O post it pregado ao lado da cama me lembrava as cinco últimas coisas que tinha que fazer em Montevidéu. Coisas factuais mesmo, nada poético ou fissurado. Já acordei com saudades do apartamentinho na Tacuarembó, entre 18 de Julio e Colônia que eu, por diversas noites embriagado, explicava aos taxistas num espanhol pra lá da Baía do Guajará. O papelzinho amarelo também me lembrava a insônia da noite anterior. Despertado por um livro bom, mijava o tempo todo na madrugada. O frio também me apontou um defeitinho no joelho direito. Reumatismo a caminho. Taquipariu.
A TV do quarto já não havia mais sido ligada nos últimos cinco dias. No começo ela me acompanhava para espantar o silêncio apenas – e me mostrar petardos da televisão uruguaia, confesso -, mas depois resolvi calar o apê em leitura.
Noitizinha empolgante a de ontem. Me deu gás pra voltar. Tenho que concluir meu projeto e já penso que São Paulo não vai me dar sossego para isso.
Caí em algumas ciladas típicas de um forasteiro. Minhas duas grandes mancadas por aqui foram:
1 - Perder o show do El Quarteto de Nós, banda que acabou de lançar Raro, um dos melhores discos uruguaios que estou levando na bagagem. Deixei para comprar o ingresso com três dias de antecedência e já estava esgotado para os dias 9, 10 e 11! El Quarteto de Nós é uma banda com mais de 25 anos de estrada que se encarrega de criticar o modo operandis da classe média de seu país com letras acidas, irônicas e bem humoradas.
No domingo ainda me postei em frente ao Teatro Metro na esperança de ver algum cambista. Nada. Olhei a fila e vi um público meio bunda mole. Voltei para casa tentando me convencer de que não seria tão legal assim por causa daquelas pessoas na fila e que eu já estava de saco cheio de show em teatro.
2 – Perder o clássico uruguaio Nacional x Peñarol. Centenário abrigaria esse jogão e eu me prometi que não perderia. E quando compro o El País de terça-feira passada, 6 de maio, a manchete do caderno de esportes era que os ingressos já estavam esgotados. Ca-ra-lho. No domingo, vi a partida pela TV num restaurante traçando um filé ao molho branco com champignon e batatas cozidas. Menos de cinco minutos e sai um gol do Peñarol. Torcida gritou no restaurante, mas calou rápido. Pensei se era educação ou mais um exemplo de retração. Pasmei quando vi os jogadores comemorando e o técnico do Peñarol fumando um cigarro com uma cara de corno deprimido. Ele parecia o Mário Bortoloto e vestia uma máscara malzona sem dar um sorriso pelo gol de sua equipe. Experiência do caralho que teria sido eu nesse estádio.
No caminho de volta para o apê, dei um arrotinho na Coca Zero e pensei que era melhor curtir aquela ressaquinha deitado e lendo alguma coisa. Já estava ficando mestre na arte de me enganar.
Me mando hoje para Sampa, mas acho que volto mês que vem. Minha missão por aqui não terminou e dói ter que deixar essa cidade. A passagem está comprada e agora encaro uma temporada em Sampa, depois vou ao Festival Bananada 2008, em Goiânia e, depois, ataco de DJ no bar A Obra, de Belo Horizonte. Até dá um certo ânimo em encarar essa maratona toda, mas o coração fica em cacarecos.
A atualização dessa joça continua de San Pablo. Hasta luego!
Um comentário:
belo blog, curti a temática e me identifiquei muito. afinal vivo o mesmo, só que em bs as. abs!
Postar um comentário