Passei pela manguetown, respirei a fedentina e vi shows incríveis do Coquetel Molotov. Depois fui ver os amigos em São Paulo, terra que cada vez mais me oferece menos, dando um pulo em Santos. Duas semanas off de Belém, mas on line na pré-produção daquele que, por vezes, se torna meu maior pesadelo, o Festival Se Rasgum. Estamos nessa tensão agora, mas não vamos entrar nesse assunto, né?
Minha matéria sobre o Festival No Ar Coquetel Molotov sai na revista Billboard de outubro, assim como uma outra matéria maior que fiz sobre guitarrada, com Mestre Vieira, Pio Lobato e Félix. O Coquetel Molotov é um festival foda. Não digo isso pela minha amizade com as organizadoras, mas é incrível como um line up pode ser tão atraente misturando fofuras indies suecas (que antipatizo) com manos como Emicida e Mad Professor, sem contar o desfile de novos grupos brasileiros tão diferentes uns dos outros, mas que merecem destaque na prateleira de quem curte música boa, como Bemba Trio, Wassab, Banda de Joseph Tourton, Otto e Do Amor (meu próximo post será sobre o disco de estréia do quarto carioca). O mais legal do Coquetel Molotov foi que, ainda por cima, teve o Dinosaur Jr em sua primeira apresentação no Brasil.
Pressão
Eu jurei que não ia escrever sobre isso, mas o Doda me desafiou. Então lá vai. Assisti ao show do Dinosaur Jr inteiro a fim de cagar. Queria falar isso de outra forma, usar eufemismos como “prisão de ventre”, mas isso é coisa de frangote. Procurava banheiro de um lado para o outro, até que desencanei, sentei no teatro e tentei não pensar na natureza. Esperei os shows ali dentro, suando frio e com umas contrações que fariam o sonoplasta de Alien, o oitavo passageiro morrer de inveja. No intervalo entre o de Emicida e Dinosaur Jr comecei a sentir aquele nervosismo de quem está esperando para receber o boletim na escola, já na recuperação.
Mãos geladas, suor frio na testa e um apertinho no peito que indicava uma boa e preocupante crise de ansiedade. Era o nervosismo pelo show que eu esperava há 13 anos ou o desespero em não ser a notícia maior que o show do Dinosaur Jr pelo backstage? De qualquer forma Jah me abençoou e me fez chegar até o final do show tranqüilo, intacto, lindo. E que show bonitão! Todos os hits da carreira da banda estava ali: Out there, Forget the swan, The wagon a “nova” Over it. Na pausa antes da volta deles para o bis, uma amiga sentou ao meu lado e notou que minha palidez, que entregava o pequeno incomodo. Decidi que assim que eles tocassem a primeira música que eu não conhecesse no bis eu iria embora. E os sacanas me entram com o cover de Just like heaven, do The Cure. Mas logo depois tocaram uma que eu não fiz questão nenhuma de reconhecer e pedi penico – que adoraria que tivesse sido literalmente, mas ainda tinha todo o caminho de volta. A confortável carona dada pela minha amiga me deixou bem, voltando para a casa onde estava hospedado feliz e certo de que havia acabado de assistir, até agora, o melhor show de 2010. Não vou contar mais detalhes sobre o alívio, beleza?
O vídeo abaixo foi do show de Recife.
São Paulo
Faz tempo que São Paulo me encheu o saco. Infelizmente a cidade me roubou alguns dos amigos mais queridos e é importante dar umas bandas por lá vez em quando. Tem coisas específicas que sempre me dão muito prazer na cidade, como ir ao cinema, ver shows e tomar cerveja boa. Mas isso não é suficiente pra cair de amor pelo modo de vida cheio de regras - e regras que são fundamentais para que a vida dê certo lá. Ter carro, morar perto do trabalho, se dar bem na night, ter grana pra consumir tudo o que aquela porra te oferece.
Enfim, não há nada que eu vá falar que já não tenha sido dito. O fato é que passei por Santos no domingão, era aniversário de 60 anos de um tio meu. O mais curioso é que o aniversário foi em um salão de recepção ao lado do apartamento que eu morei, de 2001 a 2003, época em que fui bem feliz. Dei uma volta no quarteirão para sentir de novo a vibe do bairro. Tava frio e chuvoso, clima atípico para a cidade. Lembro daquilo ali no verão, com mulher gata por todos os lados. Fui até a padaria tomar um café, vi que tinha uma Subway na outra esquina, um bar transadinho na outra. Senti uma saudade estranha, mas tive certeza que meu lugar não era aquele ali.
O prédio que morava em Santos na Frei Francisco Sampaio |
Chegando em Belém, no desembarque do aeroporto Val de Cans, me lembrei do filme brasileiro que vi em São Paulo, o Sol do meio dia, um road movie de Eliane Caffé com Chico Diaz e Luiz Vasconcelos, todo rodado no Pará. No cinema eu dava risada vendo a caralhada de conhecidos que aparecia fazendo uma ponta. Ria alto, falava no telefone e reinava absoluto na sala de cinema em que assistia aquele filme sozinho. Até me deu um certo orgulho e saudade de Belém. Sentimento parecido com o que tiver ao ver no aeroporto aquela gente morena, oleosa e bacana.
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