terça-feira, 3 de junho de 2008

*The ambition is low



Mais de 25 anos para esclarecer a morte de um dos maiores mitos do rock moderno. Control, do diretor Anton Corbijn entrega ao público um filme bonito e honesto, não só para fãs do Joy Division como para quem gosta de uma boa história de cinema. O filme não tem o papel de justificar o suicídio de Ian, mas contar a história do ponto de vista de uma das maiores vítimas da tragédia, a viúva Deborah Curtis, que escreveu o livro Touching from a distance. A morte de Ian Curtis, na véspera da turnê de sua banda partir para uma turnê nos Estados Unidos, imortalizou suas músicas e tornou sua morte prematura um acontecimento único, criando fãs devotos que ainda carregam a tristeza e as letras altamente pessoais e desabafadoras como um amuleto cult para a incompreensão (será que eu fui claro?).

A película em preto e branco traz uma fotografia bela (especialidade de Corbijn) e ajuda a tornar a adaptação do livro de Deborah ainda mais veemente. Desde que Ian Curtis resolveu se enforcar na sala de sua casa, várias versões foram contadas, mas sem resultar em qualquer conclusão, afinal, como compreender a decisão de um suicida?

Diferente de A festa nunca termina (24 Hours Party People), que narra o nascimento da cena de Manchester sob a ótica do dono da Factory Records e da boate Hacienda, o jornalista Tomy Wilson, Control mostra Ian Curtis como um jovem comum, fã de David Bowie e Lou Reed, apaixonado pela sua primeira namorada – com quem casou muito cedo e teve uma filha, peidando de nervosismo antes do primeiro show, se divertindo com seus parceiros de banda e dividido entre o amor por sua esposa e pela fã belga Annik Honoré. Seu despreparo para cantar seus desabafos mais íntimos e atender aos anseios dos fãs foi o que levou o músico embora (veja bem, isso também não é uma conclusão generalizada). Seus parceiros de banda ficaram em apuros, mas superaram logo em seguida a morte de seu líder com o sucesso do New Order.

Lembro de ter escutado Joy Division aos 16 anos e achar o som algo extremamente tosco mas ao mesmo tempo inovador e atormentado. Me perguntava como um cara de 23 anos poderia se matar e jogar fora uma vida inteira pela frente. Após 14 anos como fã, as respostas parecem ter chegado com o iluminado Control.

Curtis tinha um talento inegável para letras boas, verdadeiras poesias que casavam com o som reto e inaugurador de uma categoria que seus amigos de banda produziram – o baixo de Peter Hook é um dos mais peculiares da história do rock. Control traz como sua carta na manga a contextualização de suas composições com os momentos complicados que Ian Curtis passava. Está tudo lá: a descoberta de sua epilepsia com She’s lost control; a vontade de ficar em paz sem o amor de Debbie e Annik em Isolation; a chamada para a morte em Dead Souls; a revelação de que não amava mais sua esposa com Love Will tear us apart. Cansei de dançar essa música em festas, agora não sei mais se conseguirei. Agora, que venha a explicação sobre Kurt Cobain.



* O texto foi escrito originalmente para minha coluna no site do Ná Figueredo: checa aqui.

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