segunda-feira, 17 de março de 2014

Tomara que eles voltem

Depois de uma briga intensa no carro, os pais param e deixam o casal de filhos Cris e Peu, dois adolescentes, no meio da estrada para aprenderem uma lição. A tirania do irmão mais velho, com aquela expressão característica de um moleque mimado e mandão. A menina, Cris, uma típica garota de 12 anos que tenta não deixar barata a imposição do irmão, mas acaba cedendo devido sua fraqueza e diante de ameaças de agressão do caga regras. Muitos minutos depois e nada dos pais voltarem. O irmão mais velho resolve ir atrás de ajuda, mas obriga a garota a ficar. E aí começa o o filme "Eles voltam", de Marcelo Lordello, o melhor longa surgido no Recife desde "Baile Perfumado".

Muito se falou do quase bom Som ao redor como um dos melhores filmes do ano. Prêmios e mais prêmios pro ótimo Tatuagem. Tudo bem, filme bonito. Mas Eles voltam passou batido pelos cinemas brasileiros, apesar dos prêmios no Festival de Brasília. Além do enredo instigante, das atuações e da sensibilidade do diretor estreante, Eles voltam dá uma lição de como extrair um ótimo resultado de baixo orçamento com muita boa vontade e talento. No começo do filme achei se tratar de uma inspiração em Gerry, do Gus Van Sant, e estava achando legal partir disso, depois lembrei do Abbas Kiarostami. Achei uma saída inteligente usar o pouco recurso que se tem com poucos atores num Road Movie sensível. 

O filme não tem a ousadia (pra não usar a palavra pretensão) das outras produções pernambucanas e do espalha merda Cláudio Assis. O filme de Lordello fala sobre solidão, abandono, submissão feminina e de diferenças sociais - tocando em temas como como o Movimento Sem Terra, mas sem nenhum panfletarismo.

Óbvio que minha predileção por Eles voltam está bem ligada ao gosto pessoal e preferência pelo estilo misturado de Road Movie e solidão nas grandes cidades. Mas o que mais me chamou a atenção foi a sensibilidade do diretor e a inteligência em optar por um filme simples, calado (o áudio infelizmente deixa muito a desejar) e  inteligente. 

Me fez pensar no quanto Belém precisa urgentemente de um fundo de cultura para que o povo do cinema tenha a chance de, mesmo com pouco recurso, realizar um longa tão bem feito e revelador de talentos. Aposto que os próximos passos de Lordello e da excelente protagonista Maria Luiza Tavares devem representar um avanço em suas carreiras. E que venham mais produções assim, com gente nova e interessantes desbancando a tropa global que invade as salas de cinema de todo o Brasil.



Um comentário:

Shay Esterian disse...

Assisti Tatuagem e Som ao Redor em uma tacada só. Um evento no CCBB do Rio me proporcionou tal feito e, confesso que, gostei de um e não de outro.
Tatuagem foi um filme excelente. Adorei a forma como trabalhou aquela casa de show, o relacionamento, o preconceito. O achei bom na maioria dos aspectos.
O Som ao Redor, por sua vez, me deixou um vazio, uma incógnita, não foi de meu gosto. Seu som é foda do comum, isso é obvio que deve ser colocado em pauta, mas sua narrativa não teve impacto em mim, gosto pessoal, alias.
Porém, este Eles Voltam conseguiu, no trailer, roubar meu interesse. Acho que gostarei do filme e vale ressaltar como devemos ficar felizes com a produção cinematográfica do nordeste e, em contrapartida, quão precária é a situação das faculdades públicas de cinema lá.

Bjs!
Excelente texto
http://eunaoqueroir.blogspot.com.br/