sábado, 21 de maio de 2011

O suicídio de Marte

 
Estávamos na sacada do apartamento: eu, minha mãe, meu sobrinho e uma garota gostosa. E no céu conseguíamos ver o planeta Marte. Estava vermelho, puto da vida, não sei porque havia duas luas no céu dividindo a atenção com ele. “Marte é um planeta vaidoso”, disse para a minha mãe. A garota gostosa riu e me olhou com malícia. Talvez eu fosse sua última chance nessa vida, já que o mundo estaria acabando em algumas horas. Pensei em como finalizá-la de modo que não ficasse feio parecer um pervertido desapegado na frente de minha mãe e meu sobrinho. E enquanto pensava em uma estratégia, eis que Marte desaba do céu e começa a destruir a Cidade Velha, em Belém.

Ouvimos o barulho das explosões distantes e do fogo se alastrando. Marte se suicidou e não sobrou para mais ninguém. Era o fim do mundo bem como o temíamos. E enquanto o planeta kamicaze agia sobre a Amazônia, eu pensava em sair dali pra dar a última transa da Terra. Lembrei daquelas brincadeiras de adolescente, em que perguntavam “se o mundo fosse acabar e tu só pudesses comer uma mulher, tu comia fulana?”. Os exemplos eram sempre usando aquelas garotas das menos cobiçadas. E naquela ocasião eu até que agradeci aos céus pela última bimbada. O céu, por sua vez, não merecia homenagens. Sentimos os tremores e paramos. Deixei a garota e fui ver minha mãe e meu sobrinho. Era uma despedida.

Mas aí eu acordei com o telefonema da Martina, que me salvou do apocalipse e me lembrou da terrível dor de cabeça de ressaca que eu senti naquela manhã do dia 21 de maio, em que eu completei 33 anos. “Melhor estar na cruz do que na pedra, hã?”. Virou minha piada recorrente – mas já parei. Andei até a cozinha, peguei uma água e um comprimido para dor de cabeça. Voltei a dormir e fui acordado umas duas horas depois, dessa vez com o telefonema do Doda com a música da Banda mais hipponga e cabeça da cidade. Filha da puta.

E aí, no gtalk, antes do caloroso parabéns, o Randy me conta essa história:

Puta que pariu, hoje lembrei do meu aniversário de nove anos que foi no centro espírita "Arautos de uma Nova Era". Só tinha laranjada e antes do parabéns rolou uma prece. Pediram até pro Bezerra de Meneses, que é um espírito de luz, me auxiliar na longa caminhada desta vida terrena. O centro era no Rio e fui passar as minhas férias com a vovó Lecy, e eu sabia escrever prece nessa época.

E no final das contas, o Superman me garantiu que o mundo não acabaria hoje. Então, Marte, fica na tua que ninguém tá mexendo contigo.
 
A maré não tava pra peixe



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