segunda-feira, 12 de setembro de 2022

LOJAS DE DISCO EM PARIS

Em dezembro de 2021 e agosto de 2022 estive em Paris a trabalho. Da última vez, em pleno verão de férias escolares, a cidade ficou para os turistas. Algumas lojas de disco até fecham suas portas durante esse período, mas, para a minha graça, a maior parte delas segue aberta. 

Como estava com 5 days offs, percorri muitas lojas e fiz uma tremenda garimpagem atrás de oportunidades e discos baratos. 

A pedido do Ricardo Spencer, que vai pra lá em breve, fiz mais do que uma lista de lojas, mas uma pequena resenha das que mais gostei na capital francesa: 



Le Silence de la Rue
Faidherbe 75011 Paris


 




Curiosamente virou minha loja favorita de Paris. Muita coisa indie anos 90 e atuais, ótimas coletâneas de Dub e Afrobeat. Os preços são os melhores de todas as lojas que percorri na cidade. O dono é um sósia de Larry David, com humor peculiar e típico de dono de loja de discos. Na primeira vez que fui, em dezembro de 2021, pedi um desconto porque estava comprando muitos discos, ele apenas me olhou e balançou a cabeça lenta e negativamente. Daí disse que eu tinha ao menos que tentar, e ele sem olhar pra mim soltou um “nice try”. Dessa vez comecei minha busca pela loja dele já garantindo bons discos a preços ótimos. É só não tentar puxar conversa, se ater à sua garimpagem e o tratar como motorista, perguntando apenas o necessário.




Pop Culture
23 Rue Keller, 75011 Paris





  



Não muito distante do ar blasé (afinal, essa palavra veio de lá) e monossilábico do Larry David dali de cima, o dono também responde o necessário, mesmo que você saia com um disco do Fugazi e outro do Jefferson Airplane. Claro, tem a ver com o fato de ter que se comunicar em inglês, e nesse ponto temos que ser completamente compreensíveis. Minha busca maior foi por títulos indie, punk e clássicos, e nisso a loja me abraçou bem. Levei também um compacto split do Redd Kross. Mas a Pop Culture é uma beleza, pois além dos discos tem muito quadrinho e miniaturas nerds lindíssimas. Uma perdição no sentido de gastar um dinheiro que só servirá para enfeitar sua sala e impressionar um amigo invejoso.

 

Rede O’CD
12 Rue Saint-Antoine / 26 Rue des Écoles / 24 Rue Pierre Lescot  / 46 Rue du Commerce




Fique bem ligado na garimpagem destas quatro lojas. Algumas tem menos discos que outras, mas é lá que você encontra preços super justos por discos que foram apenas deflorados no plástico, mas estão impecáveis de novo. Deu pra pegar o Entertainment!, da Gang of Four, por 18 euros, e um The Revolution will not be televised, de Gil Scott-Heron, por 21 euros. Há sempre uma bandeja fora da loja com preços bem especiais, inclusive de muitos títulos franceses. Consegui muitos singles de pop francês dos anos 1960 e 1970 por 1 e 2 euros. Os vendedores são atentos, sabem informar e, olha só, até conversam um pouco. Eu sei que um deles me deu bola por causa da minha camisa do Iggy Pop. É isso, a gente joga com as armas que tem.

 

Lucky Records
66 Rue de la Verrerie

Preços altos demais e muita coisa pop. Uma ótima cilada para turistas desavisados, pois a localização é muito central e pega muitos visitantes. A grande vantagem dessa loja são os discos franceses de promoção na bandeja do lado de fora da loja. E outro detalhe importante: atendentes muito educados.

 

Paralléles
47 Rue Saint-Honoré

E para continuar falando sobre educação e gentileza, a Paralléles traz isso de cara. Além de discos de vinil, ainda tem CDs, livros e quadrinhos, tudo usado. Comprei apenas um disco da The Band em estado impecável por um valor que não acreditei, e tive que perguntar se era isso mesmo: 8 euros. Depois, conversando com outro atendente da loja, falamos sobre um disco que foi minha grande saga por Paris inteira, o Plastic Betrand. Ele me disse que seria bem difícil conseguir esse disco, pois era uma raridade, e mesmo ele só tinha um single 7” de Ça plane pour moi. A conversa poderia ter sido longa e agradável, mas estava muito calor em Paris e eu já estava rodando desde cedo e doido pra tomar uma gelada.

 

Gilbert Joseph
34 Bd Saint-Michel

Bem melhor que a melhor loja da Fnac, isso define. Na minha primeira vez em Paris, em 2012, fiquei abismado com a loja. Um andar gigante com muitos, mas muitos discos. Na época, minha coleção ainda era a maior parte em CD, e nisso a loja me impressionou demais. Da mesma forma que, quando passei a colecionar vinil novamente, a Gilbert Joseph também virou a chave e agora é tomada por toneladas de discos, com sessão de usados, muita coisa francesa, soul music, metal, indie e eletrônico. Para uma primeira visita, tire uma tarde ou manhã inteira pra ela. Mas a garimpagem precisa ser bastante cuidadosa, pois os discos não são baratos, mas lá a chance é grande de achar algum lançamento que você está buscando arduamente.

 

Walrus Disquaire Café
34 TER Rue de Dunkerque, 75010

Ótimo lugar para encontrar discos de artistas independentes franceses. A loja é pequena, tem um bar-café bem agradável, onde ficam a dona e os dois funcionários. É aquilo, depende bastante do que você compra, que instiga as pessoas a falarem mais com você. Nessa loja, o atendimento foi bem mais atencioso. Comprei dois singles, um de uma banda francesa e outro de Matthew E. White, que estavam com 50% de desconto - creio que os dois saíram por 8 euros. Comprei também um álbum de uma das minhas bandas favoritas, o Spain. Essa banda toca bastante na França, e foi lá que vi um show deles em 2012, em um club muito pequeno. Só em uma loja com acervo dedicado à música independente seria possível achar esse disco, e foi na Walrus.

 

Monsters Melodies
9 Rue des Déchargeurs, 75001 

Deixei a melhor pro final. Foi na O’CD que o funcionário me indicou e disse: “é uma loja cara, para colecionadores, mas talvez seja um dos maiores acervos de discos em Paris”. Entrei já tentando travar o bolso, me prometendo ser objetivo e ir atrás do que estava na minha lista do bloco de notas do celular. Mas fiquei de cara quando entrei na pequena loja, onde não conseguia andar direito com caixas e mais caixas de discos. Pilhas que ficavam em cima de outros discos, mas curiosamente organizados com nomes dos artistas e ordem alfabética.



Deve ter sido aquela situação de que o dono, um senhor de poucas (mas necessárias) palavras, tentou um dia organizar, perdeu o controle e agora virou um grande foda-se. Foi para a Discogs e quem quiser que se equilibre entre as caixas e faça sua garimpagem. Achei o The
Sound of Speed, do Jesus and Mary Chain por 30 euros. Acima do que eu estava disposto a pagar, mas esse disco não estava nada fácil de achar e só mesmo em uma loja como aquela isso seria possível.



Eu enlouqueci com a quantidade de bootlegs que ele tinha. Mas mantive o foco e perguntei pelo Plastic Bertrand, e ele tinha um na loja, mas não era o que eu queria. Me fez ouvir umas músicas do disco no YouTube insistindo que também era um disco legal. Ali vi que o velhinho é bom de vendas. Um alemão com seu filho estavam na loja garimpando. Ele perguntou sobre um disco e o velhinho falou “ah, esse está na minha casa, não tinha espaço aqui. Mas posso trazer amanhã pra você”. Eles dois, eu e um outro inglês, que estava na loja, demos uma risada juntos. Ainda tinha mais discos do que aquilo ali!?




A dona da Walrus me disse que ele já queria se aposentar, vender tudo o que tem na loja (e em casa), mas o que ele tem vale milhões de euros e não consegue vender. Uma loja para se passar uma tarde, mas tem que sair com algum disco de lá. O alemão e seu filho não levaram nada, e não ganharam nenhum “have a good day” como eu ganhei.

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