornar minha vida mais agradável. Comprava, vendia, trocava.


Aos 19 anos, estava louco para fazer uma viagem com o Randy, um de meus melhores amigos, para o Centro-Sul. Fui aos meus CDs, selecionei 50 e vendi todos de uma vez. Lá em São Paulo, deslumbrado com a Galerindie (aquela ao lado da Galeria do Rock) fui às compras. Doze discos na sacola. A obsessão estava se tornando um problema grave. Meu amigo reclamava que por conta daquele vício minha grana acabaria logo. Mas como todo bom viciado, a parada era mais forte que eu.


E toda essa jornada por mega stores, lojinhas de Rob Flemings brasileiros, sebos, bancas de usados e compras pela internet me acompanhou por uma vida inteira. Até falarem que os CDs estavam defasados e que a onda era a volta do vinil. Respeito as gerações anteriores e sou da opinião de que a embalagem do vinil dá muito mais tesão que o CD, mas minha vida foi construída em cima destas miudezas sonoras e sei que eles me acompanharam a vida inteira, até banirem todo e qualquer CD Player do planeta.


E agora comprei uns 18 CDs de outro dos meus melhores amigos, o Dudu. Tive a certeza de que ainda vou ficar um bom tempo colecionando e tendo os compact discs como meu objeto de prazer e obsessão. Da coleção do Dudu, peguei discos especiais – comprados e bem cuidados por outro colecionador compulsivo – como Peel Sessions de New Order e The Cure, oitentices como P.I.L., Devo, Crowded House; noventices como Sparklehorse, Cocteau Twins, James, além de outras coisas muito interessantes, como a caixa Heart and soul, do Joy Division. Tudo a preço de amigo. Ed na horta de comprar, aquela dó de ver um disco que saiu a 40 dólares ser vendido a 20 reais. Ainda pensei em não levar, mas mandei o Alta Fidelidade, de Nick Hornby, pro inferno!


Mas o que me fez refletir mesmo sobre essa paixão por CDs foi ter ganhado dele um disco especial do David Bowie, e ter escutado algo como: “eu faço questão que esse disco fique contigo, pois sei que ele estará em boas mãos”.


E pode ter certeza, meu amigo, eles estarão sempre por aqui para quando quiser visitá-los.