Foi no filme francês Rock ‘N
Roll, de Guillaume Canet, de 2017, que a música Ça Plane Pour Moi voltou a
tocar dentro da minha cabeça. Consegui ir a França em dezembro de 2021 a
trabalho e nas minhas garimpagens acabei esquecendo de procurar o Plastic Bertrand.
E então tive a chance de voltar a Europa no verão de 2022, quando decidi ir
atrás desse disco, que achei que seria super fácil de achar. E não foi.
A primeira loja de discos que fui na França foi na pequena
cidade de Saint Nazaire. O dono da loja achou que tinha, fez uma busca e nada.
Me disse que não seria difícil achar. Segui tranquilo. Já em Paris, me senti um
pouco inseguro de ser julgado pela minha busca por aquele músico que parecia uma
mistura do Pequeno Príncipe com o Pablo de “Qual é a música?”.
Até que lá pela terceira loja - das mais de 10 que fui – tomei
coragem e falei pro rapaz: “Pardon, não me leve a mal e nem me julgue, mas eu
queria o disco do Plastic Betrand”. E ele disse que isso jamais seria motivo de
julgamento, pois ele era muito cultuado na França inteira. Ele estava
absolutamente certo. E lá tinha um álbum, mas sem Ça Plane Pour Moi. Não levei.
Entrei em mais três lojas e nada, e comecei a ficar preocupado. Até que em uma
delas, o dono me disse que seria bem difícil eu conseguir o disco com essa
música, que ele mesmo só tinha o single de Ça Plane Pour Moi, um grande hit de
1978 que nunca envelheceu.
Entrei na Discogs, achei apenas coletâneas, mas vi quem
tinha o disco na França e mandei mensagens tentando fazer a compra pessoalmente.
Não deu também. Mas o motivo de ter quase desistido veio quando entrei na
Gilbert Joseph, que quando perguntei o atendente deu uma risada e disse que
seria impossível eu achar. Ah, filhadaputa... Me meti numa busca insana pra
calar aquela risada debochada. Achei um compacto de 7” numa sessão de usados a
3 euros. Esfreguei na cara dele, que disse “ah, tinha esse, né? Mas o álbum
dele mais conhecido é muito difícil de achar”. E era mesmo.
Ainda busquei por mais algumas lojas, mas nada feito.
Próxima parada: Berlim. No meu último dia, tive a companhia de Rodrigo da Mata,
que me levou a várias lojas. E então paramos na frente da pequena loja Franz
& Joseph. Ele disse “ó, aí eu não entro, o cara é um babaca. Vai lá que te
espero aqui”. Chequei primeiro a bandeja de fora, e de cara já tinha “Gosh it’s...”,
do Bad Manners, por 10 euros. Aí tem! Entrei, vi ele por ali olhando com certa
desconfiança um casal jovem. Já estava com Bad Manners, um single de Cristal,
do New Order e o Licensed to III, dos Beastie Boys, que daria de presente pro
Rodrigo. O dono olhou o que eu tinha nas mãos e deu o que poderia vir a ter
sido um sorriso.
E aí quem surge na minha mão? Plastic Betrand, edição alemã da
época, o primeiro álbum AN1, exatamente o que estava buscando, por 10 euros!
PEGA, PORRA! Embora tenha me contido, talvez o pequeno salto de alegria que dei
poderia me entregar.
Fui em direção a ele pra pagar. Ele olhou os discos, pegou o
de Plastic Bertrand e disse: “Very nice album. I forgot I had this one here”. Gelei,
mas acabei abrindo minha boca e falei que tinha andado a “França toda” atrás
desse disco e não imaginava encontrar ele ali, principalmente, custando 10
euros. Por que eu disse isso, caralho? Mas então foi quando ele pôde ler minha
alma e eu a dele, e num momento divindo entre um vendedor e um colecionador de discos,
a honestidade brilha mais forte. Ele poderia ter pegado o disco da minha mão e
não me vender. Era dele, eu não poderia fazer nada. Mas não fez isso, e saí de
lá achando a vida mais linda, o céu mais azul, o calor uma delícia e direto
para uma cerveja, pra comemorar. Na verdade, comemorar e ficar ainda mais
irresponsável comprando discos bêbado.
No final, havia um motivo grande de eu não achar o disco na
França. Plastic Bertrand é Belga, de Bruxelas, e sua carreira foi toda por lá.
E embora seja vizinha da França e com o mesmo idioma, a Bélgica também é
vizinha da Alemanha. Então as chances eram iguais, mas o destino foi mais sagaz.
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