Sou dos que ainda assiste TV, escuta música no formato
analógico, ainda pego (mesmo que raramente) um taxi pensando em equilibrar a
disputa. Ainda presto atenção na letra da música, em filme que não está apenas
na Netflix, jogo vídeo game no modo história e tento sorrir para as pessoas na
rua sempre que dá. Procuro nas comédias bons roteiristas e pontos que se
identifiquem com a minha desgraça pessoal, o que, certamente, faz a graça ter
graça.
No entanto, não vou estufar o peito dizendo que pertenço a
uma geração, que “no meu tempo isso aí, rapá...” e que pare o mundo que eu quero
descer. Da mesma forma que vejo Globo News, acesso a Mídia Ninja. Se escuto um
vinil em casa, saio para andar com meus fones felizes em uma playlist do
Spotify. Troquei meu carro por um cachorro e andamos de Uber. Não deixo de
pagar a Netflix desde 2012, mas nunca deixei de ir ao cinema e baixar filmes. Adoro
jogar vídeo game on line e acho bastante graça de memes. E se tem uma coisa que
ondei é notícia pelo Whatsapp, sem autor e que, infelizmente, é a que mais se
propagada.
Sou um filho do cruzamento da cultura analógica para a
digital – o que explica a quantidade de CDs em casa. E se essa cultura que me
formou está completamente diferente da atualidade, não sou eu que vou praguejar
contra os jóvi.
Trabalhar com música e cultura não é apenas para quem fecha
os olhinhos sentindo cada timbre valvulado da guitarra alinhado com uma letra
que despedaça o coração, nem estar ligado apenas nas novas tendências, as que
balançam a raba, ou apenas sentir o groove e ficar de cara com a performance. É
ter o mínimo de sensibilidade artística, consumir, mas se deixar convencer
pelos mais novos, pelo hit da cantora de 20 anos, pelas canções geniais do
esquisitão e por aqueles mais velhos que nos ensinaram o que a gente finge que
não sabe.
Estar atendo à nova geração é não espalhar opiniões
ultrapassadas, desperdiçar piadas ruins e entender que está tudo fora de lugar,
mas tudo se conectando. O mundo ficou chato pra quem sempre foi chato. Mas
também não ficou justo para a quantidade de fiscais que existem. Se a revolução
é digital, ela também precisa botar a bunda para fora da janela. Caê sempre
disse pra estar atento e forte.