sábado, 24 de setembro de 2011

A música viva de Vic


 
Henrique, um jornalista de Guadalajara, nos falava sobre as drogas do México e de como ele apresentou o Arnaldo Antunes ao Rubem Fonseca em uma feira de livros que ele produz no México. Éramos oito pessoas e havia apenas um carro na saída da Capa Atlântica, onde acabáramos de assistir ao que pode ter sido o melhor e mais surpreendente show da 23 Mercat Música Viva de Vic. Na hora de dividir que iria no carro, eu, Talles e Fernando, um espanhol que nos foi apresentado naquele momento, optamos por ir andando até o outro palco, que ficava há bons 30 minutos andando dali. 

Nas ruas de Vic
 
No caminho, o espanhol nos falava de seu trabalho com distribuição e lançamento de artistas internacionais em terras espanholas. Era dele a distribuição de discos dos Arctic Monkeys, Radiohead e alguns outros nomes não tão indies. Fumando cigarros, passamos em frente ao Jazz Cavas, um dos palcos do festival, que era um pub e uma caverna pequena. Ele viu a programação e disse que achava que aquela banda que estava tocando na hora já havia trabalhado com ele em um outro momento junto com o produtor Steve Albini. A referência era boa, mas optamos por terminar op cigarro e esperá-lo do lado de fora tomando uma cerveja e vendo as muié. Pensamos até em deixar o cara lá, mas aí já seria muita sacanagem. Ele sai e nos diz que a apresentação estava fantástico, e entramos para acompanhá-lo. Só que a surpresa nos tomou de assalto. A dupla era um guitarrista que, naquele momento era ajudado por um rapaz da técnica a colar sua correia com silvertape para que o show continuasse. Vimos quatro músicas. Um baterista vigoroso e um guitarrista barulhento. A dupla se chama Atleta, e é de Barcelona. E aquilo deu um gás tão grande que saímos do Jazz Cavas empolgados fazendo comparações com o Mogwai, só que minimalista e mais enérgico.

A dupla Atleta apavorava na cave experimental
 
Esse foi apenas uma das surpresas que o evento separava para nós que, além de termos a oportunidade de conhecer uma cidade de 30 mil habitantes e tipicamente catalã. Participamos de uma rodada de negócios em que ótimas coisas foram amarradas, com bandas que podem, em breve, dar suas caras aqui. Vou fazer um pequeno resumo dos grupos que mais me chamaram a atenção:

Russian Red
 
Russian Red (Espanha): Era indicação que já haviam me dado na rodada de negócios. O show me surpreendeu pelo charme indie e pela ótima banda que a acompanhava. Achei um pouco de Mazzy Star, só que mais pra cima. Depois, tomando uma cerveja com os produtores de Russian Red, eles me disseram que ela fazia cover de Fade into you, do Mazzy Star, que é muito fã de Mallu Magalhães e que seu disco foi gravado tendo ninguém menos que o Belle & Sebastian de banda de apoio.


Santa Macairo Orkestar
  
Santa Macario Orkestar (França): Acho que em questão de show, de performance ao vivo, o Santa Macairo Oskestar foi o melhor que vi na Espanha. O grupo que tem em sua formação bateria, baixo, piano, trombone, violino, trompete e sax. No som uma mistura de ska, sons balcânicos, fanfarra elétrica, blues de New Orleans e punk - muito mais na atitude, pois a banda não tem nem guitarra. Ao vivo a simpatia e naturalidade dos músicos me lembrou os amigos dos Móveis Coloniais de Acaju, mas ainda melhor.


La iaia
 
La iaia (Espanha): A produtora havia falado comigo naquela tarde e defendeu o som da banda como um Beirut menor. Não gosto do Beirut, mas como ela era uma gata fui ao show. No palco eram três garotos que trocavam de instrumentos entre violões, baixo elétrico, teclados, instrumentos percussivos etc. Teve uma hora que me pareceu uma versão de Blue Monday, do New Order, mas em uma execução folk atípica.


Puerquerama
 
Puerquerama (México): Foi aquele tipo de show que quando vi de longe rolando me aproximei para saber que diabos era aquilo. Seis caras feitos vestidos de vermelho (uns com máscaras de porco) tocando um punk mexicano sem concessões. Os três vocalistas sem camisa. Todos feios. Foi um dos poucos shows que eu vi a moçada pedindo bis e eles voltando ao palco. Se despediram com uma versão de Lust for Life, do Iggy Pop, em bom castellano e ganhando uma salva de aplausos e gritos da platéia depois que um deles soltou um “independenzia a Catallynia!”.

Atleta

Atleta (Espanha): Essa dupla foi a surpresa perdida no meio das vielas de Vic. Um guitarrista cheio de seus efeitos de pedais. Um baterista fora de série. O som tinha ecos de Sonic Youth, Mogwai e várias experimentações noises e post rock. A Atleta está embalada para viagem. São só duas pessoas e muita energia rock.


Los Delincuentes & Tomasito

Los Delincuentes & Tomasito (Espanha): Fui um show para mais de 10 mil pessoas na Plaça Maior, onde aconteciam os shows mais populares abertos ao público. Foi lá que vi Russian Red e La Iaia. E lá que vi também a apresentação de Los Delincuentes & Tomasito. Los Delinquentes são uns seis ou sete caras nos violões e percussões que entoam uma espécie de rumba e tango, mas o tal do Tomasito botava pra fuder. Uma menia à tarde havia me dito que ele era uma espécie de Michael Jackson espanhol. Ela se referiu às danças que, na verdade, não tinham nada a ver com o finado ídolo pop, mas eram engraçadas e levavam o povo a loucura.




quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Olhe ao redor, tá tudo engarrafado

Olhei minha passagem e meu lugar era 26 J. Perguntei pro cara do check in e ele confirmou que era janela sim. Era janela sim, mas todos os outros números, menos o 26, que nesse caso era o que dividia uma sessão de outra dentro do avião. Sabe aquela excessão? Sentei nela. E aí que ficava ao menos no corredor. O velho francês quando me viu pediu para a aeromoça mudar ele de lugar, pois ele tinha “fobia” a sentar no meião. A aeromoça me pediu. Neguei categoricamente. Sentou uma moça de Castanhal ao meu lado. Gente fina, estava indo passar três meses com a prima em Frankfurt. Fora as cotoveladas que ela me dava tentando se ajeitar na desajeitada poltrona foi uma viagem tranqüila. Mas vamos lá, não estou aqui para reclamar da sorte. As coisas estão bem legais e eu cortei o cabelo e estou bem bonito.

No aeroporto de Lisboa encontro o Benjamin Taubkin, que graças às suas experiências anteriores em perder vôo naquele aeroporto, conseguiu fazer com que embarcássemos. Curioso que dessa vez tive uma recepção bem diferente da anterior com os portugueses. Foi patada atrás de patada. Será que eles perderam a paciência em quatro meses? Pode ser a crise, né? É, é a crise.

Lembrei da minha viagem em abril deste ano e do quanto estava ansioso e com um certo medo da viagem ao Velho Mundo. Mas dessa vez foi tudo tão tranqüilo, talvez por que minha preocupação toda tenha ficado em Belém e nessas Seletivas com o show do Otto. E também porque agora é apenas um país e duas cidades.

Já na Espanha, vim em um carro com Taubkin e um motorista gente boa, mas que se estressou com o trânsito na saída de Barcelona. Optamos por deixar o estresse só para ele e tirar uma bela pestana até a cidade. Abria os olhos com pequenos e lindos vilarejos que se acumulavam antes de chegar a Vic. Já na cidade –  pequena, bela e desenvolvida em uma primeira análise - , o motorista deixou Benjamin em um hotel que mais parecia um castelo e me trouxe a um albergue, que mais parecia uma escola norte-americana. Gostei do lugar com uma bela vista da janela (que estou de frente até agora vendo os últimos raios do dia). No albergue, ao menos, estou sozinho no quarto. Ufa! Depois de uma soneca para me recuperar das 25 horas de viagem, vou enfim dar uma banda pela cidade e tentar encontrar o Talles Lopes, presidente da Abrafin que, até onde entendi, está em um outro hotel, diferente do meu e do Benjamin.

Amanhã ou depois mando mais notícias.

Fim de tarde em Vic

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sinto que minha sorte vai mudar



O maior problema de descer ladeira abaixo na rua do azar é que quanto mais se lembra disso, mais demorada fica a fase. Tenho vivido uma série de acontecimentos que deixam qualquer ser humano cabisbaixo, pensando na vida e entornando mais do que o normal. Pois é, além de ficar mais de um mês sem escrever aqui, ainda chego com notícias não tão boas. É um desabafo, mas não é deprê. Gosto de rir do destino, esse sacanão.

Acho que tudo começou com um pedaço de maminha lá em Marabá. No rodízio da churrascaria a bela peça de carne se mostrava sapeca, com um ar de devora-me a qualquer preço. “Mestre, tire essa parte aqui pra mim. Gordura sim, mas só na ponta... beleza, isso”. No que a garfada me trai, o pedaço ao invés de estacionar no meu prato, fez uma desastrosa escala em cima do iPhone. Tá, beleza. Risadas na mesa, iPhone sendo limpado e a maminha, enfim, no prato. Depois o que acontece? A gordura que escorreu pelo auto falante do telefone entupiu suas artérias e deixou a pessoinha lá do outro lado com o volume super baixo. Agora me diz como é que a porra do Steve Jobs não prepara o bicho para uma churracada?

Já em Belém, em uma dessas manhãs de trabalho, eis que aperto o alarme para destravar as portas do carro e percebo que o havia deixado aberto na noite anterior. Lá se foi o som e uns 12 CDs que me acompanhavam naquela semana. Fiz questão de não lembrar os títulos, mas de vez em quando me vem na cabeça um. O ladrão roubou meu boné também. Não me importei muito com o som ou o boné, mas os CDs foram foda. O vagabundo nunca vai saber o que é Neil Young, Cérebro Eletrônico, El Cuarteto de Nos e Manic Street Preachers.

Fora isso tem a desilusão no trabalho, as dificuldades de produção (tudo bem, essas sempre estiveram lá) e os vai e vem da querência. É, Morais Moreira, é nesse vai e vem que a gente se atrapalha. Mas aí tive uma atitude que pode, definitivamente, mudar o rumo das coisas. 

Uma vez alguém em uma mesa de bar apareceu com uma nota de dois reais com a esfinge da república maquiada de Kiss e com o nome da banda logo abaixo. A nota foi parar na minha carteira depois que convenci a pessoa a trocar por outros dois reais ordinários. Coloquei ali na carteira como um amuleto. A nota não me deu sorte em nada, mas também não deu azar. Mas como uma forma de me livrar da zica, passei adiante para o rapaz do estacionamento do meu banco.

Se a coisa melhorar eu começar a ganhar muito dinheiro juro que monto o Kiss Cover de Belém.