Em minhas viagens costumo explorar um turismo musical que, em boa parte
das vezes, se intromete na programação principal do que se fazer em uma cidade.
Gosto de ir às casas de shows lendárias, visualizar as referências musicais e,
principalmente, descobrir lojas de discos. Minha primeira ida aos Estados
Unidos foi super bem acompanhado de amigos com interesses em comum: Ana Clara
(que, assim como eu, também ama ficar horas dentro de uma loja – ó, deus, como
tenho sorte!), Erico (que devora guias e sabe muito bem onde nos levar sem
perder tempo), Gustavo e Dudu, ambos com interesse exclusivo por vinis.
Formado o time - também acompanhado pela minha comadre Juliana Feijó
(esposa de Dudu), a programação de setembro de 2014 passou pelas cidades de
Nova York e Chicago, com parte do bando. E na Califórnia, eu e Ana Clara
seguimos para uma viagem de casal. Entre ruas, monumentos, gramados, restaurantes
e parques, o caminho era desviado para lojas de discos. Eu ainda compro CD, que
ainda está à venda em todas as lojas e com preços inacreditáveis, às vezes em
edições luxuosas. Minha busca por vinís ficou restrita à minha lista e uma ou
outra surpresa encontrada nas fuçadas em prateleiras de promoções.
Nos Estados Unidos, a média de um vinil novo, relançado, é de 18 a 20 dólares
o disco normal. Edições duplas vão um pouco mais além, de 23 a 25 dólares em
média. Os usados saem entre 5 e 10 dólares, em edições originais lançadas na
época e em perfeito estado. Os singles em vinil (compactos de 7 polegadas) de
artistas novos, lacrados e relançados regulam em torno de 5 a 12 dólares.
Algo que pensava em fazer há muito tempo, depois que eu e Ana Clara
exploramos lojas de discos em Madri e Barcelona, era criar aqui no meu blog um
pequeno guia de lojas, mas utilizando um texto de serviço mesmo, sem opiniões. A
ideia foi protelada tanto tempo que deixei de lado e arquivei as anotações,
fotos e endereços.
Agora, no entanto, resolvi aproveitar o calor da emoção e escrever sobre
as lojas que passei e dividindo as impressões e experiências de forma bem
pessoal. Não serve exatamente como um guia, mas ajuda a dar uma ideia do que se
encontrar nas lojas, além de render um belo passeio por bairros e ruas legais
de cidades como Nova York, Chicago, San Francisco e Los Angeles.
EARWAX MUSIC
(167 N 9th St, Williamsburg, Nova York)
No meio de uma das agradáveis ruas do Brooklyn está a Earwax Records.
Apesar d’eu estar ainda comedido com os gastos na exorbitante Nova York, me
deixei levar pela sedução da atenta loja de vinís novos e usados e comprei
apenas dois compactos (Real Estate e Guided By Voices) e um LP do Fugazi.
Gustavo e Dudu fizeram a festa.
Nota: A loja tinha um disco
lacrado e caríssimo do Mestre Cupijó. O coração se encheu de orgulho.
ROUGH TRADE
(64 N 9th St, Williamsburg, Nova York)
A festa, na real, já havia começado aqui. Os dois - e mais o Erico -
passaram horas e horas na loja enquanto eu acompanhava as meninas em alguns
brechós do bairro. Eu, Ana Clara e Juliana fomos encontrá-los na Rough Trade e,
no caminho, avistamos a Earwax Music (por isso comecei por lá - e também por
que a narrativa é minha ;)).
De acordo com a minha experiência com as duas Rough Trade de Londres,
achei que aquela não era a melhor loja pra deixar uma grana, pois na Inglaterra
eu comprei discos mais baratos em outras lojas. Foi um equívoco. Resolvi
comprar pouca coisa, como o CD Girlfriend,
do Matthew Sweet. Achei que os vinís do Jesus and Mary Chain estavam caros a 17
dólares e acabei voltando sem nenhum, pois me recusei a comprar depois por 19 e
20. Não tem problema, ainda pretendo comprar a caixa - e deles eu tenho
absolutamente tudo em CD e boxset.
Foi preciso voltar de novo na loja, pois assim como a Ana Clara, acabei
deixando CDs e LPs que estavam um pouco mais caros. Aproveitamos outro dia que
voltamos para o bairro para um show e compramos o que estava na lista.
Nota: além de ser uma tremenda
loja com muita coisa nova e preços razoáveis, a Rough Trade é palco de dezenas
de shows interessantes. Naquela semana, por exemplo, bandas como Death Above
1979 se apresentariam por ali.
BLEECKER STREET RECORDS
(188 W 4th St, Village, Nova York)
Ótima loja com CDs e vinís novos e usados a preços bons. Os CDs novos
não estavam baratos, mas a prateleira com coisas usadas dava pra achar coisas
como box de CD + DVD da Cat Power por 7 dólares. Levei de 10 a 15 CDs (Do que
me lembro foi um duplo do Flaming Lips das primeiras demos; Ben Folds Five,
alguns do Eels, DVDs e os vinís de Alex Chilton e The Db's).
Nota: não foi o melhor preço, na
verdade ficou longe de ser. Mas só o fato dela estar localizada numa área tão
bacana do Village já faria dela uma das minhas lojas favoritas. A disposição
dos discos, a facilidade de procura e classificação me deixaram bem a vontade
para comprar, apesar dos funcionários não serem dos mais sorridentes.
OTHER MUSIC
(15 E 4th St, New York, NY)
Acho que temos uma eleita em New York City. A Other Music tem preços bons
e um clima excelente para passar horas nas prateleiras de CDs e vinís. O
tratamento é de primeira e há itens exclusivos na loja. Só trabalham com novo.
Não há sessão de usados, como na maioria das lojas dos Estados Unidos. Apesar
dos preços regularem com o das outras lojas, me senti bem e levei o vinil do
Charles Bradley, um de demos do Jesus and Mary Chain e uma coletânea da Matador
que o Gustavo me mostrou e custava apenas 6 dólares.
Levei o documentário em DVD Nothing Can Hurt Me, do Big Star, e estou
triste até agora de não ter comprado nenhum dos quatro modelos de camisas da
banda que tinham na loja. Procurei apenas por um, que não tinha meu número, e
então desencanei. Levei alguns CDs também, como Sun Kill Moon, J Mascis,
Dinosaur Jr, Band of Horses (Acoustic at the Ryman) e o novo do Interpol.
Nota: Era uma terça-feira e, na
quarta, o Interpol estaria na loja autografando seu novo disco.
REBEL REBEL
(319 Bleecker St, Village, Manhattan, NY)
Descoberta por acaso no último dia passeando pelo Village novamente.
Pequena, apertada e ruim demais de andar e escolher discos. Preços também, não
eram dos melhores. Mas a seleção de discos foi uma das melhores que vi. Apesar
do pequeno espaço e de realmente não ter mais onde colocar discos, tudo o que
havia ali dava vontade de comprar. Bons títulos em novos e usados. Como o tempo
estava curto, a grana e a paciência também, optei por levar apenas três
compactos de 7': The Rumble Strips (comprei uma vez um CD dessa banda e amei.
Amei tanto que perdi o CD, tenho só a capa e o disco mesmo deve estar dentro de
outro acrílico de outro CD), Uncle Tupello e The Shins.
Nota: o dono é de poucas
palavras, mas é educado e inicia uma boa conversa se souber que você não é um
comprador ordinário. Presenciamos uma cena típica de Alta Fidelidade, com um
negão amigo do dono que se intrometeu em um diálogo entre o dono e um cliente
que pediu para que ele desse um desconto, pois ele queria levar aquele vinil do
Leonard Cohen para o pai.
SECOND HAND ROSE MUSIC
(48 E 12th St, Union Square, NY)
Entramos para dar um tempo enquanto o Gustavo estava na Forbidden
Planet. Não compramos nada, mas me pareceu uma loja daquelas em que os donos,
dois velhinhos, pareciam saber o que estavam fazendo pela disposição dos discos
nas prateleiras e pelos preços. Deu vontade de voltar lá e dar uma pesquisada
com calma.
Nota: apenas mais uma loja a ser
pesquisada por colecionadores. A regra é nunca subestimar lugar algum.
RECKLESS RECORDS
(1532 N Milwaukee Ave, Chicago)
(3126 N Broadway St, Chicago)
(26 E Madison St, Chicago)
A vontade de conhecer a loja que serviu de locação para o fatal Alta Fidelidade, de Stephen Frears, era
realmente muito grande. A Reckless entrou para o topo das melhores lojas de
disco que já fui. O preço é imbatível. Algo como comprar o CD Horses, da Patti Smith, por 2,99 dólares
uma edição usada, mas impecável. O mesmo título em vinil custava 8 dólares. Não
comprei apenas porque neste dia não queria andar com nada que não fosse a
mochila. Me arrependi? É claro.
Mas não vou começar a falar de arrependimentos agora... A loja
principal é da Broadway, em Chicago, mas todas as três lojas atendem muito bem aos
desejos de um comprador de discos. Infelizmente, deixei para compras alguns
vinís na Amoeba achando que seria mais negócio. Errei. Atualmente, a Reckless é
bem melhor para comprar vinil. Juntando as três lojas, talvez tenha o mesmo
estoque da Ameoba de Hollywood. No entanto, o local em cada loja fica é um
charme e já vale o passeio.
Minha grande surpresa foi quando já estava pagando minhas coisas no
balcão e me deparo, em destaque na parede, com algo que sonhava em ter: uma
edição especial de colecionador do single Crank,
da banda britânica Catherine Wheel, uma de minhas favoritas. Ainda não tenho
certeza, mas acho que foi o disco que mais vibrei em comprar nessa viagem.
Como fomos nas três lojas, não me poupei e resolvi sair comprando CDs.
Não lembro exatamente, mas levei o que não tinha dos Replacements, Guided by
Voices, Frank Black, Slowdive, Spiritualized, Red House Painters e monte de
coisa que não lembro.
Nota: não sei se pelo costume de
ser um povo solícito e educado demais, mas o atendimento e o esquema da
Reckless foi o que mais me deixou a vontade para comprar. Poderia passar mais
horas e horas em todas as suas lojas, o que se torna um desejo a ser realizado
em breve, tamanha a paixão que ficou por Chicago.
ROOKY RICARDO'S RECORDS
(448 Haight St, San Francisco, CA)
Eu e Ana Clara andávamos pela Haight Street pelo caminho inverso, sem
saber que ela começava no Hippie Hills, do outro lado, e seguíamos nosso rumo
de descobrir o que aquela caminha reservava pra gente e, de repente, nos
deparamos com essa que possivelmente foi a loja de discos mais interessante de
toda a viagem. O dono não era dos mais sorridentes mas, por algum motivo, nos
tratou muito bem. Especializada em soul, blues, R&B e clássicos dos anos
50, 60 e 70, ele foi categórico em dizer que não vendia relançamentos e versões
novas e remasterizadas, apenas os discos originais. Perguntei pelo Big Star e
ele disse que não tinha, que era bem raro de aparecer na loja dele e que,
quando aparece, não custa menos de 40 dólares.
Já íamos saindo, eu com o vinil Harvest,
de Neil Young, e Ana Clara com o Surrealistic
pillow, do Jefferson Airplane. Então, o dono nos avisou que haviam mais
caixas na parte de baixo e não nos deixou sair de lá sem dar uma olhada,
dizendo que tinha muita coisa boa pra gente ali. Ainda bem, consegui o Get the knack (The Knack) e ela um da
Joni Mitchell, cada um por 5 dólares.
Nota: vá a essa loja com bastante disposição e uma lista de coisas
legais para comprar de soul, funk R&B e 50s. A loja tem prateleiras e
prateleiras de compactos vendidos a 3 por 5 dólares.
AMOEBA (SAN FRANCISCO)
(1855 Haight St, San Francisco, CA)
Foi mais para dar um check, já que a grande Amoeba de Los Angeles
estava nos planos da semana seguinte. A real é que a Amoeba de San Francisco
não bateu. Claro que sai de lá com uma penca de CDs baratos e com um
arrependimento fora do comum de ter deixado o primeiro do Big Star por meros 16
dólares achando que teria na de Los Angeles. Si fudi.
Nota: talvez por ser menor que a de Los Angeles e por termos visitado
em uma segunda-feira de manhã, a Amoeba de San Francisco pode até ter um clima
mais agradável para comprar por não oferecer aquelas horas e horas que nem
sempre você tem disponível em uma viagem. Como seguimos com uma lista de
coisas, foi mais fácil descartar alguns itens no caminho e deixar a de Los
Angeles para arrematar no final e ver o que aparecia.
AMOEBA (LOS ANGELES)
(6400 Sunset Blvd, Los Angeles, CA)
Imagina entrar num parque de diversão depois um dia inteiro na praia.
Foi o que resolvemos fazer no sábado, passar a manhã e a tarde na praia de
Venice Beach e Santa Mônica pedalando, caindo em cilada de turista e andando
para caralho. Depois resolvemos encarar uma hora de carro e passar cerca de
três horas deixando nossos últimos tostões lá. Deu pra fechar 70% da minha
lista. Somente lá que achei a edição especial em vinil de Infinite Arms, do
Band of Horses, o último do Redd Kross e o primeiro do Spain, que só tinha uma
versão gravada de uns 15 anos atrás. Comprei o CD também, além de um monte de
coisa que, é claro, não lembro.
Nota 1: um problema grave demais da Amoeba de Los Angeles é com o sistema
deles de cartão. Passei meu travel card (que funcionou perfeitamente em várias locais)
e não passou de jeito nenhum. E a cara de sem graça? Ana Clara tentou passar o
cartão de crédito dela e nada. E a cara de sem graça? Tive que pedir para
guardarem os discos, ir até um caixa, sacar o dinheiro e pagar. Na volta
reclamei com a gerente sobre esse problema e ela disse que, infelizmente, isso
tem acontecido lá com cartões de gente do mundo inteiro. Bonito, heim?
Nota 2: esse lance de vender CD pra eles é a maior roubada. Os discos
precisam estar praticamente zerados, como muitos dos meus estavam. Mesmo assim
não espere mais de U$ 1 por disco. O lado bom foi que eles compraram a um preço
bem justo os discos da minha banda (The Baudelaires) e o EP da Ana Clara.
Portanto, fãs, nossos discos estão à venda em Los Angeles, na Amoeba Records.
RECORD COLLECTOR (Melrose)
(7809 Melrose Ave, Los Angeles, CA)
http://www.therecordcollector.net/
Se você procura perder a paciência com um velho que se acha pra caralho
vá nessa loja. Ela chama a atenção em Melrose, em um lugar lindo e a quantidade
de vinis é assustadora. Você entra e não sabe por onde começar. E então o
proprietário, um velho gordinho chamado Sanders, te atende perguntando do que
você gosta. Saiba o que responder de imediato se não ele perde a paciência. Digo
que quero rock e ele me leva com outro senhor até outra sala. Procuro por um
vinil do Big Star e do Jesus and Mary Chain. Não tem.
Sem muita paciência para ácaro e cheiro de mofo, começo a me dirigir
para a porta de saída, quando o velho Sanders pergunta o que eu procuro. Digo
que procurei por dois discos e não havia. E ele disse que não era possível, que
eles tem tudo e que era para eu perguntar por outra coisa. Digo que não e ele
começa o discurso de que não, eu não era um colecionador, que colecionadores
sabem mais o que querem etc. Até aí dei de ombros e mandei um “foda-se, não sou
mesmo”. Daí ele solta um simpático “vai embora de Los Angeles, volta pro Brasil”.
Claro que saí batendo boca com o velho e quase utilizo o primeiro e sonoro “fuck
you” da viagem. Infelizmente ficou no quase. Guardei o que me restava de
educação.
Nota: com mais 35 mil vinis catalogados e bem organizados, a loja é
para quem realmente leva a sério essa história de colecionador. Não é um lugar
para se passar horas e horas. Não espere por aquela surpresa de se deparar com
um disco que você queria ou se divertir numa loja de discos. Aqui é pra gente
séria e amargurada.
FAIRFAX MARKET MELLROSE (Los
Angeles)
(Fairfax High School, 7850 Melrose Ave ,Los Angeles, CA)
Depois de bufar de raiva do velho Sanders, fomos à feirinha de
antiguidades que ficava bem em frente à loja, um lugar bem maior do que se mostrava
de fora em com diversas barracas de vinis. Encontrei o Dejavu, do Crosby, Stills,
Nash & Young com a capa de couro e foto colada, lindo, por apenas 10
dólares e em excelente estado. Comprei também uma coletânea dupla do Buffalo
Springfield pelo mesmo preço.
Nota: a feirinha acontece aos domingos e, além de ser um ótimo passei
para comprar discos, ainda há uma praça de alimentação ótima e diversos objetos
interessantes para mulheres como roupas, joias, acessórios, móveis antigos,
brinquedos etc.
4 comentários:
Marcelo,
Super interessante, fiquei com uma enorme vontade de seguir seu roteiro...
Parabéns!
Só fiquei com uma duvida, tem que guardar as notas de todos os discos para passar na alfandega?
Abraço,
Eduardo.
Fala, Eduardo.
Cara, por via das dúvidas guarde. Mas só apresente em último caso. Eu passei sem problema algum, mas você sabe que é aquela loteria. Tem uns agentes da imigração que enchem mais o saco e outros não.
Na realidade, em todas as minhas viagens sempre trago muitos discos e nunca tive problemas. Disco é algo que você não traz repetido então, teoricamente, não tem problema trazer mais de 10.
Abraço.
sem saber que ela começava no Hippie Hills, do outro lado, Buy Essay Online e seguíamos nosso rumo de descobrir o que aquela caminha reservava pra gente e.
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