segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Pelas ruas de Nossa Senhora

Esperança, alegria e céu azul


"Vamos tentar acabar com a tentação de se destruir o amor, a família e a esperança". Ao invés de louvores devotos a Nossa Senhora de Nazaré, a rádio cipó da Praça do Relógio sentenciava essas soluções para os dias atuais. Estava andando sozinho pelo centro da cidade na tarde de sábado quando me deparei com esses votos honestos de dias melhores. Era o espírito do Círio que já me abraçava e me fazia absolver aquilo da maneira mais humana e direta que podia.


Pra ver a Santa passar trazendo votos de amor



Sai andando pela travessa João Alfredo em direção ao Boteco das Onze Janelas, onde o casal de amigos Priscilla Brasil e Diogo Soares me esperavam. Círio é época de deixar o carro em casa e sentir a cidade. Priscilla me disse algo que instigou a observação mais atenta ao Círio: “Gosto de sentir o Círio para ter idéias”. Não existe época mais fértil para idéias de quem busca um trabalho autoral em Belém.


A chegada na Sé, por volta das 17h30, me emocionou. Tudo montado para receber a Santa no final da trasladação. A praça linda, sem carros. As pessoas andando de um lado pro outro num ritmo tranqüilo e harmônico. “Olhaê, é cinco real pra acabar!”. Catei cincão da carteira e comprei minha primeira camiseta do Círio de Nazaré em 30 anos (sim, já tive outras que ganhei, mas essa foi comprada). A camisa tinha um tom amarelo de sol irradiante e trazia a silk-screen de Nossa Senhora de Nazaré e algumas frases falando de tradição e fé.


Mais tarde, já acompanhados do Randy, saímos no contra-fluxo pelo Ver-o-Peso em direção à vinda da imagem. No Ver-o-Peso, uma casa de doces aberta. Pais comprando doces para suas crianças que corriam livres por ali, onde normalmente correm trabalhadores com peixes em cima dos ombros. O cartão-postal da cidade recebe um ar mais belo ainda nessa época e, andando na contra-mão pelo meio da rua, se vê aquela região de uma maneira diferente, reconhecendo cada detalhe que soma ainda mais meu encanto por Belém.


A pureza da inocência na chuva de papel picado

Na frente do edifício Manoel Pinto, paramos para esperá-la passar. Passou. Linda e comovente para todos, religiosos e agnósticos. Mesmo com a garganta se recuperando de uma virose violenta, as pernas não me cansaram e caminhei até minha casa, no Umarizal, sentindo pelas ruas a febre de renovação humana que vejo no Círio de Nazaré. Não corro atrás da fé e gosto de pensar que não sou o único, mas outras pessoas que também clamam para que o amor, simplesmente, não seja dinamitado da raça humana.



* Fotos da Renata Rath

Um comentário:

Unknown disse...

Não sou fã do círio em si, mas adoro tudo que nos proporciona. A cidade parece um grande arraial, pessoas caminhando em todas as direções, deixam seus carros em casa e saem olhando a cidade com outros olhos. Aqui pra nós, Belém parece muito mais bonita quando caminhamos por ela sem pressa, olhando os pequenos/grandes prédios antigos/novos.
Renovar fé? Que nada! Renovar meu amor por essa linda cidade.

Beijos,
Renata Rath