Em dezembro de 2021 e agosto de 2022 estive em Paris a trabalho. Da última vez, em pleno verão de férias escolares, a cidade ficou para os turistas. Algumas lojas de disco até fecham suas portas durante esse período, mas, para a minha graça, a maior parte delas segue aberta.
Como estava com 5 days offs, percorri muitas lojas e fiz uma tremenda garimpagem atrás de oportunidades e discos baratos.
A pedido do Ricardo Spencer, que vai pra lá em breve, fiz mais do que uma lista de lojas, mas uma pequena resenha das que mais gostei na capital francesa:
Le Silence de la Rue
Faidherbe 75011 Paris
Curiosamente virou minha loja favorita de Paris. Muita coisa indie anos 90 e atuais, ótimas coletâneas de Dub e Afrobeat. Os preços são os melhores de todas as lojas que percorri na cidade. O dono é um sósia de Larry David, com humor peculiar e típico de dono de loja de discos. Na primeira vez que fui, em dezembro de 2021, pedi um desconto porque estava comprando muitos discos, ele apenas me olhou e balançou a cabeça lenta e negativamente. Daí disse que eu tinha ao menos que tentar, e ele sem olhar pra mim soltou um “nice try”. Dessa vez comecei minha busca pela loja dele já garantindo bons discos a preços ótimos. É só não tentar puxar conversa, se ater à sua garimpagem e o tratar como motorista, perguntando apenas o necessário.
Pop Culture
23 Rue Keller, 75011 Paris
Rede O’CD
12 Rue Saint-Antoine / 26 Rue des Écoles / 24 Rue Pierre Lescot / 46 Rue du Commerce
Fique bem ligado na garimpagem destas quatro lojas. Algumas
tem menos discos que outras, mas é lá que você encontra preços super justos por
discos que foram apenas deflorados no plástico, mas estão impecáveis de novo. Deu
pra pegar o Entertainment!, da Gang of Four, por 18 euros, e um The
Revolution will not be televised, de Gil Scott-Heron, por 21 euros. Há
sempre uma bandeja fora da loja com preços bem especiais, inclusive de muitos
títulos franceses. Consegui muitos singles de pop francês dos anos 1960 e 1970
por 1 e 2 euros. Os vendedores são atentos, sabem informar e, olha só, até
conversam um pouco. Eu sei que um deles me deu bola por causa da minha camisa
do Iggy Pop. É isso, a gente joga com as armas que tem.
Lucky Records
66 Rue de la Verrerie
Preços altos demais e muita coisa pop. Uma ótima cilada para
turistas desavisados, pois a localização é muito central e pega muitos visitantes.
A grande vantagem dessa loja são os discos franceses de promoção na bandeja do
lado de fora da loja. E outro detalhe importante: atendentes muito educados.
Paralléles
47 Rue Saint-Honoré
E para continuar falando sobre educação e gentileza, a Paralléles traz isso de cara. Além de discos de vinil, ainda tem CDs, livros e quadrinhos, tudo usado. Comprei apenas um disco da The Band em estado impecável por um valor que não acreditei, e tive que perguntar se era isso mesmo: 8 euros. Depois, conversando com outro atendente da loja, falamos sobre um disco que foi minha grande saga por Paris inteira, o Plastic Betrand. Ele me disse que seria bem difícil conseguir esse disco, pois era uma raridade, e mesmo ele só tinha um single 7” de Ça plane pour moi. A conversa poderia ter sido longa e agradável, mas estava muito calor em Paris e eu já estava rodando desde cedo e doido pra tomar uma gelada.
Gilbert Joseph
34 Bd Saint-Michel
Bem melhor que a melhor loja da Fnac, isso define. Na minha
primeira vez em Paris, em 2012, fiquei abismado com a loja. Um andar gigante
com muitos, mas muitos discos. Na época, minha coleção ainda era a maior parte
em CD, e nisso a loja me impressionou demais. Da mesma forma que, quando passei
a colecionar vinil novamente, a Gilbert Joseph também virou a chave e agora é
tomada por toneladas de discos, com sessão de usados, muita coisa francesa,
soul music, metal, indie e eletrônico. Para uma primeira visita, tire uma tarde
ou manhã inteira pra ela. Mas a garimpagem precisa ser bastante cuidadosa, pois
os discos não são baratos, mas lá a chance é grande de achar algum lançamento
que você está buscando arduamente.
Walrus Disquaire Café
34 TER Rue de Dunkerque, 75010
Ótimo lugar para encontrar discos de artistas independentes
franceses. A loja é pequena, tem um bar-café bem agradável, onde ficam a dona e
os dois funcionários. É aquilo, depende bastante do que você compra, que
instiga as pessoas a falarem mais com você. Nessa loja, o atendimento foi bem
mais atencioso. Comprei dois singles, um de uma banda francesa e outro de
Matthew E. White, que estavam com 50% de desconto - creio que os dois saíram por
8 euros. Comprei também um álbum de uma das minhas bandas favoritas, o Spain.
Essa banda toca bastante na França, e foi lá que vi um show deles em 2012, em
um club muito pequeno. Só em uma loja com acervo dedicado à música independente
seria possível achar esse disco, e foi na Walrus.
Monsters Melodies
9 Rue des Déchargeurs, 75001
Deixei a melhor pro final. Foi na O’CD que o funcionário me indicou
e disse: “é uma loja cara, para colecionadores, mas talvez seja um dos maiores
acervos de discos em Paris”. Entrei já tentando travar o bolso, me prometendo ser
objetivo e ir atrás do que estava na minha lista do bloco de notas do celular.
Mas fiquei de cara quando entrei na pequena loja, onde não conseguia andar
direito com caixas e mais caixas de discos. Pilhas que ficavam em cima de
outros discos, mas curiosamente organizados com nomes dos artistas e ordem
alfabética.
Eu enlouqueci com a quantidade de bootlegs que ele tinha. Mas
mantive o foco e perguntei pelo Plastic Bertrand, e ele tinha um na loja, mas não
era o que eu queria. Me fez ouvir umas músicas do disco no YouTube insistindo
que também era um disco legal. Ali vi que o velhinho é bom de vendas. Um alemão
com seu filho estavam na loja garimpando. Ele perguntou sobre um disco e o
velhinho falou “ah, esse está na minha casa, não tinha espaço aqui. Mas posso trazer
amanhã pra você”. Eles dois, eu e um outro inglês, que estava na loja, demos
uma risada juntos. Ainda tinha mais discos do que aquilo ali!?
A dona da Walrus me disse que ele já queria se aposentar,
vender tudo o que tem na loja (e em casa), mas o que ele tem vale milhões de euros
e não consegue vender. Uma loja para se passar uma tarde, mas tem que sair com
algum disco de lá. O alemão e seu filho não levaram nada, e não ganharam nenhum
“have a good day” como eu ganhei.
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