Um festival cheio de bons exemplos e talvez uma das edições
mais complicadas de se realizar por falta de recursos. Não foi fácil colocar esse
Festival em pé, mas o que eu vi rolando entre as bandas foi algo que nos
inspira ainda mais a continuar. Neguinho não fica mais vendo o Festival como a
salvação de sua carreira, mas como mais uma oportunidade de fazer um bom show, de
estender seu público, de fazer bons contatos e de entender como se comporta o
mercado da música independente nos dias de hoje.
Foi um festival sem estrelismo, sem estresse, sem enchimento de saco. Sem
grandes e sem menores. Internacionais, nacionais e locais no mesmo palco e
circulando na mesma área.
E na minha opinião tem um cara que merece destaque nisso
tudo, o Ben Kweller. Ele deveria dar um verdadeiro workshop de como ser
independente e tirar o melhor proveito disso. O cara veio sozinho do Texas,
tocou em quatro capitais brasileiras e mais Buenos Aires. Vendeu todo o seu
material (vinil, CDs e camisetas) atendendo sozinho na banca antes e depois do
show – tanta simpatia fez com que o material acabasse antes de chegar a Belém.
Não fez NENHUMA exigência, chegou no palco e subiu com a mesma segurança de
quem já tem a platéia na mão. E era só ele o violão e um piano. Depois tava lá
na platéia vendo o show do Thiago Pethit. Só não aproveitou mais porque tinha
que ir embora. E não estamos falando de um cara qualquer que foi descoberto um
dia desses, mas de um artista que teve sua primeira banda aos 15 anos e que,
nos anos 90, foi considerado uma aposta da MTV Americana, um cara que se
apresentou em vários e vários festivais no mundo e que já tocou junto com
bandas como o Wilco.
Além disso, tivemos a generosidade da Mallu, dos caras do
Apanhador Só, Chermont e Kunz, Pethit e sua banda, Maia, Joãozin do Molho,
Massa Grossa, moçada da Trip, Marcel, Enquadro, Elder, Junior, Junião, Tonny,
Solano, mineirada da Pequena Morte e a roqueirada do Tokyo Savannah. Todo mundo
falando a mesma lingua, apesar do sotaque e do idioma não ser o mesmo. E é
exatamente a língua de quem quer ser ouvido, a da música que está gritando e
que tem que sair.
O esquema é esse. Humildade e espírito coletivo. Vontade de
crescer junto.
Há sete anos que começamos e estamos trabalhando com pouca
grana, muita boa vontade e gente que acredita no que está acontecendo no
mercado da música paraense.
A música do Pará não desabrochou do nada.
Até o VIII Festival Se Rasgum ;)