Lembro que quando era molequinho assisti Faca de Dois Gumes na TV e fiquei chocado com o climão tenso que o filme me passou, parecido com a sensação de proximidade da violência no impacto de Cidade de Deus. Era uma adaptação de um conto de Fernando Sabino onde um advogado corno arma uma vingança contra sua esposa e o melhor amigo traíra. Foi lá, no começo dos anos 90, que comecei a ver que o cinema brasileiro era uma maneira
legal de se conhecer a realidade brasileira, sua linguagem, particularidades e a violência fascinante. Virei fã. Tempos depois li o conto Alguma coisa urgentemente, de João Gilberto Noll, e me apaixonei pela história – o que me fez ler uma porrada de coisas do Noll e encaixá-lo na prateleira dos meus autores favoritos. Outro dia tive a sorte de assistir Nunca fomos tão felizes, na Globo, que reproduzia com uma fidelidade e licença poética incrível o conto de Noll. Algo digno de um acerto de mão do diretor.
Aluguei Seja o que Deus quiser, uma comédia adolescente inteligente que antecedeu O homem que copiava, de Jorge Furtado. Poderia se dizer que um estaria imitando o estilo do outro, mas não. Ambos fizeram comédias adolescentes com uma linguagem inteligente e reviravoltas dignas de um filme adulto. Seja o que Deus quiser depois posou vistoso na minha prateleira de DVDs.
E foi em Sampa que vi um banner enorme de Nome Próprio, com uma arte belíssima e Leandra Leal nua indefinida na arte imitando pixels de um monitor. Antes de mais nada Nome Próprio é um filme que fala sobre uma geração. E neste sentido o diretor cumpre muito bem o papel. Nunca vi Leandra Leal tão bem em um personagem como na pele de Camila, a moça rebelde, moderninha e desencanada de amores convencionais. Camila alimenta um sonho de se tornar escritora, criando um site (começo da febre de blogs na internet) e despejando seus escritos, lamentos, reflexões, solidões etc. Nome Próprio carrega uma linguagem moderna e a direção de arte capricha em vários momentos.
Assim como o filme de Beto Brant, Cão sem dono (que também é adaptado do romance de um escritor da nova geração, Daniel Galera), Nome Próprio traz o texto de Clarah Averbuck, escritora da mesma geração de Galera. Os dois filmes refletem o momento exato de uma geração, algo que ainda não havia sido feito com tanta propriedade no cinema brasileiro. A diferença é que Cão sem dono é todo adaptado do romance Até o dia em que o cão morreu, de Daniel Galera, onde existe um personagem e situações fictícias. Nome próprio tem seu roteiro construído a partir do livro Máquina de Pinball e dos blogs de Averbuck, com textos auto-referentes que sugerem a dúvida sobre o conteúdo autobiográfico ou ficcional.
Jornalistas adoram trilogias. Mas eu não sei costurar muito bem essas ligações e poderia falar merda. Mas bem que Seja o que Deus quiser e Nome Próprio – apesar de linguagens bem diferentes - poderiam culminar em mais um filme que mostre essa nova geração. Enfim, se não for, Nome Próprio já cumpre esse papel.
NOME PRÓPRIO
Moviecom Castanheira, Sala 04
Projeção digital
Às 14h20(sábado e domingo), 16h40, 19h e 21h25
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