quarta-feira, 4 de junho de 2008

Pelo amor meia-boca

Quantas oportunidades as pessoas perdem esperando o amor perfeito? Quantos fluídos deixam de trocar? Quantas conversas leves pós-coito deixam de existir? E quantos cigarros apaziguadores deixam de ser apagados (e acesos)? Tudo na eterna, ilusória e irrequieta busca pelo amor perfeito. O segredo para a felicidade é se apegar a um amor meia-boca.

Mandar flores, levar café na cama e ligar só pra dizer “eu te amo” viraram artifícios demodês e que, convenhamos, já não tem mais tanta graça em fazer e receber – igual boquete de camisinha. Casar cedo é suicídio, mas deixar pra mais tarde significa um acumulo de regras que fazem o “amor perfeito” parecer algo ainda mais inalcançável. “Ele é alto demais”, “ela mora longe”, “ele não abre a porta”, “é incapaz de pagar uma conta inteira”, “tem um pau muito grande”, “ela tem estria”, “ele não me liga sempre”. Cada vez mais os pequenos detalhes se tornam um caminho para a solidão.

Tenho escutado constantemente lamúrias que cantam ausências e caprichos que tornam a felicidade a dois uma estrada longa e tortuosa. É claro que a referência de um primeiro amor, perdido no passado, impede que as coisas aconteçam naturalmente, mas a magia não se repete. Aí é que as coisas tombam para o lado errado e, quando você perceber, está só, cuidando de quatro cachorros, três gatos e derramando lágrimas quando vê uma criança brincando com os pais em uma praça.

Se o beijo na boca não desencadear um coração acelerado como aquela lá de trás, se a calcinha não molhar de primeira, se a cueca voltar com poucas placas pra casa, se o hálito precisava de um hortelã, se o filme foi uma merda ou se a espinha na testa quebrou o encanto, relaxe e dê uma segunda chance ao amor meia-boca. Se apegue a quem lhe faça gozar e converse sobre um filme interessante. Isso já está de bom tamanho. De repente, você um belo dia ganha uma cerveja ou um sonho de valsa e isso, sim, pode ser um gesto de amor.

11 comentários:

Anônimo disse...

e o amor meia-boca é muito mais barato. no começo não precisa pagar restaurante caro e nem fingir que curte baitolagem de vinho.

leoaquino disse...

Outra coisa: o amor perfeito oferece um monte de contrapesos inconvenientes: cobranças, reuniões de família e a necessidade de "bater ponto".

adelaide disse...

hum...que seja amor, então. meia boca,fuleira,de quinta,meia sola,pão com ovo...mas tem que ter beijo na boca.

giancarlo rufatto disse...

ok, vou pensar a respeito.

Let Azevedo disse...

Estou te achando muito amargo, Damaso... hehehe
Pra mim, amor meia-boca não é amor, é qualquer coisa diferente disso.

Tati disse...

Hmm, eu queria ter escrito isso...

Marcio Felisardo disse...

Acho muito boa parte dessa ideia. Dar chance ao que vc chama de "amor meia boca" com certeza pode ser o começo do "amor até o talo". rsrsrsrs Existe aquela ideia do amor ser o outro pedaço da laranja, soul mates... etc... Até existe, mas amor não se acha, se transforma. Para amar, precisamos nos apaixonar, e certemente isso é mais consciente do que imaginamos. ;)

Anônimo disse...

Mas isso é meia-boca? Pra mim é perfeito. Fuleiro é não poder rir de bobagens. Nada que é obrigado vale a pena.

Paola De Orte disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marcelo Damaso disse...

Valeuzão aos que leram, gostaram e divulgaram o texto por aí por seus fotologs e blogs.

E valeuzão também aos que não gostaram, mas que separaram um tempinho de seu dia para ler o blog.

Paola, gostei do seu comentário. Só fiquei frustrado de não ter acesso ao seu perfil para conhecer o outro lado: alguém que acredite na imbatível luta pelo amor perfeito.

nai ara disse...

conterrâneo, do jeito que o negócio tá russo, o jeito é se contentar com as meia-boquices da vida. chamam isso de conformismo às vezes, mas eu prefiro pensar que é o mundo que tá perdido mesmo...

gostei muito do texto, mas sabe como é... deprimiu...

beijo e parabéns.