segunda-feira, 6 de julho de 2009

Deixe as luzes acesas

Camillo Henrique e Wilson Japa, da banda Turbo


Em 2004 começávamos a dar corpo à idéia de reservar um espaço para bandas autorais em todas as festas da Dançum Se Rasgum Produciones. Nos anos de 2004 e 2005, as melhores bandas de Belém fizeram shows inesquecíveis nas festas quinzenais que promovíamos no Café com Arte. Lembro com carinho da moçada pulando e cantando músicas do Eletrola, Suzana Flag, Stereoscope e Madame Saatan, e todos empolgados com a idéia de que aquela era uma cena emergente que colocaria o rock paraense entre as principais cenas brasileiras – isso até vir o Vlad Cunha e sacramentar que o Pará não tem vocação para o rock e que ele é um zumbi se arrastando pelo esgoto e os caralho. Enfim, era uma época que achávamos que duraria para sempre.

De todas essas bandas, o Eletrola foi a única que realmente teve um fim, mas foi a que definitivamente marcou uma época. A banda era formada pelos irmãos Eliezer e Natanael Andrade, pela baterista Andréia e pelo guitarrista Camillo Henrique, que ao lado do Jayme, é um dos poucos heróis verdadeiros de toda essa cena. Comandados pelo polêmico – mas eficiente - produtor Alex “Corujinha”, a Eletrola rodou o Brasil com a banda tocando em festivais e nas casas de rock mais badaladas do País. Na volta, subitamente, acabaram com a banda, o produtor sumiu, os irmãos Andrade montaram o Johny Rockstar e Camillo Henrique montou o Turbo, a banda verdadeiramente rock que fez um dos shows mais divertidos de muitos que tiveram nas festas da Se Rasgum no Café com Arte.

Começou com uma conversa entre eu, Camillo e Fernando Rosa, em que eu explicava as festas mensais que tem rolado no Café com Arte com o objetivo de resgatar aquela putada rocker de anos atrás. Camillo me cortou: “Não é tão old school assim. Eu sou do tempo que ia para lá quando tinha show de rock pra assistir”. Depois disso, tudo o que me restava a fazer era chamar o Turbo para reviver esse clima. E o trio fez mais do que um show especial. Cheio de participações.


Começaram uma primeira parte acústica com ternos e enfeites de natal primorosos. Depois, já com as guitarras plugadas, iniciaram o showzão. A primeira participação foi da dupla Diego e Eric, da banda Aeroplano, que tocaram uma música da banda Invitro, outra que se dissolveu com o tempo. Depois a participação mais cretina da noite: eu. Subi ao palco com a banda que tem o Wilson, o baixista japonês mais astral de Belém, para tocar a canção “Rockeira”, do Turbo. Depois, Gustavo Rodrigues – meu parceiro na amizade, na Se Rasgum e na banda Presidente Elvis – para tocarmos as músicas “Tom Courtney”, do Yo La Tengo, e “Hash Pipe”, do Weezer. Foi divertidíssimo. Mas o que veio depois viria a ser um momento inesquecível da noite e, arrisco, do ano. Eliezer Andrade subiu ao palco e, junto ao Turbo, tocou três músicas da banda Eletrola.

E mais uma vez tava tudo lá: as pessoas bêbadas pulando e cantando os semi-sucessos “Quem”, “Revel” e “Não olhe pra mim”. E o show terminou com “Fator Yoko”, do Turbo, com um dos microfones na platéia sendo disputado por integrantes das bandas Sincera e Vinil Laranja para ajudar no refrão.

Depois do show, eu e Gustavo resolvemos fazer o convite ao vivo para que o Turbo participasse da programação do 4º Festival Se Rasgum, que ele prontamente declinou dizendo que a vaga deveria ser para bandas novas, que eles não tinham nenhuma novidade e que já haviam tocado em dois festivais. Apesar de eu ter parecido um empresário babaca empolgado com um show de rock, Camillão mostrou que antes de discursos prolixos, e-mails gigantescos, provocações mesquinha, politicagem e puxa-saquismo não fazem uma cena andar, mas sinceridade e a simples vontade de fazer um bom show com sua banda. Por aqui não tem ninguém querendo ser o novo AC/DC, mas não tem nada nem ninguém no mundo que os impeça de tentar.

Chego a quase concordar com meu amigo Vlad sobre esse lance de zumbis se arrastando pelo underground. Só que zumbis de um filme B legal, que todo mundo assiste, se diverte e fica numa boa.

2 comentários:

Hugo N. Góes disse...

Definitivamente, não deveria ler isso. Sempre perco momentos históricos :/ Parabéns pelo trabalho.

despertar disse...

Esse post até me motivou a tentar fazer alguma coisa a mais pela nossa música rock.