Fala, Bob.
Como é que ta essa força aí? Soube que tua passada por aqui
foi animal. Geral falou bem, se emocionou e comentou o quanto estavas fazendo
falta. Muita gente comentou que essa pode ter sido a tua última vez que tu dá
as caras por aqui. Meu, tem 17 anos que vieste da última vez! Caralho... Naquela
época eu era um jovem – ainda de indumentárias grunges - com cabelos compridos,
bermudão e camisa do The Doors, naqueles mágicos e reveladores 18 anos. Naquela
época eu tinha uma guitarra bem perebenta e pagava de guitarrista por aí, mas a
real é que não tocava porra nenhuma.
Era 1996, não é isso? Naquela época meu irmão Renato tinha um
ano de idade. Quatro ou cinco anos depois daquilo te apresentei pra ele. Hoje ele
toca guitarra e bateria, e tem diversas bandas. Já tivemos o privilégio de
tocar juntos umas das tuas. Hoje o moleque tem 18. E eu, atualmente, vivo em
função da música. Incrível como a tua onda influenciou a minha, e isso tudo
está presente no rumo que a minha vida tomou. Quando fiz vestibular, a música
que não saía da minha cabeça era Pictures
of you. Conheci alguns dos meus melhores amigos, que permanecem neste
status até hoje, por causa do gosto em comum pelas tuas viagens. Devia ter uns nove
ou dez anos quando te vi pela primeira vez na casa de uma prima mais velha. Ela
tinha uma bela coleção de discos, e entre eles um “daquele cara todo arrepiado”,
como ela se referia a ti.
Toco razoavelmente guitarra e baixo e já toquei muitas das
tuas. Ah, eu tenho um festival também. Claro que ainda não é um daqueles que te
conheci, naquele domingo chuvoso de janeiro, no Pacaembu, em meio àquela nuvem
de fumaça de maconha, passeando naquela repleta fauna de bangers de cabelos
verdes fãs de White Zombie, indies que ainda não sabiam que eram indies, góticos,
bruxas, dragões, magos e playboys. Era a última edição do Hollywood Rock em uma
noite que ainda teve Smashing Pumpkins, White Zombies, Supergrass e Pato Fu. Aquele
universo todo me foi apresentado graças a ti, sacana.
Bem, vou ficando por aqui. Eu sei que não deu pra dar essa
prestigiada, mas sei lá, vai que em dois, cinco, dez anos tu volte, né? Se não, capaz da gente se encontrar num desses festivais da Europa. Ou, quem sabe, um
belo dia o The Cure não dê as caras (trocadilho de merda) na Amazônia. Já
pensou, rapá?
Abração,
Marcelo Damaso
p.s: E o filme “This must be the place”, tu curtiste? Sean
Penn é foda, mas achei que ele exagerou na frescura. Mas não fique puto, isso
tudo é porque a moçada te curte muito.