sexta-feira, 11 de julho de 2008

Me ajuda! Get my feet back on the ground.



É só o rei.
É só o rei.
Só o Roberto pode me entender.

(River Raid - O Rei)


Estava meio sem grana, mas a noite prometia. Dei uma mais uma pitada no cheque especial, comprei um maço de Parliament e segui para a Lux, boate gay de Belém que, uma quinta-feira por mês, abriga a festa electro-rocker da moçada da Meachuta!, coletivo de produtores e DJs que atrai a nata da juventude moderna e sem precedentes da cidade.

No carro, preocupado com a falta de companhia para adentrar o ambiente queima-filme, dei umas voltas escutando o disco do River Raid, banda pernambucana do início dos anos 90 que não tem nada de mangue-beat. Desci do carro empolgado e consegui entrar na boate acompanhado do casal de amigos Rafael e Suelem, diminuindo as chances de uma queimação de filme gratuita.

Lux é uma boate fora do padrão belenense. Com todo o capricho que um ambiente gay necessita, a boate reza na cartilha e tem desde banheiro unisex até um altar para os mais exibidos rebolarem para o deleite (ou desprazer) de todos. A decoração é ok, de bom gosto, a cerveja sempre estava gelada e a caipirinha terrivelmente doce.

No som, monte de coisa moderna que nunca ouvi falar – o que me confere imediatamente um ar de DJ defasado que fala para outra geração – e a moçadinha estilosa entre 18 e 22 anos cantarolava com devoção algumas. Meninas com corte de cabelo inglês, moleques vestidos de Strokes e vááárias guriazinhas dando uns malhos no meio da pista, deixando a macharada sem fôlego na platéia. Aquela história de “juventude se abraça, se une pra esquecer” aqui já ficou demodê. Juventude se amassa e perde os sentidos sem o menor problema de encarar a imagem da ressaca moral perante o espelho. É o legal da geração internet. O problema é que essa facilidade de informação desnorteia as referências de coisas que se idolatra hoje em dia, sem saber exatamente de onde veio tudo isso.

No palco da boate, um teatro inacreditável de marionetes. Com o mesmo visual, meninos e meninas dançavam freneticamente uma batida eletrônica com os holofotes devidamente virados para eles. Não importava se a bebida havia derrubado um deles no chão do palco, os outros subiam e faziam performances sobre o corpo no local. Nem se o cara que rebolava a bunda com a calça abaixada tinha a cueca manchada. A diversão é o presente e o amanhã é apenas um detalhe insignificante. Impossível não citar The Who novamente: “prefiro morrer antes de envelhecer”.

É aquele papo todo de ficar velho e sentir o peso da mudança nas gerações mais jovens. É uma evolução, talvez, mas ainda não sei se dá para entrar no espírito saudosista da coisa. Depois que a experiência divertidíssima e antropológica acabou, voltei para casa com a sensação de que um novo portal estava se abrindo na minha frente, mas sem a certeza se dá pra se jogar de cabeça. Me ajuda!

2 comentários:

Maurício disse...

nossa, marcelo! já frequento teu blog há um tempo, ele anda nos meus feeds por aqui já tem vários posts e cheguei até a me arriscar comentando num texto antigo.
adorei esse post, descreveu muito bem a loucura que a festa é (ou se torna). essa geração cada vez mais mente aberta é de assustar. por mais que até já esteja nesse meio, demorei pra me acostumar e foi a muita convivência. acho que essa geração não tem mais volta, o mundo já se tornou uma fuzarca sem controle. pra neguinho dar mosh em boate gay escutando música eletrônica tem que ter muita loucura nisso.

abraços

Marcelo Damaso disse...

Pode crer, Maurício. Quero mais festas do Meachuta! Bicho, o mais legal é saber que mais uma festa ganha espaço em Belém e que, dessa forma, o rock está dominando por todos os lados e dando opção nos finais de semana.
Eu acredito nessa geração.