domingo, 6 de setembro de 2009

Uma visita rara



Quando vi o cartaz do filme O visitante, no Moviecom Castanheira (o pior da face da Terra), fiquei louco para que ele estreasse logo, mesmo que fosse naquela merda de cinema que só funciona com 20% do ar-condicionado. O cartaz do filme já me dizia alguma coisa: um senhor bem vestido tocando percussão em uma estação de metrô. Além disso, ao cartaz informava também que era o novo filme de Thomas McCarthy, o diretor de O agente da estação - que toda vez que alugo o balconista da locadora sempre tenta lembrar: “o senhor já locou esse filme... e várias vezes”.

O visitante é um filme que toca na delicada questão da imigração ilegal nos Estados Unidos pós-11 de setembro, mas que na verdade só serve de pano de fundo para o assunto preferido de McCarthy: as relações humanas. O tema me comove bastante ultimamente, em épocas que a palavra “digital” é mais empregada do que qualquer outra do Aurélio. No filme, Richard Jenkins é Walter Vale, um professor e escritor de Connecticut que trabalha, sem muito entusiasmo, no tema de seu próximo livro: a economia em países em desenvolvimento. Ele tenta aprender tocar piano a todo custo, mesmo depois de uma de suas professoras particulares falar que não adianta insistência quando não se tem talento. Para ele, a vida seguia mecanicamente e sem sorrisos no rosto, até que ele tem que ir a Nova York a trabalho e, ao entrar em seu apartamento, encontra um casal de estrangeiros que havia “alugado” o apartamento de um picareta qualquer. Com pena do casal (ele sírio e ela senegalesa), ele deixa que os dois fiquem em sua casa até arrumarem um lugar para ir. E é quando nasce a amizade entre ele o cara, um percussionista boa praça que começa a incentivar o batuque na veia do intelectual.

Reviravoltas à parte, O visitante fala sobre paixão pela música e de mandar a vida de escritório para o inferno (por mais que isso não apareça como o “recado” em primeiro plano do filme). Acima de tudo é uma história que envolve relações humanas, independentes de raça e etnia, que levam ao encorajamento de decisões fundamentais para se fazer o que quer da vida, e não continuar mantendo o que ela fez de nós.

O filme ainda não foi para o cinema e, infelizmente, o vi disponível na prateleira da locadora. E como se não bastasse essa agonia solitária do mundo digital estar acabando com as relações humanas, ainda tem os cinemas que se reduziram a salas ruins que projetam os mesmos filmes escrotos e mandam as melhores histórias - aquelas que pedem um envolvimento grande com uma sala de projeção - direto para prateiras de locadoras.





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