quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Tu me estas dando mala vida




Minha implicância com Manu Chao nunca foi com sua música, mas com os fãs hippongas que vibram quando toca a porra de Clandestino – lá vou eu perder meus seguidores que gostam dessa música. Fã da banda Mano Negra, orgulhosamente apresentada pelo Randy nos anos 90, sempre fiquei com um pé atrás de comprar algum disco e tentar entrar na onda de Manu Chao solo. Até o dia 1° de dezembro de 2009.


Na chegada em Buenos Aires, segunda à noite, Rafael me disse, despretensiosamente, que teria um show do Manu Chao na terça, pela bagatela de 50 pesos (25 reais). Ué, porque não? Afinal de contas, bons comentários sobre o último disco, Radio Bemba, pululam na boca dos grandes entendedores de música e, principalmente, fãs de Mano Negra.


Na esperança de que os argentinos respeitassem horários, chegamos ainda claro em frente ao Estádio Malvinas, um ginásio coberto com capacidade para 10 mil pessoas. A espera do lado de fora na chuva nos fez ver a organização com um imenso desrespeito ao público. Se era um estádio coberto, porque não deixar o público entrar mesmo com a passagem de som rolando?


Enfim, entramos. Uma pequena movimentação no palco e um barbudo porteño solta uma base de dub e começa e rimar. Gostei. Até sei o nome, mas tô com preguiça de procurar no jornal. Depois, achando que já seria o franco-castellano, nada, entra mais uma banda de abertura. Desta vez sim, uma surpresa, o sexteto Onda Vaga. Nada de rock, ska ou coisa parecida. Minha primeira implicância, antes de tocarem, veio com o visual dos caras. Bonitinhos, de regata com instrumentos como tuba, percussão, trompete, violões e trombone, achei se tratar de um novo Beirut. Mas não, com quatro deles cantando ao mesmo tempo, o grupo parece mais um Móveis Coloniais de Acaju desplugado e ligadão nas raízes da música argentina. Som para as meninas dançaram e os rapazes baterem o pé com as mãos no bolso. Comprei o CD por 10 reais.


E então começa a movimentação para o grande show da noite. No lugar que pegamos, a 50 metros do palco, a moçada já começava a passar sem pedir licença. Vi que ia dar merda e temi pelo meu ombro. E então, na vinheta de abertura começou a cagada. Entra um baterista e um percussionista apavorando e o guitarrista sai correndo de um lado pro outro no palco, num momento deslumbrado, fazendo algumas pessoas acreditarem que era o Manu Chao – já que a cara dele mesmo é de um cabôco qualquer e nunca dá para vê-lo sem chapéu.


Rodas de polgo se formando por todos os lados. Menina desesperada porque perdeu o celular. Eu segurava meu ombro como se carrega um bebê recém-nascido. Ainda tentei dar uns pulos na primeira música, mas a pancadaria ficou tão violenta que fui nadando pela multidão para achar um porto seguro na lateral do estádio. De lá pude apreciar e constatar que Manu Chao é exatamente o que as pessoas dizem. É um ídolo com um carisma fora de série e que não poupa o público de uma apresentação longa – mesmo aquele sendo o terceiro show dele na seqüência e arranjado de última hora.


Diferente de qualquer coisa que eu imaginava, Manu Chao e sua banda não paravam de fazer a galera se debater e vibrar com seu show. Depois de mais de uma hora de show foi a vez da parte chata, com o hit Clandestino, que arrastou junto uma série de músicas no mesmo estilo. Sufocados com o calor, fomos para fora tomar um ar e percebemos que Deus havia ligado o ar-condicionado. Foi dali para o taxi, que nos deixou em San Telmo para uma jarra de cerveja (a terrível Schneider) com chivitos e napolitanos para matar a fome.


No dia seguinte li no Clarín que o show levou 6 mil pessoas e que durou seis horas! Não sei se o repórter estava se referindo à noite toda, com os shows de abertura, mas mesmo que tivesse, Manu Chao deve ter feito, pelo menos, 4 horas de show. E para uma terceira apresentação que não estava programada, foi mais do que um presente para os fãs.


Na saída do estádio, maguinhas que não tiveram dinheiro para entrar requebravam com o molejo latino daquela parte do show. E foi o que me fez lembrar da resistência com o mano. Mas tudo bem, isso agora é passado.

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