segunda-feira, 8 de abril de 2013

Carta pro Bob



Fala, Bob.

Como é que ta essa força aí? Soube que tua passada por aqui foi animal. Geral falou bem, se emocionou e comentou o quanto estavas fazendo falta. Muita gente comentou que essa pode ter sido a tua última vez que tu dá as caras por aqui. Meu, tem 17 anos que vieste da última vez! Caralho... Naquela época eu era um jovem – ainda de indumentárias grunges - com cabelos compridos, bermudão e camisa do The Doors, naqueles mágicos e reveladores 18 anos. Naquela época eu tinha uma guitarra bem perebenta e pagava de guitarrista por aí, mas a real é que não tocava porra nenhuma.

Era 1996, não é isso? Naquela época meu irmão Renato tinha um ano de idade. Quatro ou cinco anos depois daquilo te apresentei pra ele. Hoje ele toca guitarra e bateria, e tem diversas bandas. Já tivemos o privilégio de tocar juntos umas das tuas. Hoje o moleque tem 18. E eu, atualmente, vivo em função da música. Incrível como a tua onda influenciou a minha, e isso tudo está presente no rumo que a minha vida tomou. Quando fiz vestibular, a música que não saía da minha cabeça era Pictures of you. Conheci alguns dos meus melhores amigos, que permanecem neste status até hoje, por causa do gosto em comum pelas tuas viagens. Devia ter uns nove ou dez anos quando te vi pela primeira vez na casa de uma prima mais velha. Ela tinha uma bela coleção de discos, e entre eles um “daquele cara todo arrepiado”, como ela se referia a ti.

Toco razoavelmente guitarra e baixo e já toquei muitas das tuas. Ah, eu tenho um festival também. Claro que ainda não é um daqueles que te conheci, naquele domingo chuvoso de janeiro, no Pacaembu, em meio àquela nuvem de fumaça de maconha, passeando naquela repleta fauna de bangers de cabelos verdes fãs de White Zombie, indies que ainda não sabiam que eram indies, góticos, bruxas, dragões, magos e playboys. Era a última edição do Hollywood Rock em uma noite que ainda teve Smashing Pumpkins, White Zombies, Supergrass e Pato Fu. Aquele universo todo me foi apresentado graças a ti, sacana.

Bem, vou ficando por aqui. Eu sei que não deu pra dar essa prestigiada, mas sei lá, vai que em dois, cinco, dez anos tu volte, né? Se não, capaz da gente se encontrar num desses festivais da Europa. Ou, quem sabe, um belo dia o The Cure não dê as caras (trocadilho de merda) na Amazônia. Já pensou, rapá?

Abração,

Marcelo Damaso




p.s: E o filme “This must be the place”, tu curtiste? Sean Penn é foda, mas achei que ele exagerou na frescura. Mas não fique puto, isso tudo é porque a moçada te curte muito.