Vou ser honesto, passou mais de uma semana do show mais importante que assisti em minha vida e tive o maior bloqueio de todos os tempos. Desde que voltei de viagem que tento escrever sobre como foi o show do AC/DC no Estádio Monumental, em Buenos Aires. Lembro da sensação de cansaço tentando pegar um taxi depois do show, mas sem mau humor, mesmo com 3 mil taxis funcionando na noite de domingo para atender as 50 mil que estavam só no Monumental. Ainda assim eu sorria.
Vou aproveitar aqui o começo do texto que eu venho tentando escrever: “Talvez eu nunca mais veja algo assim na minha vida, foi uma das coisas mais fantásticas que já vi”. É minha frase-automática quando me perguntam como foi o show do AC/DC, em Buenos Aires. Solto aos sete ventos meu deslumbramento sem vergonha com o show mais profissional e, ao mesmo tempo, mais moleque que pode existir nesse meio rock ‘n’ roll.
Apesar do comecinho de texto sem tesão, a palavra mais adequada para definir um recital do AC/DC é “moleque”. Não importa a mega-estrutura que o U2 carrega de um lado para o outro pela Europa na sua última turnê. Não importa o físico e o playback da Madonna lotando estádios. E pouco importa a comoção que a morte do Michael Jackson causou. No show bis o que menos importa é a música. Mas no rock, é a ela a quem se deve a espontaneidade que nos mela os olhos de lágrimas.
Ver um show do AC/DC é como acreditar em Deus – ou no diabo. Angus Young não pode ser humano. Aqueles urros de devoção da platéia em Thunderstruck não são fake. A alegria que pude ver nos olhos das pessoas – e que possivelmente se via nos meus – na hora em que a locomotiva invade o palco não era um simples deslumbre. Todo mundo sabia como era, mas ninguém imaginava que poderia ser melhor ainda do que qualquer expectativa boa.
Eu, Débora, Rafael e Doda assistimos às cinco primeiras músicas próximo a passarela em que Angus e Brian Johnson caminham, vez ou outra, para alegrar corações dos fãs mais afastados do palco e zelosos por sua saúde. “Lá vem eles, olha lá”, disse o Doda apontando para a direção de Brian Johnson e Angus Young, que pudemos ver pessoalmente, sem a ajuda dos (incríveis) telões de led. Foi o que nos fez subir para a arquibancada e ver o show todo lá de cima, tranqüilos, vendo toda a movimentação do palco e pulando com a seqüência de hits com os riffs de guitarra mais saborosos do rock. Angus, o autor, é um velho safado, que corre sem cansar, faz o striptease sacana, mostra a bunda pra platéia, se joga no chão e presenteia os fãs com mais de 15 minutos de solo no final do show.
Bono quer salvar o mundo. Robbie Williams é apenas um estagiário. Madonna não quer perder o reinado. Michael Jackson já era. E o AC/DC é a pura molecagem que criou o rock ‘n’ roll, com fogos, truques, efeitos visuais, animações no telão e um ode às piadas com o inferno.
Mamãe, não me deixe crescer. Sei que vi o melhor show de toda a minha vida. Meus olhos encheram de lágrimas, senti os pêlos em pé e aquele arrepio incrível que sente um garoto quando vê a mulher dos seus sonhos sorrindo para ele. Se existe Deus, ele deve ser o grande manager do AC/DC.
2 comentários:
e os peitos em the jack, heim?
Como sempre mais um texto feliz e inteligente. Vc é foda Damasound System.
Postar um comentário