segunda-feira, 16 de agosto de 2010

*Nossas vidas não valem um hortelã



Quando vi o Pedrinho Cavalléro agradecendo à Se Rasgum em cima do palco, lá no Conexão Vivo de Castanhal, imediatamente recuperei na memória um daqueles sábados perdidos entre os anos de 2004 e 2005, quando eu, Randy, Gustavo, Dudu e Juliana tínhamos nossa diversão garantida de 15 em 15 dias no Café com Arte. Eu e Randy bêbados discotecando e jogando cerveja pra cima. Outras épocas. Foram dois anos intensos e importantes para nossas vidas, não só pelo o que estava acontecendo na cidade - com o ressurgimento de uma cena mais antenada com o que vinha rolando pelo Brasil – como de ter mais perto da gente pessoas interessadas em ouvir o que não estava nas freqüências das dials locais e do Top 20 MTV. Ali, naquela galeria do Café com Arte, pessoas se acotovelavam para ver quem estava fazendo todo mundo cantar junto.

Lembro com graça do Stereoscope fazendo um show inesquecível no Dia dos Namorados, do Madame Saatan trazendo uma das maiores filas que já tivemos para entrar na festa, do surgimento do Eletrola no circuito, dos bons shows do Cravo Carbono, do La Pupuña assumindo o papel de banda oficial da festa Doente do Pé, além das bandas de fora que começamos a trazer para fazer shows históricos naquele palco do Café, como Wander Wildner, Nervoso e Sapatos Bicolores. Foi uma época especial, que me faz lembrar que a responsabilidade era muito mais cultural e segmentada do que política. Meu pensamento era exatamente o de mudar a mente de pessoas que até tinham predisposição a assimilar coisas novas, mas de repente não tinham oportunidade.

Mas aí veio o festival e chegamos ao patamar da música paraense, de representar o valor dos nossos ritmos regionais e começar a profissionalizar a coisa. Era o próximo passo a ser dado, e foi quando Marcel e Renée (minha namorada na época) entraram e deram outro gás à parada. Quase sete anos depois, novos rumos escolhidos pelos sócios que ainda enfrentavam a batalha de carregar a marca. Agora, me vejo novamente diante de algo que construií com muito tesão e que, depois de tantas experiências, me vejo novamente no meio de algo que nem sabia que cairia em minhas mãos. Mas aí troco e-mails e telefonemas com velhos heróis como Jards Macalé, Dado Villa-Lobos e Frank Jorge e vem um suspiro novo.

Daí eu assisto a um show e vejo um cara como o Pedrinho Cavalléro, autor de várias canções que embalaram a história de vida de qualquer paraense da minha idade, falar o nome da Se Rasgum em cima do palco. Lembro da piada que o Randy contava quando estava todo mundo chapadão e que o Gustavo, compartilhando do mesmo acidente cósmico, deu o nome de nossa “produtora” de Dançum Se Rasgum Produciones.

Sei que fomos muito felizes bebendo juntos, no final da festa gritando refrões do New Order e Júpiter Maçã na pista; de sentarmos para beber com as bandas da nossa geração que gostávamos; de ter ampliado nosso grupo de amigos e chegando a pessoas que nunca imaginaríamos graças a uma inquietação cultural que nunca teve a intenção de ser panfletário e de se tornar um movimento.

Mas virou. Movimentou a nossa vida e a de uma série de garotos que aprendem a tocar um instrumento e querem montar uma banda. E quando esse trem pega força, nada pode pará-lo. E agora, por mais que os trilhos se cruzem, chegaremos à novas estações. E por mais que essa metáfora seja uma merda, o sentimento é real, e ainda tem muita coisa a conquistar.  Mas sempre saberemos de cada estação que passamos, dos irmãos que deixaram sua marca, desceram do trem e deixaram as portas abertas para quando estiverem prontos para embarcar novamente. 


         Com Doda e Fabrício no Porão do Café                  Eu e Randy no III Festival Se Rasgum


Uma cena de intimidade com Gustavo e Randy            Renée e Lany, as mulheres da Se Rasgum
                     Dudu, o DJ das pessoas post punks. E Marcel, o empresário tocador de Gessinger.


*Título do post saiu do nome de nossa primeira festa, em outubro de 2003, no Café Taverna. O nome foi inspirado em uma peça teatral de Mário Bortolotto, que se chamava “Nossas vidas não valem um Chevrolet”, que virou o filme babaca “Nossas vidas não cabem num opala”.

Um comentário:

Pio Lobato disse...

Por mais que possa não aparentar estou acompanhando essa trajetória a muito tempo, desde que vi Gustavo e Randy capinando o quintal do Café com Arte. Percebi que ali chegou um pessoal com fome de bola, logicamente de outra geração e talvez com outras ambições mas que no fim das contas a gente sabe que pelo cenário comum tem mais no que crescer junto colaborando uns com os outros do que pode perceber um primeira olhadela rasteira.
Fiquei muito contente com o teu texto e com o panorama que descreveu rapidamente.

Só posso dizer que sou um fã teu (sem viadagem) e estamos aqui pra fazer barulho, pode contar com mais essa empentelhação e tenha certeza que é de boa vontade

Grande abraço (estendido a todo o pessoal Se Rasgun)

Pio