terça-feira, 13 de outubro de 2009

Os olhos desgrudando das páginas


Quando comecei a realmente me interessar por literatura devia ter uns 13 anos. Embora meu pai tenha sempre me indicado os livros como o melhor caminho para se aprimorar a escrita e acumular conhecimento, eu, como todo pré-adolescente, achava que meu pai não sabia de nada e que era no cinema que me enganava e nos discos que me iludiam que estava o meu futuro.

Uns cinco mais tarde, depois de já ter experimentado um Machado de Assis aqui e um Salinger ali, vi que naquelas linhas pretas de palavras em páginas brancas e com cheiro de coisa velha havia um universo cheio de possibilidades para se explorar. Meu pai estava certo.

Mergulhei no que achei que seria uma onda legal, sem muitas pretensões e com a idéia fixa de trabalhar os enredos mirabolantes que me vinham à cabeça na linguagem do audiovisual. Eu queria ser um cineasta – e por muito tempo carreguei o apelido de “Marcelo Cineasta”. Ganhei uma filmadora handcan, da JVC, aos 15 anos e filmava tudo o que aparecesse pela frente. Meu alvo favorito eram as bundas expostas ao sol na beira da piscina do condomínio onde morava. Por outro lado, também guardava em cadernos vários escritos escrotos. Outro dia achei um. Era um conto sobre uma mulher que viajava de ônibus e comprava passagens para duas poltronas no fundão porque odiava que sentassem ao seu lado. Uma merda de história. Quer dizer, a idéia era boa, mas minha narrativa carecia de um amadurecimento urgente.

Entrei pro jornalismo e durante a faculdade me viciei em contos. Livros de Rubem Fonseca, Raymond Carver, Julio Cortázar, Marçal Aquino, João Gilberto Noll, Ivan Ângelo, Charles Bukowski e Dalton Trevisan se amontoavam no meu quarto em Santos, numa época de ouro em que eu devorava uma média de dois livros por mês.

Saí da faculdade e passei a trabalhar com música, que é o que venho fazendo direto, paralelo ao jornalismo, desde 2003. Mas cada vez mais acho que esse caminho foi um mero acaso que vem dando certo. O problema todo é que agora virei um escritor, leitor e revisor de releases e blogueiro esporádico daqui dessa porra. Agora, minha média de livros é a de um ou dois por semestre. Uma vergonha, eu sei. E não me conforta saber que estou na frente da média do leitor brasileiro. Problema é do brasileiro que quer ser um tapado, limitado e escrever mal. Temo pelas próximas gerações, que tudo o que lêem são janelas cheias de animações em programas de conversa instantânea na internet. Tenho um irmão de 14 anos que já obriguei a ler ao menos uma revista em quadrinhos inteirinha na minha frente. Era do Garth Ennis e ele gostou. Tenho um sobrinho viciado em Discovery Kids. Meus pais e minha irmã são bons leitores e craques em português. Mas e agora, o que será das nossas crianças?


4 comentários:

Doda Vilhena. disse...

tranquilo amigão, a realidade nunca foi melhor do que essa de hoje.

o bom dos tempos de hoje é que certamente o número de moleques escrevendo é muito maior do que em qualquer outra geração.

da quantidade vem a qualidade, always look on the bright side of life.

Luciana Landim disse...

Através de outros blogs te encontrei e resolvi te ler..
adorei..
parabéns!!
:D
um abraço!

Luize disse...

Pô Marcelo, te contar que tenho épocas de leitura, mas nem são variadas tb. Gosto muito de romance espíritas e, por exemplo, no início desse ano li uns 3, mas também agora travei no 4º livro e não acabo nunca. hasuihuisa...
é tanta coisa pra fazer q acabo q esqueço de pegá-lo e lê-lo.
Mas queria ler mais, mais variedades e uma leitura de qualidade. O q vc sugere?

Anônimo disse...

Eu também to vacilando. A literatura pra mim, ta como um passa tempo. Leio quando to sem fazer nada no trabalho e quando to voltando pra casa no onibus. Perdi completamente o habito de passar horas lendo dentro do meu quarto.